Capítulo 19

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Um frio percorre minha espinha e meu coração aperta com as palavras que ouço. Tento disfarçar a tensão que consome meu rosto quando Júlia me encara e esboço um sorriso de canto, mantendo os ouvidos atentos a voz do outro lado.

— Eu não posso fazer isso. — limpo a garganta e meus músculos se contraem mesmo contra minha vontade, parece que vão ser esmagados a qualquer momento por uma máquina de moer.

"É melhor você conseguir, Caíque. Se fugir do plano, vai precisar de um GPS pra conseguir encontrar todas as partes das pessoas que você mais ama. Principalmente da linda morena ao seu lado. Entendeu?"

— Sim! — firmo a voz com seriedade e me remexo na cadeira, desvencilhando de Júlia, que volta a me olhar com preocupação.

Aceno que está tudo bem e caminho alguns passos pra longe da mesa, de modo que minha conversa se torne o mais privada possível.

A voz continua ecoando em meus ouvidos, aperto meus olhos com força a cada informação que entra em minha mente e tudo parece tão absurdo que levo dois segundos para voltar a prestar atenção na pessoa na linha.

"Estamos de acordo?"

Havia malícia no tom, quase uma coerção, o que me fez direcionar o olhar para a mesa, onde observava a descontração da minha mulher com Márcia e a sobrinha.

Dava gosto de ver.

Mas não podia me focar nisso agora.

— Estamos! — exalo com força e esfrego minha nuca com apreensão, desviando meu olhar da mesa.

Está tudo tão pesado que mal consigo respirar.

"Ótimo. Você tem 24 horas pra fazer o combinado. Se atrasar, os caixões ficam por minha conta."

— Quem diabos é você? — meu tom aumenta sem querer e volto a apertar meus olhos, minhas veias queimando sob minha pele de tanto ódio.

"Não se preocupe, logo você vai saber. E, Caíque...? Eu estou vendo você, não banque o esperto"

A ligação se encerra e estou tão chocado que meu corpo solavanca bruscamente num susto quando Júlia tentava rodear minha cintura com os braços.

Não a vi se aproximando.

— Ei! O que houve, Caíque? — seu tom é suave, mas seu olhar demonstra a mesma preocupação quando a olhei alguns segundos atrás.

— Nada, amor. Só me assustei um pouco. — tento manter a calma ao segurar sua mão e carregá-la de volta para a mesa.

— Quem era? Algum problema? — franzo o cenho ao negar com a cabeça, evitando olhá-la.

— Só Rubem, avisando que o quadro da Jéssica continua o mesmo. Nada que possamos mudar. — ela assente ao retorcer os lábios de leve, voltando sua atenção para ajudar a sobrinha a se limpar e suspiro mais uma vez por não ter despertado nela nenhuma desconfiança.

O mesmo não se dá com Márcia que não para de me olhar. Ela sabe que algo está muito errado e diferente de Júlia, não evito deixar isso claro nos meus olhos.

Não quero colocar minha mulher e meu filho nessa situação, mas talvez Márcia seja minha única chance nesse emaranhado que acaba de se desenrolar na minha frente. Conto justamente com isso para que a pessoa que acaba de me ameaçar não descubra.

Do contrário, estamos todos perdidos.

£££

— Tem certeza que está tudo bem? Você está muito estranho desde que recebeu aquele telefonema. — meneio a cabeça em negação para pergunta de Júlia e a abraço com carinho, preciso senti-la ainda mais perto de mim.

De volta ao Passado - Livro 2 Série VoltasOnde histórias criam vida. Descubra agora