Capítulo 4 - Meia Irmã.

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Me apoiei na beira da janela do lado de fora da cabana. Era o único jeito de observa-lo sem fazer ele se irritar de novo, fiquei um pouco triste por ele ter batido a porta na minha cara mas pelo menos não me mandou ir embora mais uma vez. Ele estava arrumando suas coisas sentado no chão perto da lareira, era uma cabana bem bonita apesar de estar abandonada. Tinha uma cama simples de palha, um fogão a lenha e um armário de madeira. Eu tinha certeza que não era a primeira vez que ele esteve aqui.
Depois de meia hora, ele resolveu dormir colocando um pano em cima dos olhos. A única coisa que fazia barulho lá dentro era a madeira estalando na lareira que estava se apagando. Eu queria poder entrar, mas a porta tinha trancas fortes, então decidir deixar ele em paz por pelo menos essa noite.
Aproveitei que não tinha sono durante a noite e dei um passeio pela praia distraída em pensamentos banais tentando me decidir se deixava ele seguir sua vida sem mim ou se continuava o atormentando. É claro que eu não quero deixá-lo... Mas também ele não me suporta.
-oi
Escutei uma voz soando bem em cima do meu ombro, sentir um arrepio correr pelo meu corpo fazendo todos os meus pelos ficarem em pé. Me virei quase de olhos fechados temendo ver quem esperava. Mas antes que pudesse começar a tremer de medo, ela me abraçou e eu sentir cada osso do meu corpo sendo esmagado com o aperto dela. Quando nos afastamos, ela colocou um dedo embaixo do queixo e parecia me analisar.
-nunca foi de usar roupas né maninha?
Ela sorriu exibindo os diversos pedaços de pano que escondia metade do seu corpo. Minha meia irmã por sermos da mesma mãe com pais diferentes, ela era mais alta e mais velha do que eu. Tinha cabelos azuis e um rosto que poderia enganar qualquer um de pensar que ela era uma boa loba assim como eu. Ela me visitava todos os anos mesmo sabendo que eu não gostava dela por ter me abandonado na cesta que fomos deixadas quando nossa mãe achou que poderíamos ser felizes sem ela para cuidar de nós. Mesmo com tudo que passamos... Eu a amava.
-ainda anda perseguindo aquele gato? Ou você resolveu crescer?
Seu tom era cruel e sarcástico me obrigando a dizer não com a cabeça olhando pra baixo tímida. Ela sabia que isso era meu ponto fraco então riu e passou seu braço por cima do meu e me puxou para andarmos pela praia. Eu sempre fui a mais fraca e menos corajosa... Ela sempre tirou sarro de mim por isso.
-espero que não se importe, mas eu trouxe o meu amigo, o lobo
Olhei para ela com os olhos arregalados sem conseguir esconder minha irritação e minha surpresa. O lobo?
-fique tranquila que ele foi fazer outra coisa aqui, ele me implorou pra vir comigo ver você de novo
Eu comecei a andar de um lado para o outro roendo minhas unhas nervosa com essa notícia, esse imbecil era meu amigo de infância, desde que éramos crianças sempre fomos melhores amigos, até nossa adolescência que ele começou a entender a amizade com algo a mais. Claro que eu não queria, então não apareci no encontro que disse a ele que iria, talvez esse seja um dos motivos pra ele ter ido embora dessa região da floresta com minha irmã. Eles só eram amigos por causa que ela ajudava ele a descobrir mais sobre mim e tentar se aproximar de mim. Está tudo perdido agora que fiquei sabendo que ele voltou, ele pode tá bravo, magoado, muito irritado comigo. Porquê essa louca o trouxe junto?
-se ele me encontrar eu mato você
Ameacei tentando fazer ela entender que eu estava falando sério desa vez, ela já me deixou sozinha com ele e quase não conseguir fugir a tempo. Nós duas já tentamos nos matar uma vez por causa disso, é claro que pode acontecer de novo.
-fica tranquila que eu já cuidei disso
-oque você fez?
-disse a ele pra ficar longe de você
Puxei uma mecha do seu cabelo derrubando ela no chão mas a única coisa que conseguir com isso foi seu riso. Falou com ele? Que ótimo, com certeza adiantou muito.
-é sério... Você vai embora amanhã e vai levar esse idiota pra longe de mim!
-mas acabei de chegar pra visitar minha irmãzinha
Soltei seu cabelo e puxei ela pelo braço para se levantar. Nos encaramos por um tempo e depois eu pensei um pouco sobre isso, apesar de tudo ela é minha irmã, não posso mandá-la embora por ter trazido alguém que eu não suporto. Suspirei e a abracei colocando minha cabeça no seu ombro fazendo carinho no seu cabelo longo com minha outra mão, eu sempre fui tão fraca pra perdoar tudo de ruim que ela fazia, não conseguia mudar.
-amanhã vamos nos divertir um pouco, vou esperar você aqui de tarde
Nos separamos e eu sorri concordando realmente um pouco menos estressada com ela. Depois nos despedimos e ela correu pela praia em sua forma de loba. Olhei para o céu quando perdi ela de vista, a lua estava bem alta, já era madrugada. Geralmente era a hora que eu costumava dormir depois de ter ido na caverna do gatinho depois de passar várias horas o admirando.

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