Capítulo 44 - Uma despedida e um reencontro.

97 12 5
                                    

Eu escolhi usar um vestido vermelho simples com mangas finas e um tecido leve. Deixei meu cabelo solto e levei um lenço para enxurgar minhas lágrimas. Ele arrastava sua mala com rodas pela calçada da estação em silêncio, mesmo que a estação de barcos seja um lugar bem barulhento. Eu não gostava do silêncio dele, queria que ele me dissesse pelo mesmo se ia voltar... Ou se nunca nem me visitaria.
Paramos perto da grade de proteção observando um barco que parecia um navio particular que sua mãe havia alugado. Nós mantemos distância dela enquanto resolvia os negócios das passagens. Estava ventando demais, mas o mar estava calmo, o dia era cinza e sem graça como se combinasse com nossa tristeza. Pouco tempo que nos conhecemos e já ia perde-lo assim... Por uma vontade de seus pais de quererem ele ajudando nos assunto da família e da instituição de seu pai.
-eu nunca vou esquecer você...
Ele disse no meu ouvido me dando um abraço apertado e demorado. Eu já estava chorando, e não conseguia aceitar que ele estava indo embora da minha vida. Esse ser perfeito indo para tão longe de mim. Eu o perderia com certeza... Ele conheceria alguém melhor... Se casaria talvez. Tivesse filhos? E eu aqui me iludindo pensando que um dia ele voltaria. Era tão difícil de aceitar.
Quando seu barco/navio estava longe, eu já tinha me acalmado e parado de chorar. A neblina sobre o mar o cobriu completamente, eu sabia que já era hora de ir e seguir minha vida. Mas eu queria ficar mais um pouco ainda me sentindo perto dele. Mesmo que seja mil metros, ou talvez milhões agora que já estava até escurecendo.
Olhei para trás e as luzes da estação já estavam acessas. As pessoas já estavam se retirando indo para suas casas, e eu tentei fazer o mesmo com ele no meu pensamento. Eu sabia que não seria fácil esquecer alguém como ele. Mas o jeito mais simples que eu conseguia pensar, era ir para casa, comer algo e talvez voltar para floresta que é meu lugar.
Não adiantava ir pensando nele se eu tinha o objetivo de tentar esquece-lo. Eu tinha que ser forte e tentar pensar em outra coisa para distrair minha mente.
Como em todas as coisas que já vivi, que já tive que superar. Como o gato por quem me apaixonei e que agora nem sei por onde anda. Eu acho que assim como esqueci ele, poderia esquecer Robert... Que foi mil vezes melhor do que ele, que me tratou mil vezes melhor do que ele e que mesmo que me amasse como sua irmã falecida, pelo menos ele me amou de verdade. Não me traiu como ele fez.

_________________

Quando já era de noite, eu estava vagando pela floresta depois de ter fechado sua casa e ter colocado tudo no lugar como estava antes. Eu trouxe comigo aquela blusa que ele puxou da minha mão naquela hora, eu queria ter algo para me lembrar dele. Mesmo com a promessa de esquece-lo.
E eu estava sentindo uma coisa estranha a medida que me aprofundava ainda mais para dentro da floresta que ficava mais densa ainda. Na minha cabeça eu estava sendo perseguida por alguém perigoso, mas tinha certeza que era só minha imaginação mesmo. Porque alguém me seguiria? Eu devo estar desacostumada a floresta por sentir essas coisas. Mas não conseguia ignorar isso... Porque estava sentindo medo agora? Porque sentia vontade de correr dessa coisa me perseguindo? Eu estava ficando paranóica... Não tem nada me seguindo. Fica calma Leah.
-ha é você de novo
Eu ignorei porque pensei que fosse da minha cabeça, então eu continuei andando e não liguei para a voz. Era estranho porque era parecida com a voz daquele gato. Seria possível ele está por aí agora?
-ei loba? Eu falei com você
Algo passou do meu lado e ficou parado na minha frente, eu comecei olhando aquilo de baixo para cima ainda calma. Pela estrutura corporal, era um garoto, e usava calça comprida preta e uma blusa de mangas também preta. Eu vi algo balançando atrás de suas pernas e acho que era seu rabo. Mas não era parecido com os dos lobos, era uma cauda felina. Então eu resolvi subir os olhos até o rosto daquele garoto felino. Até que eu de repente reconheci... Era o gato. Estava parado bem ali na minha frente. Ha... Minha cabeça não vai me enganar de novo.
-me deixa em paz... Você é uma alucinação
Eu falei calma passando do seu lado tranquilamente seguindo meu caminho. Mas ele agarrou meu braço e me fez girar até encarar seu rosto de perto refletido pela luz da lua que parecia ter focado todo seu brilho no seu rosto. Era igual... Parecia real. Então quando eu percebi que ele era de verdade, eu congelei e entrei em transe.
-você devia estar no seu colégio, oque aconteceu? Foi expulsa?
Eu continuei o encarando com os olhos arregalados sem conseguir me mover ou dizer alguma coisa. Uma voz na minha cabeça havia gritado para mim ir abraçando ele de uma vez e dizendo que senti sua falta todos os dias que passei sem vê-lo, e essa voz talvez seja minha loba ainda infantil e boba dentro de mim. Mas era eu quem tomava as decisões, então eu abaixei meu braço fazendo ele me soltar e depois me distanciei um passo dele o encarando com cuidado tentando conter aquela vontade idiota.
-você me traiu... Me entregou para aquele pessoal, mas se não fosse você, eu não teria conhecido uma pessoa muito especial pra mim que infelizmente teve que viajar para outro lugar. Então eu te agradeço e te odeio por ter feito isso mas agora por favor... Me deixe em paz que eu faço o mesmo com você
Eu estava calma para minha própria surpresa, eu conseguir fazer aquela voz calar a boca e me virei de costas para ele continuando meu caminho com passos lentos. Mas assim que sentir seu braço envolver minha cintura, eu não conseguir mais dizer não para aquela voz que ainda insistia com todas as suas forças pedindo que eu pelo menos desse um abraço nele. Eu fiquei com as mãos nos seus ombros tentando me afastar sem a menor vontade de sair de perto dele. Ela tinha vencido... Eu me rendi e o abracei com força deixando aquela blusa cair no chão atrás dele.

Pequena Loba curiosa.Where stories live. Discover now