Capítulo 16

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Adentro o hospital com Jéssica em meus braços e rapidamente recebo a ajuda de Rubem e mais dois enfermeiros. Conto o pouco que sei para meu amigo e ela é levada direto para a sala de cirurgia.

Ainda estou perplexo com a situação e pego meu telefone para ligar pra Júlia, mas ninguém atende. Bufo de irritação e em seguida, ligo para Amaro, contando sobre o ocorrido. Espero que Jéssica saia dessa, mas pelo pouco que pude constatar do seu ferimento, será um verdadeiro milagre.

"Estarei aí em meia hora, Caíque. Até já!"

Amaro avisa ao desligar o telefone e aguardo Rubem retornar com alguma notícia da garota. Ligo novamente pra casa de Júlia, mas parece que o sinal caiu por lá e praguejo por não conseguir falar com minha sardenta.

A essa altura do campeonato deve estar me odiando, achando que fiz desfeita sobre nossa situação.

— Ela perdeu muito sangue Caíque. Não sei se vai conseguir sair dessa. — Rubem avisa assim que sai da sala de cirurgia e passo as mãos em meu rosto, me sinto esgotado. Tanto física quanto mentalmente. — Encontrei isso num dos bolsos. Acho melhor que fique com você. — ele diz me estendendo o pen drive que estava na posse de Jéssica.

Guardo o dispositivo no meu bolso e agradeço meu velho amigo num aperto de mão.

— Preciso voltar pra casa. Amaro está a caminho, não comente com ele sobre isso tudo bem? — sinalizo o pendrive e Rubem me olha torto, mas não me contesta. — Me mantenha informado ok? — peço compassivo e o médico assente num meio sorriso enquanto saio em disparada pra casa de Júlia.

Devo ao menos uma explicação a ela.

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Estaciono na frente da varanda e tão logo saio do carro, a porta da casa se abre, revelando Márcia de braços cruzados e semblante fechado.

Estou mais do que encrencado.

— Perdeu seu tempo junto da oportunidade, Caíque.

— Cadê ela? Preciso me explicar Márcia! — digo com as mãos na cintura, minha garganta seca pela expectativa de encará-la.

— Foi dormir depois do chá de espera. Poxa, Caíque! Ela estava tão feliz, tão linda e você simplesmente evaporou no ar.

— Liguei, mas só dava caixa postal. Estava numa emergência, não pude avisar antes. — tento me justificar e minha amiga desce o batente da varanda ao se aproximar.

— Estávamos sem sinal. Que emergência? — indaga curiosa.

— A irmã de Valerie sofreu um atentado e tive que levá-la ao hospital. Não podia deixá-la morrer na minha frente. — explico a situação e Márcia leva as mãos à boca, totalmente em choque.

— Meu Deus, Caíque! Ela morreu?

— Não! Mas seu estado é crítico. — solto num lamento, puxando o pen drive do meu bolso e mostrando a ela. — Rubem encontrou com ela. Acho que foi por isso que tentaram matá-la.

— Thomas está preso, Caíque. Quem poderia ter feito isso? — balanço a cabeça frustrado e observo-a suspirar num cansaço.

— Já sabe o que tem aí?

— Ainda não. Queria falar com Júlia primeiro. — franzo as sobrancelhas ao olhar na direção da janela do quarto da morena e mesmo observando as luzes acesas, sei que ela não vai querer me receber.

— Ela ficou chateada demais, Caíque. Mas amanhã vocês conversam e se entendem. Vá pra casa e descanse um pouco. Me avise sobre qualquer mudança no quadro ok? — Márcia sugere num sorriso de lado e mesmo contrariado, concordo num aceno.

— Boa noite, Márcia! — solto ao voltar para o carro, desolado por nada ter saído como imaginei.

Antes de entrar no veículo, a voz da morena me chama atenção.

— Tome cuidado, Caíque! Quem está atrás disso não vai sossegar até conseguir. — ela me alerta num tom preocupado e sei que suas palavras fazem o maior sentido.

Volto pra casa com os pensamentos fervendo e o corpo doído devido a todo estresse das últimas horas. Tudo o que necessito é de uma boa noite de descanso.

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Após ter ligado para Amaro e não ter nenhuma informação relevante, ligo para o hospital na iminência de saber sobre o estado de saúde de Jéssica.

Me pergunto quem mais poderia saber sobre o pen drive e não consigo encontrar lógica nesse emaranhado de novos acontecimentos. Parece que o responsável por toda essa confusão está sempre um passo à frente e me sinto doente com o que pode vir pelo caminho.

— Nenhuma novidade então? — indago tomando uma xícara de café enquanto Rubem apenas avisa que o quadro de Jéssica ainda é grave.

"Já foi feito tudo o que era possível Caíque. Agora só nos resta esperar. O ferimento causou muitos danos, quem a feriu sabia que a morte seria quase certa. Se ela sair dessa, será mais um milagre."

— Eu espero que sim. Mais do que nunca preciso de respostas. Algo me diz que essa história ainda não chegou ao fim. — suspiro ao esfregar meus olhos e meu amigo parece em dúvida.

"Está sabendo de algo mais, Caíque?"

— Ainda não sei, Rubem. Mas pretendo descobrir. Obrigado meu amigo. Me deixe a par de tudo ok? — peço antes de desligar e sigo pra sala na intenção de descobrir o que mais essa história toda esconde.

Enquanto Felipe se distrai com um dos seus programas favoritos após seu mingau, ligo o computador para examinar o pen drive e a ansiedade parece me consumir com a iminência do que estou para descobrir.

Abro o ícone de vídeo e a imagem de Thomás surge na tela, dentro de um estacionamento. O horário bate às 22:07. Ele se posiciona debaixo de um carro prateado e após alguns minutos, sai de lá com o que parece ser dois fios grossos. A placa do veículo chama minha atenção: KGF5674.

É o carro de Mauro Luís de Castro.

Quinze minutos se passam até o irmão de Júlia aparecer no quadro ao lado de Eliza. Eles parecem discutir e em um dado momento a mulher estala uma bofetada no rosto do marido, que fica imóvel.

Meu estômago queima por estar acompanhando a cena e sinto uma dificuldade em respirar ao observar Eliza cair no choro. Mauro tenta amparar a mulher, mas ela o empurra com raiva e entra no carro, tomando o volante. Mauro se move rapidamente e consegue ocupar o lado do carona no veículo, não deixando a esposa sozinha.

O carro sai de quadro em disparada e engulo a seco tomando ciência sobre o desfecho de toda a situação daquela noite.

A mesma noite em que o irmão e a cunhada de Júlia morreram.


De volta ao Passado - Livro 2 Série VoltasWhere stories live. Discover now