Capítulo 14

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Todo o temor, a angústia e o medo em meu coração simplesmente desaparecem durante esse momento. Esse é o efeito que a quentura dos beijos de Júlia tem em mim e adoraria me perder neles pra sempre. Mas ainda há uma fenda escondida em meu peito e sei que enquanto ela não for fechada, não haverá uma solução pra nós dois.

Ainda estou ofegante quando nos desgrudamos e a ternura do olhar dela me deixa indeciso de como reagir. Como se supera a desconfiança, a decepção de uma hora pra outra? Não sei dizer. É por isso que suas palavras fazem o chão ruir sob meus pés.

— Ansiei por esse momento todos os dias Caíque. — engulo a seco ao fitá-la e antes que eu diga alguma coisa, a enfermeira adentra no quarto para dosar sua medicação. Afasto-me tentando acalmar meus nervos e travo uma luta interna contra tudo o que já senti e ainda continuo sentindo por ela.

— Está tudo certo? — indago para a enfermeira sem fitar minha sardenta.

— Não se preocupe, ela estará fora daqui logo, logo — aceno em concordância, mas sei que os olhos da morena não saem de mim.

Parece que vou sufocar a qualquer momento.

— Caíque? — ela me chama assim que a enfermeira se vai e mal consigo encará-la.

— Olha Júlia! O que mais importa nesse momento é que você e nosso filho estão bem ok? — sei que estou sendo ríspido demais, mas não me sinto preparado para tentar novamente.

Não agora.

Seu semblante endurece em questão de segundos e vejo a velha Júlia de volta.

— É só por isso que está aqui? Pelo bebê?

— Você sabe o porquê Júlia. Mas não crie expectativas. Não sei se consigo mais. — minha voz quebra uma nota e ela sorri transtornada.

— Então esse beijo não significou nada? — engulo a seco com o coração apertado pela dúvida. — Eu senti amor Caíque. O seu amor por mim — diz serena. — Isso não conta?

— Conta quando existe confiança entre duas pessoas. O que não é o nosso caso Júlia. — concluo seco, enquanto observo seu esforço para engolir o choro.

— Me faz um favor Caíque. — seus olhos se apertam com força, sua respiração espaçada — Me deixa sozinha. — fito-a por mais alguns segundos, em seguida atendo seu pedido ao sair do quarto.

Passo as mãos nervosamente sobre meus cabelos e um nó em minha garganta ameaça me estrangular. Não dá pra passar por cima de tudo se ainda não arrumei meu coração. Por hora só quero mantê-la em segurança junto do meu filho. Qualquer pendência entre nós pode ficar pra depois.

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Acordo com o barulho de algo sendo arrastado e a apreensão me domina ao não encontrar Júlia no quarto. Não sei como fui dormir ali, mas isso é o que menos importa agora.

— Com licença! Sabe me informar sobre a paciente que estava aqui nesse quarto? — indago para a menina da limpeza ao esfregar os olhos e antes que ela me responda suspiro de alívio ao acompanhar minha sardenta entrar no quarto num largo sorriso junto de Rubem.

Ela passa por mim sem me fitar e meu amigo explica o que está acontecendo.

— Ainda bem que acordou. Nossa menina já pode ir pra enfermaria.

— Já posso ir pra casa Doutor, mas não vou contrariá-lo. — Júlia o retruca divertidamente e coço minha nuca de leve, enquanto ela se senta na beirada da cama.

— Tem certeza disso Rubem?

— Os exames não mostraram nenhuma alteração. Ela está fisicamente bem. Só vai ficar mais uns dias em observação por conta de alguma eventualidade Caíque. Precaução nunca foi demais. — ele avisa e não demora pra Márcia aparecer no quarto.

De volta ao Passado - Livro 2 Série VoltasWhere stories live. Discover now