Bônus Júlia

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Estar de volta em casa é reconfortante e mal posso conter o sorriso por ter minha menina ao meu lado. Melissa é meu maior tesouro e não deixo de dar a máxima atenção a cada coisa que ela fala.

Márcia apenas sorri e logo a garotinha me puxa pela mão na direção do seu quarto.

Melissa me mostra o convite para sua próxima apresentação de balé e em seguida me mostra um papel onde uma listinha de tarefas aguarda pacientemente para ser cumprida.

— Nossa, Moranguinho! Quanta coisa tem aí nesse papel! Acha que vai dar conta de tudo? — indago provocativa e minha sobrinha assente num semblante muito convicto.

— Claro, tia! Você vai me ajudar, não vai? — solta marota num sorrisinho e remexo em sua franjinha com carinho.

— Vou sim meu anjo. Sempre estarei ao seu lado Mel. — afirmo beijando sua bochecha e seu olhar é de uma ternura interminável. — Vamos almoçar fora? — a menininha me sorri com entusiasmo e rapidamente corre até sua escrivaninha, trazendo seu kit de insulina pra mim.

— Não pode esquecer. — avisa numa careta e assinto numa expressão orgulhosa pelo fato dela estar se adaptando melhor a sua condição de saúde.

— Agora vá escolher uma roupa bem bacana pra gente aproveitar o dia. — peço carinhosamente e logo sou atendida. Sento-me na beira da cama da Mel e suspiro por um segundo antes de tornar a falar. — Ainda não consegui acreditar nessa história maluca sobre o Thomás, sobre o Mauro. Parece loucura, Márcia. — uma ponta de tristeza me invade e Márcia se senta ao meu lado.

— Não se lembra mesmo de nada, Júlia? Qualquer coisa que possa ajudar nas investigações?

— Às vezes alguns flashes aparecem em minha mente, mas não consigo distinguir as coisas entende? Fica tudo embaralhado e minha cabeça dói se tento forçar. O médico disse que pode ser algo passageiro ou simplesmente posso não me lembrar de mais nada. Nunca pensei que Mauro pudesse se deixar levar pela ambição sabe? Parece alguém que nunca conheci. — argumento com pesar e Márcia me fita complacente.

— Ele se deixou levar pela paixão amiga. Fazemos todas as loucuras quando estamos apaixonados. — ela me sorri com malícia e sua fisionomia está repleta de curiosidade.

Conheço bem seu olhar.

— Por que não pergunta logo o que quer saber, Márcia? — reviro os olhos já prevendo o assunto e só não acerto na loto.

— Vai dar uma nova chance pra você e o Caíque não é? — ela sorri com euforia, mas prefiro manter a cautela sobre o que pode acontecer neste jantar, torço a boca numa expressão indecisa. — Ah, não Júlia! Não pode ficar nesse empata de novo. O cara está baixando a guarda, não pode simplesmente fazer doce. — Márcia me repreende e peso suas palavras por um segundo.

— Não é doce, nunca precisei usar desse artifício, você sabe. — exalo de cabeça baixa e confesso o que anda consumindo meu coração. — Estou com medo, Márcia! E se ele ainda não tiver me perdoado? Se eu estiver esperando por um recomeço e Caíque sinalizar apenas com um bom relacionamento em relação a essa criança? Não sei se aguento uma nova rejeição. — solto com dúvida e minha amiga segura minha mão com força num semblante confortador.

— Júlia eu acompanhei toda a saga desse homem para achar o culpado pelo seu atentado. — suspiro num fio de esperança e sem esperar me vejo sorrindo com o relato dela. — Dia e noite, Caíque não fazia mais nada além de correr atrás do delegado ou ficar com você no hospital na espera de você acordar. Ele te ama, Júlia e isso; não vai mudar nunca. — Márcia sorri e a abraço com carinho.

— Obrigada por tudo. — agradeço sincera.

Talvez ela estivesse certa e não podia deixar essa oportunidade de voltar a ser feliz para trás.

Não de novo.

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Seguimos até o restaurante de Márcia e morro de orgulho ao ver minha bonequinha seguindo toda sua nova rotina alimentar sem fazer nenhuma birra.

Após a descoberta da doença foi complicado para que ela se acostumasse, mas ver seu progresso agora é algo que me alivia o coração. Márcia aparece com um bolo de chocolate diet e Melissa se torna a personificação da alegria, tamanho é seu lindo sorriso infantil.

Agradeço minha amiga numa piscadela e nossa tarde não podia ser melhor.

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Uma ansiedade me domina ao voltarmos pra casa e sigo para o banho na iminência de ficar impecável para o jantar com Caíque. Meu coração palpita sem parar, mas a sensação de esperança renovada me toma de assalto e expulso os pensamentos negativos pra longe enquanto me seco.

Visto um vestido longo e florido, confortável o bastante para não marcar minha barriga e com o charme suficiente para deixar qualquer marmanjo babando; embora eu só queira causar esse efeito em um único homem.

Márcia me ajuda com o retoque final e em pouco tempo estou pronta, ansiosa, e com o coração aos pulos. Olho o relógio sobre a cômoda em meu quarto e suspiro tentando ficar calma com o avanço dos minutos que me informam que Caíque está em cima da hora.

— Será que ele teve algum problema, Márcia? Caíque nunca foi de atrasos. — questiono com dúvida numa postura frustrada e a morena verifica o telefone da sala e em seguida seu celular.

— Acho que estamos sem rede, amiga. — solta num lamento e não saber o que está acontecendo com Caíque me aflige.

Será que ele desistiu?

Volto até meu quarto ao dar falta do meu celular, mas o infeliz também se encontra sem sinal e acompanho as horas passarem sem nenhuma notícia dele.

Cansada da espera, eu apenas desisto de me manter acordada.

— Mel vamos para a cama. Já está tarde. — digo baixinho ao pegá-la pela mão e acompanhá-la até seu quarto, tão logo ela adormece, sigo para o meu aposento.

Após alguns minutos, Márcia aparece no ambiente, deixando sua indignação à vista quando me vê.

— Júlia por que está assim? — solta ao franzir o cenho por ter me trocado.

— Márcia ele não vem mais e sinceramente estou cansada, com medo de saber por quê. Então vou apenas tentar dormir e esquecer minhas fantasias juvenis por hoje está bem? — ela se cala diante da minha decisão enquanto acena em concordância antes de fechar a porta e me deixar sozinha.

Estou chateada demais para ouvir qualquer explicação de Caíque no momento e mesmo que ele aparecesse agora seria em vão. Lágrimas escorrem sem querer pelo meu rosto e me esforço para manter meu controle emocional.

Preciso acalmar meus nervos, segurar meu coração e pensar mais em mim, ao invés de criar conjecturas em minha mente que vão acabar me deixando louca a qualquer momento.

Preciso de paz pra ter meu filho e de modo algum vou conseguir isso nesse redemoinho de incertezas que me encontro com Caíque.

Eu preciso agir.

De volta ao Passado - Livro 2 Série VoltasTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon