Capítulo 28 - Sem respostas.

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Claro que eu sabia que alguma hora ele sairia de lá, então como eu era infantil e não conseguia pensar nas minhas ações antes de seguir a primeira coisa me vinha na cabeça, eu fiquei esperando-o escondida na floresta em um lugar que me dava a visão da sua casa. E não demorou muito pra ele sair de lá com sua mochila de novo parecendo despreocupado e distraído enquanto fechava a porta e caminhava pela praia olhando alguma coisa em suas mãos. Que idiota... Eu tenho que ir falar com ele.
Sai da floresta e em silêncio eu me aproximei da praia ficando bem atrás dele, mas tomando distância querendo esperar o momento certo.
-ei idiota!
Chamei alto andando mais rápido para chegar até ele, eu não esperava que ele se espantasse e se afastasse de mim. Mas eu estava brava com ele e continuei me aproximando ainda mais querendo respostas.
-oque você quer? Eu falei pra você sumir!
Ele levantou suas mãos andando de costas ainda fugindo de mim. Parecia nervoso e com medo mas eu não ia desistir de conseguir minhas respostas.
-eu não ia sumir depois de tudo que aconteceu ontem! Oque deu em você?
Perguntei mais alto ainda parando na sua frente o encarando irritada, mas ele continuou se afastando e do nada se virou e começou a correr pela praia feito um covarde. Por um momento eu achei isso engraçado, até perceber que ele estava fugindo literalmente de mim. Então eu corri também e dessa vez conseguir acalça-lo e agarrei sua mochila enterrando meus pés na areia para frear. Fiz ele se virar de frente pra mim e segurei seu braço caso ele pense em fugir de novo.
-anda! Me explica que merda deu em você ontem, porque você nunca faria aquilo se não sente nada por mim... Você disse na minha cara que não gosta de mim... E agora eu quero respostas porque não conseguir entender aquilo!
Apertei seu braço ainda mais segurando a vontade de chorar. Ele não me respondeu, apenas ficou em silêncio olhando pro chão com as orelhas abaixadas. Só tinha o barulho da nossa respiração ofegante e das ondas da praia, eu não conseguia esperar ele pensar no que me responder.
-eu não sei...
Ele não me olhou pra dizer isso, ficou em silêncio de novo e eu me perguntava porquê ele parecia tão indefeso agora, tão vulnerável aqui comigo segurando seu braço. Ele sempre me dizia coisas ignorantes e agora não quer falar nada sobre aquilo.
-não sabe não? Então tá... Vou esperar você ter algo pra me dizer. Mas e agora? Pra onde você está indo?
Usei agora outro tom de voz soltando seu braço fingindo uma expressão tranquila no meu rosto. Ele me olhou com medo massageando seu braço e depois olhando para as montanhas novamente.
-eu... Vou visitar a casa dos meus pais
Respondeu se virando e abaixando a cabeça de novo enquanto andava na direção da floresta. Eu fiquei do seu lado esperando ele me falar mais sobre isso pra tentar fazer ele ficar mais a vontade comigo e esquecer aquilo por enquanto.
-lá é uma mansão abandonada... Porque eles já morreram. Fica perto de um penhasco de frente para o mar, era onde minha mãe morava, a casa era dela, eu não sei muito sobre meu pai porque ela nunca me contou sobre. Mas eu só não entendi porque ela me abandonou e sumiu da minha vida
Ele ainda parecia nervoso de novo passando a mão na nuca e por dentro da gola da sua blusa preta de mangas compridas. Eu fiquei um pouco mais animada pra saber como era essa mansão na beira de um penhasco, parecia loucura construir uma mansão num lugar assim. Eu não entendo os gatos. Principalmente os que preferem não me explicar sobre um beijo inesperado na noite passada.
-como está sua costa?
Perguntei para quebrar o silêncio olhando pra ele ainda nervoso. Mas ele não me respondeu outra vez, então eu o puxei pela blusa e levantei ela para olhar suas costas que já estavam melhores.
-ainda coça?
-não
Então porque ele não para de passar a mão lá?
-então para de passar a mão se não vai ficar vermelho de novo
Abaixei sua blusa ficando irritada de novo. Eu sabia que não queria que ele me respondesse a força sobre aquilo, mas também tenho que parar de fazer isso com ele. Então concluir que eu vou perguntar só mais tarde quando ele não estiver mais tenso perto de mim.
-essa mansão aí é muito longe?
Mais uma vez tentei quebrar o silêncio olhando pra ele de novo. Mas ele evitava olhar pra mim também, e isso estava me obrigando a ter vontade de machuca-lo para aliviar minha raiva. E outra vez ele passou a mão na nuca nervoso olhando para seu caminho ainda pensando sobre oque responder.
-não... Acho que é menos de uma hora andando, se pegarmos o caminho mais fácil é mais rápido
Eu quase não entendi nada porque ele falou tão rápido que eu precisei de alguns segundos pra pensar no som de cada palavra e tentar adivinhar oque ele havia dito. Só conseguir entender depois e decidir ficar em silêncio agora.

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Quase quarenta e cinco minutos depois andando sem parar. Nós já estávamos subindo o penhasco começando a ver a estrutura da mansão, era branca e enorme parecendo um castelo moderno com várias janelas e uma porta que era visível mesmo da distância que estávamos. Aqui o vento batia muito forte e o tempo logo se fechou com nuvens escuras e pesadas de chuva.
Infelizmente não conseguimos entrar antes de sermos pegos pela tempestade. Ficamos encolhidos na varanda alta com piso de madeira forte e branca também, ele estava tentando abrir a porta pesada até para empurrar, ela rangeu alto ecoando o som lá pra dentro me deixando até com medo quando eu olhei pra lá.
-nossa...
Ofeguei arregalando meus olhos quando vi o tamanho e o espaço que ela tinha. Eu só conseguir ver a enorme escada com o corrimão marrom que fazia uma pequena curva quando chegava lá em cima. Dos meus dois lados, conseguir ver salas enormes e mal sabia oque eram todos aqueles móveis gigantes e empoeirados nas paredes, chão e no meio do salão.
-em cima os quartos, aqui embaixo a cozinha e sala de jantar, também tem uma biblioteca e vários outros cômodos que eu nunca conseguir encontrar a chave para abrir. Fica a vontade pra escolher qual quarto você vai ficar porque essa tempestade não vai passar hoje
Ele falava calmo apontado pra cada lugar e depois pendurando sua mochila em um suspensório de velas na parede tirando de lá um aro pequeno cheio de chaves de todos os tamanhos e formas. Eu fiquei um pouco animada pra sair correndo por aí conhecendo cada canto dessa mansão enorme, mas eu me eduquei o bastante para me comportar nas casas alheias.
-quer procurar seu quarto? Eu vou com você pra não se perder, não se preocupe
O segui sorrindo atrás dele enquanto subia as escadas passando a mão no corrimão ainda com vontade de correr. Mas estava ficando cansada de tantos degraus largos.
-ha e não fique com medo caso você escute alguns barulhos estranhos, quando o tempo está assim, o vento bate com muita força no teto e isso faz ele fazer barulhos bem altos e algumas vezes parece ter alguém andando por lá
Eu comecei a olhar para os lados já ficando com medo de ver alguma assombração tipo... O fantasma da sua mãe querendo me expulsar.

Pequena Loba curiosa.Where stories live. Discover now