Capítulo 8 - Com você.

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Pela manhã eu fui a primeira a acordar e me sentei ainda meio tonta e sonolenta olhando para fora da caverna. Podia ver que ainda estava cedo, os raios de sol invadiam a caverna bem devagar, sentir um vento morno bater no meu rosto e respirei fundo antes de virar para ele. Mas meu coração parou quando vi que ele não estava lá. Rápido conferi se suas coisas ainda estavam aqui, mas só encontrei sua mochila e em vez de ficar tranquila, eu logo pensei que ele havia deixado pra me ajudar a sobreviver sozinha daqui pra frente.
Sai correndo para fora e parei olhando para todos os lados procurando por ele. E não havia nem sinal dele em nenhum lugar. Até que escutei passos lentos quebrando galhos molhados no chão me tranquilizando.
-aonde você foi?
Perguntei parecendo sua esposa meio brava pra esconder meu desespero que ainda estava passando. Ele estava molhado segurando uma faca e um coelho nas duas mãos me olhando indiferente, soltei o ar pela boca e entrei na caverna de novo me sentando no mesmo lugar me sentindo uma boba.
Observei ele tirar a pele do coelho para cozinhar e separar alguns órgãos que podíamos comer. Eu queria poder ajudar e cortar o coelho em partes iguais pra nós comemos de um jeito mais fácil. Mas ele parecia saber oque estava fazendo então o deixei fazer todo trabalho. Enquanto isso eu olhava para sua expressão tranquila tentando descobrir o que ele estava pensando através dos seus olhos. Apoiei as mãos embaixo do meu queixo e me inclinei um pouco pra frente sem tirar os olhos dele. Será que você já percebeu que estou interessada em você?
-quer parar com isso?
Ele falou de repente me assustando. Pisquei algumas vezes com a pergunta inesperada mas esperei ele se explicar melhor.
-se não percebeu, eu não gosto de você
-mas eu sim
-eu não tô nem aí
-mas eu tô aí sim
-só para de fazer isso porque irrita muito
-eu não vou parar, faço isso desde que te conheci
-eu sei, mas só tô pedindo agora porque pensei que você fosse parar
-te conheço há muito tempo gatinho
Ele parou de tirar sangue do coelho e me olhou sério um pouco assustado. Eu sorri dizendo um "peguei você" com meu olhar. Depois ele jogou a faca de lado e juntou as mãos unindo as sobrancelhas confuso e fofo. Agora era minha chance de contar tudo que escondia.
-pois é... Eu vivia te observando todas as noites por anos
Simplesmente as palavras saíram mais estranhas do que pensei. Ele parecia assustado no início mas depois foi ficando com aquela expressão de "quero te matar" e eu recuei abaixando minhas orelhas bem devagar me sentindo uma presa dele. Mas quando pensei que ele iria pular no meu pescoço, ele apenas respirou fundo e me olhou um pouco mais calmo mas ainda bravo.
-quero que você pare de...
-eu não posso parar, eu gosto de você
-mas eu não Leah. Você tem de esquecer isso, e essa conversa acabou aqui... Se arrume que vamos continuar

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Nossa conversa não surtiu efeito nenhum efeito em mim, eu continuava obcecada por ele e a ideia de que ele ainda vai descobrir isso nele assim como descobrir em mim quando cresci e passei a visitá-lo todas as noites. E para afastar os pensamentos ruins, comecei a analisar sua postura e linguagem corporal, suas orelhas escondidas no cabelo e o rabo abaixado quase encostando no chão era sinal de uma possível frustração ou tristeza, ou inquietude. Mas claro que eu queria acreditar que era tristeza, por não conseguir aceitar que poderia ser qualquer outra coisa.
Já no final da tarde quase no pôr-do-sol, nós entramos em uma trilha bem aberta com algumas roseiras nos arbustos dos dois lados. Aqui a neve já estava derretendo e tudo ficava molhado e gelado.
Mas de repente quando paramos pra beber água, nós dois ouvimos passos nas poças de água e ficamos nos encarando congelados sem saber oque fazer. Até que escutamos a voz da minha irmã e eu não conseguir pensar em outra coisa além de empurrar ele para os arbustos caindo do seu lado abraçando seu pescoço e tampando sua boca. Ele ficou quieto do nada e pensei até que tinha o machucado, mas depois fiquei quieta também quando os dois passaram conversando sobre algo que não me dei o trabalho de ouvir. Lobo e minha irmã juntos, uma dupla que sempre andou falando mal de mim. Encontrar com eles seria um vexame, ainda mais se me vissem com ele.
-me solta...
Ele pediu me lembrando que estava apertando seu pescoço ainda. Depois que os dois estavam bem longe que o soltei e ajudei ele a se levantar estendendo minha mão, mas ele recusou e ficou na minha frente limpando suas roupas sujas de terra molhada.
-quer me dizer porquê diabos fez isso?
Me encolhi com sua grosseria e abaixei a cabeça meio envergonhada e com medo de piorar tudo ainda mais.
-eram minha irmã e... O amigo dela
Engoli em seco quando terminei meio nervosa e sem olhar pra ele diretamente.
-com medo de que descobrissem que você anda por aí com alguém que não é da sua espécie?
-eles só não me querem nessa região
-ah... Mesmo assim devia obedece-los então
-não, eu quero continuar com você
Falava insegura com o "com você" que sempre saia de uma forma bem fraca e sem vida. Eu também tirei minha mão do seu braço porque ele me olhou como se fosse me morder.

Pequena Loba curiosa.Where stories live. Discover now