Babás e ataques cardíacos

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Babás e ataques cardiácos

Os dias passam e tirando os cocôs a jato, as madrugadas em claro e o fato de eu parecer ter saído de um episódio de The walking Dead, as coisas pareciam correr bem.

Emma recebeu elogio da pediatra por ter engordado algumas gramas, eu tinha me saído bem na entrevista com o serviço social e por mais estranho que pareça, minha mãe e eu estávamos até nos entendendo. Talvez fosse parte de toda a magia, que a Carolina acreditava rondar o nascimento de uma nova vida, ou peso na consciência pela o abandono afetivo que eles me obrigaram a viver na infância, mas de qualquer forma, eu gostava de tê - la por perto.

- Okay Emma, hora de entrevistar as babás! Está pronta? - Digo a colocando no carrinho quando ouço a campainha tocar.

A primeira candidata parece ter saído de um filme sobre orfanatos sombrios. Ela usa um blazer azul escuro e uma saia lápis, cabelos bem alinhados num coque, postura ereta e olhos azuis, que me destilam um olhar da cabeça aos pés. A convido a entrar e ela dá um sorriso forçado a Emma, retirando imediatamente a sua chupeta e fazendo um discurso sobre como são prejudiciais a saúde bucal das crianças. Quando chego a pergunta cinco, e ela sugere que eu deveria cortar meus cabelos, para disfarçar meus traços nativo-americanos, já a dispenso, afinal, quero uma babá e não um comandante da SS.

A segunda candidata tem uma aparência mais gentil e uma voz suave, parecia perfeita até que:

- Trabalhei por 15 anos com os mesmos patrões, praticamente criei os filhos deles - fala com um certo orgulho.

- Que ótimo, estabilidade é o que procuramos - respondo entusiasmado.

- Sim claro, 15 anos da minha vida dedicado aquelas crianças, aí elas crescem e a querida babá se torna dispensável... - diz já enchendo os olhos de lágrimas.

- Bom você fez seu trabalho bem e é...

- Sim eu fiz, em 15 anos eu tirei férias apenas 3 vezes, limpei a bunda daquelas crianças enquanto eles iam esquiar no Aspen! Fiquei três meses trabalhando sem receber, porquê o sr Thompson havia perdido o emprego, sacrifiquei finais de semana e recitais da minha filha! E pra quê? Para um não precisamos mais do seu serviço?
- Diz a mulher que começou o discurso em pranto e agora parecia enfurecida.

- Quer uma água com açúcar? - Ofereço sem saber o que dizer.

- Água com açucar? Foi o que aquela vaca da sra Thompson me ofereceu quando dispensou! Sabe o que eu devia fazer? Devia entrar na casa deles e encher tudo com gasolina e dar risadas enquanto tudo queima! - diz ela com um olhar assustador, e em seguida respira profundamente e continua com a voz doce. - Então, estou contratada?

- Ah eu ainda tenho duas entrevistas, mas ligamos caso seja selecionada... - digo pausadamente com medo da mulher surtar.

A terceira candidata era jovem e com peitos enormes, e apesar dela não parecer tão assustadora quanto as outras, sabia ainda menos que eu sobre bebês, e aliás tinha teorias piores que as minhas sobre eles.

- Não, bebês não se afogam, eles filtram o ar da água, como os peixes! - diz convicta.

- Ah é? - digo incrédulo no que ouço.

- Sim! Como acha que eles respiram dentro do útero cheio de água, bobinho? Se colocar ela numa piscina, ela sai nadando, vi isso na TV - diz ela com um ar de esperteza.

- Claro como não pensei nisso? - Digo concordando, afinal, eu demoraria horas para explicar sobre cordão umbilical para aquela garota.

Quando ela sai, fecho a porta e olho para Emma que já sabe retribuir olhares.

Minha vida em pequenas Escalas  [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora