─ Não foi minha intenção, acredite ─ balbucia logo atrás de mim, enquanto caminho para a sala, me detendo por breves segundos perto daquele quadro. ─ Mas, talvez eu possa fazer algo.

─ Ah é?! E o que faria para se redimir de tamanha ofensa? ─ pergunto, mantendo o teatro, enquanto ele me olha com aparente divertimento.

─ Frio combina com filmes, você disse ─ afirma, saindo na frente. Eu fiquei na dúvida se era para acompanhá-lo, fiquei parada até o momento em que ele me olhou com um arquear na sobrancelha esquerda que eu imaginei significar "o que está esperando? Vamos!". Parei ao seu lado, numa distância significativa, enquanto ele abria uma porta. ─ Fique à vontade, escolha o filme, eu já volto.

Era, autenticamente, um cômodo masculino. Suas paredes foram pintadas com um preto fosco e ornamentadas com quadros escuros de fundos claros. Havia um grande sofá em L pegando a metade de duas paredes, foi assim que percebi que em uma delas, a pintura foi feita sobre pequenos tijolos retangulares. Na frente do sofá, uma mesa vermelha o separa da enorme TV que ocupa quase metade da parede, enquanto do teto escuro uma luminária exibe uma luz não muito forte.

Caminhei pela sala, me detendo perto de uma mesa onde repousava uma pequena estatueta de O pensador, ouvi seus passos e me apressei em ir para a pequena estante em madeira escura. Entre analisar alguns clássicos do cinema mundial e tentar escolher algo bom, eu atirei pra não errar. O clássico dos clássicos, não dá pra ficar entediado, não importa quantas vezes você vir.

─ Um sonho de Liberdade! ─ digo, me virando entusiasmada para ele que acaba de entrar na sala. ─ Mas, podemos trocar, caso queira.

─ Eu gosto da escolha ─ concorda, sorridente ─, mas, um clássico merece outro clássico ─ diz, me entregando a caixa em marrom e pegando o DVD em minha mão. ─ Se acomode, senhorita.

Sua voz soou quase como uma ordem direta, ao que, óbvio, me incomodei, mas, acabei indo para o sofá, sem fazer cerimônia, encolhendo as pernas e cobrindo o colo com uma almofada, onde coloquei a caixa depois de aberta, sentindo o gosto do chocolate em meus lábios.

Já ele, sentou-se a uma distância de um braço, parecia, de repente, que esse era apenas o espaço que permitiríamos entre nós, menos era impossível. Eu o olhei, estava compenetrado no começo do filme, que eu, sorrateiramente, perdi enquanto sentia o gosto do chocolate e resistia ao impulso de tirar os fios escuros que caiam em sua testa.

O tempo passou, indiscutivelmente, rápido. Foi a minha constatação quando Andy experimentou seu primeiro gosto de liberdade ao andar na chuva. Eu o entendia, entendia seu alívio, tinha sido assim para mim, eu tinha estado feliz quando experimentei esse gosto também. Mas, ao contrário dele, eu merecia estar presa.

O pensamento passou rápido e eu não me permiti senti-lo. Não deveria me permitir olhar Dominic apreciando a beleza da cena também, mas, eu o fiz. Eu me permiti olhá-lo e, se posso dizer, foi uma experiência, no mínimo, interessante. E eu fiquei ali, recostada no sofá, observando-o, sentindo uma sonolência bem vinda me encobrir como uma mão quente depois do frio.

Infelizmente, deslizar para a inconsciência não resultava sendo algo bom nas últimas noites, nos últimos dias. Os olhos azuis de James eram para onde eu sempre voltava. Eles eram meu inferno. Seus olhos perdendo o brilho eram meu castigo sempre que fechava os meus. Então, quando os abri ao ouvi-lo chamar por mim, eu estava tão desesperada que não consegui formular uma frase, por menor que fosse.

E quando abri a boca para murmurar qualquer coisa, a dor era tão grande que eu desabei, o choro foi inevitável, cobri meu rosto, envergonhada pela crise, mas, só não conseguia parar enquanto Dominic me olhava sem, aparentemente, saber o que fazer.

Simplesmente Dominic - Samuell's - Livro IWhere stories live. Discover now