Capítulo 11 - Segundo dia chato no campo.

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Lobo me levou até uma sala pequena onde encontrei uma senhora alegre que usava óculos e era muito atrapalhada com seus papéis em cima da sua mesa. Eu me sentei e esperei ela se organizar, e depois de alguns longos segundos, ela começou a fazer várias perguntas sobre mim enquanto anotava tudo em uma prancheta. Lobo me ajudou um pouco falando sobre minha antiga família e meus parentes que nem sabia que existia, a maior parte do tempo fiquei em silêncio e deixei tudo com ele.
Até que foi rápido essa sessão de perguntas que me ajudou a descobrir mais sobre mim mesma, também descobrir que lobo sabia muito mais de mim do que eu mesma.
Ele me convidou para um passeio no campo e eu aceitei um pouco mais animada em ter que suportar mais um dia nesse lugar. Nós não falamos muito durante o passeio, mas sentir o cheiro da grama me fez bem, mas queria poder sair correndo e pular a grande muralha com cerca elétrica para fugir daqui.
Resolvi me sentar embaixo de uma árvore e ficar observando o prédio de longe, os lobos parecem tão felizes aqui. Será que eles não se sentem presos aqui? Sem poder viver como lobos de verdade?
-você tá pensando no seu amigo gato?
Ele me perguntou se sentando bem devagar do meu lado como se tivesse com medo de mim. Analisei sua expressão antes de responder e vi que ele só estava curioso. Então suspirei e disse sim com a cabeça brincando com a grama caindo em pensamentos depressivos de novo. Só queria poder voltar a vê-lo mais uma vez.
-sinto muito, mas tem muitos aqui com quem pode fazer amizades
-obrigado lobo, mas não quero morar aqui, pra mim é como estar presa
Disse sem esconder a tristeza na minha voz ainda olhando para grama. Eu agora sentia um peso em cima de mim, não sabia como controlar minha vontade de poder me transformar e sair correndo. Era uma coisa que eu fazia na floresta para caçar, nem isso poderia fazer aqui.
-não é tão ruim assim, mas se você continuar assim, não vai conseguir ver como é legal aqui
Eu tentava entender porque ele tanto tentava me animar, mas eu o agradecia por isso, então dei um sorriso a ele e recebi outro em troca. Infelizmente eu queria poder vê-lo como meu amigo de infância de novo, mas agora ele inventou isso e toda vez que tento ser legal com ele, ele acaba entendendo errado e no final tentava me beijar como está fazendo agora. Já era uma reação normal minha me afastar e ignorar seu riso infantil insistente, me virei para o outro lado e encarei o mar verde de grama alta do outro lado. Era um campo bem grande, tinha vontade de me transformar e brincar um pouco pra esquecer minhas preocupações.
-quer correr um pouco?
Olhei pra ele que estava sorrindo com um brilho nos olhos ainda com uma expressão infantil no rosto. Mas eu retribuir o olhar de uma criança animada e comecei a tirar todos os panos do meu corpo e pulei para um impulso que facilitava minha transformação.
Enquanto eu corria pelo campo, eu dava gargalhadas junto com ele atrás de mim também na sua forma de lobo. Ele era bem mais alto do que eu nessa forma, também tinha pelos mais volumosos e de vez em quando eu reparava na sua cauda que tinha uma ponta branca, e as vezes não, eu nunca sabia o motivo, mas nunca me arrisquei a perguntar. Olhei pra frente de novo e comecei a fazer zigue-zague me divertindo feito uma filhote. Mas quando me virei para trás, percebi que ele estava correndo agora mais rápido e trazia na sua boca meu vestido, não entendi sua expressão preocupada de repente. A pouco segundos estávamos nos divertindo e agora ele parece temer algo.
Foi aí que eu esbarrei em alguém e acabei caindo sentada parando entre as pernas dianteiras de lobo. Ele jogou meu vestido sobre meu corpo e gemeu olhando para o alguém que eu havia esbarrado.
-oque estão fazendo? Não é permitido esse tipo de coisa aqui no campo!
Era um senhor vestindo um paletó que agora estava com a marca da minha pata, ele estava muito bravo segurando nas suas mãos um tipo de pasta amarela que a sacudia enquanto resmungava sobre meu comportamento no campo. Até que me cansei e voltei ao normal vestindo meu vestido rápido, depois lobo bateu nas minhas costas com o focinho gelado e depois se virou para que eu subisse nas suas costas. Fiz isso só para fugir do moço que ainda resmungava lá atrás.
Fomos para bem longe e só paramos atrás do muro do colégio, ele me ajudou a descer e também voltou a sua forma normal vestindo sua calça que havia trago na sua boca também.

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Ficamos escondidos até de noite, quando todos os alunos haviam entrado e o campo finalmente estava deserto para nós saímos sem ser vistos por ninguém. Andamos silenciosamente até a entrada para o refeitório passando por todos sem chamar tanta atenção. O corredor dos quartos estava vazio, então lobo se despediu de mim e mandou que eu não fizesse aquilo de novo para não causar uma primeira má impressão. Eu fiz uma careta pra ele antes de entrar no meu quarto e tranquei a porta com medo de alguma coisa.
Me joguei na cama um pouco cansada demais pra trocar de roupa, arrumei meu travesseiro e sentir o livro grosso embaixo dele me lembrando na hora do garoto da biblioteca. Comecei a folhear as páginas sem sono mas cansada, não sabia se ia na biblioteca ou se ficava aqui esperando dá meia noite.
Cansei de pensar e sair do quarto com o livro na mão indo em direção a biblioteca que parecia bem mais longe quando eu andava devagar sem fazer barulho. Eu só queria passar meu tempo e conversar com alguém, talvez ele seja meu primeiro amigo aqui e não quero desperdiçar essa chance. Nunca tive um amigo, talvez seja boa nisso, ou talvez péssima. Acho que devo começar a ler um pouco para falar direito e nunca mais ser corrigida por lobo.

Pequena Loba curiosa.Where stories live. Discover now