Capítulo 21 - Estou aqui.

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De noite, minha cabeça não parava e não me deixava dormir. Eu rolava na cama e não tinha coragem de fechar as cortinas porque sabia que se eu olhasse pra lá, eu não ia ter como me controlar, parar e pensar no que é certo ou loucura. Mas agora não adianta mais, eu joguei tudo por cima dos ombros e seguia silenciosamente pelo corredor tentando não fazer nenhum ruído no piso de madeira. Eu lutava contra meu medo e dizia "você está preste a cometer uma loucura Leah Ayres". Mas eu não conseguia ouvir essa voz, apenas seguia minha vontade de poder vê-lo outra vez... Isso só depende de mim... Eu posso encontra-lo mais uma vez e isso está a um muro idiota de distância de acontecer.
Me peguei sorrido enquanto passava pelos fundo do depósito de alimentos, já que a porta de entrada estava fechada, eu já tinha pensado até nisso mesmo não fazendo ideia de que seria tão fácil assim. A janelinha de ventilação para o lado de fora era exatamente do meu tamanho e isso pra mim era um sinal positivo me encorajando a continuar até o fim.
E quando estava passeando pela calçada saltitante, eu não conseguia mais parar de sorrir e me imaginar na floresta outra vez. Não havia ninguém no campo e os únicos guardas estavam sentados dormindo dos dois lados do portão que não era por onde eu sairia. Então eu continuei sorrindo e andando um pouquinho mais rápido até a montanha de engradados de bebidas, mas olhando agora de perto. Eu quase me arrependo e volto para meu quarto, parecia mais fácil... Mas já que estou aqui não tenho mais como desistir.
Então suspirei ainda sorrindo e comecei a escalar pisando com cuidado em cada engradado dando impulso no meu corpo para cima com os braços. Então comecei a sentir que estava sendo fácil demais, então não achei estranho quando ouvi um disparo e algo caindo pra dentro do plástico duro de um dos engradados. Aquilo com certeza era uma bala que veio de uma arma forte o suficiente para ter feito aquela bala atravessar meu corpo. Então vieram os gritos masculinos e eu comecei a subir mais ainda como se o outro lado da cerca fosse minha única saída.
Mas quando vieram os outros disparos, eu não tinha mais como continuar. Então eu pulei para o outro lado e me transformei no único momento de concentração que eu tive no meio do tiroteio. Mas não conseguir me acostumar com minha forma de loba outra vez, isso sempre acontecia nas horas erradas. Minha sorte é que deu tempo de controlar minhas pernas e começar a correr pela área feito louca. Eu sabia que isso tudo ia terminar assim. Então eu só soltei um riso involuntário e continuei correndo dando uma volta completa no campo com os seguranças atrás de mim.
Voltei para a montanha de engradados e dei um impulso mais forte com minhas pernas traseiras. Conseguir ficar perto o suficiente da cerca para dar outro salto e passar de uma vez. Mas tudo ficou lento quando bati minha pata na cerca e acabei recebendo um choque antes de cair no chão da forma errada que planejei. Rolei no chão e parei de costas sentindo muita dor e meu corpo inteiro mole e até parecia que minha cabeça estava vibrando e zumbindo. Mesmo em transe, me levantei tonta confundindo o céu com a terra e vise versa tentando olhar para a floresta e começar a correr. Não sabia mais se estava na minha forma humana ou a de loba, mas assim que sentir uma dor na pata que havia batido na cerca, eu tive certeza e então voltei ao normal assim que ouvi o portão estalar. Eles estavam vindo atrás de mim de novo, e dessa vez eram muitos.
Eu não tinha escolha além de fugir. E mesmo com os disparos quase me atingindo eu não conseguir deixar de sorrir e até rir enquanto corria ainda meio tonta pela floresta.

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Por algum motivo, eu me acordei deitada no chão sentindo uma forte dor na testa. Me sento ali e começo a olhar para meu corpo todo sujo e cheio de arranhões, olhei para todos os lados e vi um galho de árvore jogado no chão perto de mim. Depois olhei para árvore e lembrei que tinha batido minha cabeça ali e apagado.
Fiquei impressionada com a sensação de liberdade que me veio a cabeça de repente. Quando percebi, estava confusa tentando entender como vim parar aqui tão rápido. Ainda estava amanhecendo e eu me sentia ótima para andar por aí e procurar comida primeiro.
Mas no meio da minha caminhada, eu me sentir estranha de repente, um pouco nervosa e me sentindo suja por algum motivo. Eu não conseguia parar de pensar nele, talvez possa estar aqui perto e eu estou... Aqui por perto... Porque me sinto tão estranha?
Mesmo que isso seja idiotice, eu não conseguir continuar andando. Então parei perto de uma pequena lagoa e me sentei na beira dela com metade do corpo para fora, comecei a limpar meus arranhões das pernas e quando terminei, abracei meus joelhos. Eu não entendia o motivo do meu nervosismo ainda.
Tentei relaxar me deitando lá deixando meu corpo flutuar fechando meus olhos. Mas cada ruído de uma folha caindo no chão me deixava tensa novamente. Por um lado eu ficaria feliz em encontra-lo aqui e por outro eu tenho medo.
Sei que isso é coisa da minha cabeça, mas ainda tenho aquele medo de aparecer na sua frente. Eu demorei anos pra ter coragem, ainda não sei como ele vai reagir. Com certeza vai me mandar pra bem longe, mas eu ia estar feliz por apenas ver ele irritado falando comigo, mesmo sendo ignorante, ele arrumava um jeito de me deixar feliz.
Tampei meu rosto e sorri feito boba satisfeita comigo mesma, eu agora estava aqui... Livre outra vez, mas porque estou com tanto medo? Eu devia estar feliz... Afinal de contas estou aqui. Parada feito uma idiota em vez de estar procurando por ele!
Me cansei de ficar pensando em coisas idiotas e me levantei me iludindo com a possibilidade de permanecer com essa determinação toda. Claro que depois perdi toda minha coragem e fiquei encolhida andando para algum lugar pois estava perdida.
Eu não fazia ideia de onde eu estava, eu nem conhecia essas árvores. Eu podia estar indo na direção do colégio outra vez.
Mas depois de alguns minutos, percebi as árvores começarem a abrir um caminho para mim. Comecei a enxergar e ouvir a praia, e quando pisei nas pedrinhas que eu achava irritante. Foi como se tudo tivesse voltado a ser como era antes.
Talvez seja apenas da minha cabeça, mas eu vi uma sombra escura sentada na beira da praia. Por um momento eu duvidei quatro vezes, até ter certeza, eu sentir meu coração acelerar e meu corpo inteiro congelar ali.
Uma voz me dizia pra mim ir correndo falar com ele, mas havia uma outra dizendo pra mim simplesmente deixa-lo e dar meia volta pra mim continuar seguindo meu caminho. Claro que não dei ouvidos a segunda voz com uma ideia muito melhor só que idiota. Então como sempre, seguir oque me veio primeiro em mente.




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