[cap03] - Bem vinda a minha vida, Emma

8.4K 715 97
                                    

Bem vinda a minha vida, Emma

Passaram - se dois dias desde o funeral da Carolina e tudo que eu conseguia fazer era me embebedar, olhar nossas fotos e vídeos, chorar até dormir e acordar, para me embebedar de novo.

Tirei o telefone do gancho e deixei a bateria do celular descarregar, pois minha mãe ficava o tempo todo me enchendo o saco, com questões burocráticas e ainda mais sobre a minha decisão a respeito da menina no hospital. Eu ainda não tinha tido coragem de vê - la, quanto mais de decidir sobre o futuro dela.

Acordo com a campainha tocando estridente, deixo o sofá e vou até a porta. Na certa é minha mãe que desistiu de deixar recados na secretária e decidiu vir me chatear pessoalmente.

- Mãe vai embora eu quero ficar sozinho! Me erra! - Digo.

- Noah Stevens Johnson! Abre essa porta agora. Ligaram do hospital, você não foi ver sua filha nenhum dia, vão chamar o serviço social - ela diz irritada e eu decido abrir a porta.

- Entra.

- São dez da manhã e você já está bêbado?

- Não, eu tô de ressaca mãe, a minha noiva tá morta okay? Eu acho que eu tenho direito de tomar um porre pelo menos! - Digo e ela se aproxima de mim, puxa meu rosto e usa os dedos para abrir minhas pálpebras e olhar dentro de meus olhos.

- Eu não usei nada, eu só bebi vodka, whisky e cerveja. E não porque eu não tive vontade, mas porque eu prometi pra Carolina que nunca mais faria aquilo.

- O que vai fazer a respeito da bebê?

- Eu não sei mãe, eu só quero ficar sozinho tá? Ela não vai ficar mais uns dias no hospital, então?

- Acontece que não é só você largar ela no hospital e pronto, tem que ir visitar, conversar com os médicos. Filho, eu sei que não é uma decisão fácil, mas você não tem condições de cuidar dela, olha pra você, esse apartamento! Tudo bagunçado, sujo e você está fumando? Tudo está cheirando a cigarro, é isso que quer pra sua filha? É isso que a Carolina ia querer?

- Não, mas com certeza ela também não ia querer que eu desistisse daquele bebê, ela acreditava em mim mãe, por isso eu me formei, tenho um bom emprego, esse apartamento, ela não me achava um fracassado por que fiz algumas merdas na adolescência. Ela iria me apoiar nisso e não dizer pra mim desistir - retruco.

- Eu não disse que você é um fracassado, eu só quero o melhor pra você! Pensa Noah, seu pai e eu temos o dinheiro que você precisa para abrir a sua oficina, como vai fazer isso com um bebê no colo? E eu sou sua mãe, eu sei muito bem que por você, teriam interrompido a gravidez, que essa loucura, foi ideia da Carolina, se ela tivesse o mínimo de sensatez ainda estaria viva!

- Foi ideia da Carolina sim e sabe por que? Por que ela não era egoísta como eu e você! Ela era boa e seria uma mãe maravilhosa, muito melhor do que você foi! Agora cai fora do meu apartamento, é a minha casa, eu a Carolina compramos e pagamos, sem precisar de um tostão seu. Agora cai fora daqui! Me deixa em paz! - Grito irritado.

Ela me olha de cima a baixo e sai dando passos firmes, eu vou pra varanda, acendo um cigarro enquanto bebo uns goles de vinho. Doce, quase sem álcool, o preferido da Carol, volto pra dentro e encaro uma foto dela sob a estante.

- O que foi? porque tá me olhando assim? Foi você que quebrou nosso acordo. A gente devia ficar velho junto! Eu tinha que achar o seu primeiro fio de cabelo branco, e você deveria lustrar a minha careca, droga! Porque você foi morrer? Sua imbecil! O que eu vou fazer? Me diz o que eu faço?

Mais dias se passaram na mesma maldita vibe, não tomo um banho há dias, há algumas moscas na cozinha, e só tenho saído pra comprar bebidas ou comida congelada. Eu tinha decidido que ia retomar o rumo da minha vida ontem, mas só tinha vodka e batata chips pro café da manhã, então resolvi adiar mais um pouco. Com certeza, minha mãe me achava um fraco, afinal, eu sei que se meu pai morresse, no outro dia ela estaria na firma tocando os negócios.

Minha vida em pequenas Escalas  [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora