Capítulo 15

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Melissa corre na direção dos braços abertos da tia numa alegria sem fim, um lindo sorriso emoldurando seu rostinho angelical enquanto a morena aperta a menina com carinho.

A cena imediatamente me remete a escolha feita por Júlia meses atrás e o aperto que sinto dentro do meu coração começa a se desfazer.

É como se o laço de ressentimento, da mágoa, se desmanchasse lentamente e apenas um grande alívio e bem estar se fixasse nele.

— Ela estava em cólicas! — digo sem jeito, acompanhando a interação das duas.

Seus olhos alcançam os meus e ela balbucia com a sobrinha em seu colo. — Obrigada, Caíque!

Finalmente sorrio com o coração aberto.

Júlia se senta com a pequena na cama e a cada nova história contada por Melissa, ela faz uma careta espantada como se não fizesse a mínima idéia do que a menina estava falando, mesmo já sabendo de muitas coisas.

Admiro as duas mulheres que fazem parte da minha vida e me sinto um idiota por ter julgado Júlia pelas suas decisões, mesmo depois dela ter voltado para Timbó.

— Quando volta pra casa, tia Júlia? — indaga manhosa, enquanto a tia alisa os longos fios dela com a ponta dos dedos.

— Amanhã cedo meu anjo.

— Posso dormir aqui com você então? — as duas me olham ao mesmo tempo e aceno em concordância num sorriso.

Elas comemoram numa chuva de cócegas e não leva muito tempo até que as crianças durmam, deixando um clima calmo e amável entre Júlia e eu.

— Não sabe o quanto ela estava ansiosa pra te ver. Ela te ama demais Júlia. — afirmo num semblante compassivo e a morena beija o topo da cabeça da menina, que dorme em seu colo, com carinho.

— Eu também a amo demais, Caíque. Sou capaz de qualquer coisa por ela. — a determinação das suas palavras me acerta como um soco no estômago, a leve tristeza que vejo em seus olhos; me quebra lentamente por dentro.

— Eu sei Júlia! Agora eu sei. — concordo e permanecemos em silêncio até ela pegar no sono.

Contemplo a linda mulher em minha frente na certeza de que o dia seguinte será diferente do que temos vivido até agora.

É somente nisso que quero apostar.

£££

Melissa continuou a tagarelar todo o trajeto do hospital até a casa de Júlia e me perguntei por um momento onde desligava o botão dela. Ela não parou de falar desde que saímos de lá e sorri pelo tanto de energia que a pequena tinha.

Estaciono o carro e Márcia recepciona a amiga com um abraço caloroso, enquanto pega o Felipe pra mim. Elas seguem com as crianças casa adentro e pego as poucas coisas de Júlia no carro, seguindo-as em seguida.

Júlia demonstra toda a alegria de estar de volta em casa e Janete aparece para cumprimentá-la num abraço sem jeito. Aproveito que está tudo nos eixos e interrompo a breve animação delas por um segundo.

— Meninas! Preciso voltar ao trabalho. — meus olhos recaem sobre minha sardentinha e hesito por um instante sobre o que pretendo fazer, no entanto, não consigo esperar mais nada. — Júlia! Será que a gente podia conversar mais tarde? Talvez, jantar fora? — a surpresa está estampada em sua face e o medo dela rejeitar meu convite me atormenta fortemente nesse momento.

Ela ainda parece sem palavras e engulo a seco na espera da sua resposta, até que Márcia dá um beliscão nela, chamando-a para a realidade.

— Claro, Caíque! — ela vacila, mas logo seu tom se torna firme. — Tudo bem. Que horas? — pergunta num suspiro e olho o relógio num movimento automático.

— Às nove? — inquiro indeciso e ela assente num sorriso de lado.

Meu coração se alegra e me despeço delas com o ânimo renovado. Essa é minha grande chance de colocar as coisas nos eixos e não vou deixar nada me atrapalhar.

£££

Trabalho na maior ansiedade que as horas passem, e acho que nunca estive tão bem humorado em anos. É claro que nunca destratei nenhum paciente, mesmo nos meus piores dias, e eles não foram poucos. Mas hoje sinto que estou diante de um novo recomeço e não tenho a mínima intenção de desperdiçá-la de novo.

Bato meu ponto na saída do meu expediente e uma expectativa boa me acompanha no caminho de volta pra casa. Coloco minha lista de mp3 pra rodar no rádio e em pouco tempo, tenho a playlist perfeita para nossa noite.

Paro na única loja de conveniência da cidade e sigo até a sessão de flores, para montar um lindo buquê. Tudo para que nossa noite seja especial.

Sigo na direção do carro e ligo para um restaurante chique no centro da cidade, reservando uma mesa para jantar. Tudo parece caminhar bem, mas antes que eu abra a porta do veículo, sou surpreendido por uma silhueta no estacionamento mal iluminado.

— Preciso de ajuda Caíque! — Jéssica fala com dificuldade e embora seu semblante seja de pavor não encontro nada de anormal ao redor de onde estamos.

— O que houve Jéssica? — indago apreensivo e só então reparo na enorme mancha de sangue na altura do seu abdômen.

Ela não me responde e em segundos seu corpo tomba na direção do meu. Ela desmaia e a única certeza que tenho é que Jéssica acaba de sofrer um atentado.

De volta ao Passado - Livro 2 Série VoltasWhere stories live. Discover now