Sábio velho

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E como um sábio — e velho — homem disse: o amor é uma espécie de preconceito. Existem, só na minha cidade, dezenas de mulheres pelas quais me apaixonaria. Amores da minha vida.

O amor da minha vida morreu, ontem, atropelada — um horror.

O amor da minha vida está grávida — de seu estuprador. Neste momento, se pergunta, com um copo, cheio até a boca, à mão, porque com ela. Eu também não sei, meu amor. Só sei que eu sinto muito. Suas mãos tremem. É, talvez o copo não esteja mais tão cheio — como seus olhos, de água, e seu peito, de raiva; e catarro.

O amor da minha vida passou por mim, esses dias, em plena Paulista, e nem me olhou. Estava de mãos dadas a outro cara. Fez amor com ele mais tarde, e nem pensou em mim.

Elas estão por aí, enquanto escrevo isso.

Estranho pensar que a cada segundo pessoas estão dizendo que se amam pelo mundo. Outras estão perdendo os amores de suas vidas em acidentes de trânsito e apostas. Mendigos se amando embaixo de tapumes, casas de papelão molhado, viadutos — ao lado dos ratos. Homens pagando jantares caros e motéis baratos. Mulheres pagando boquetes baratos; cagando e mijando na cara deles. "Oh, oh, bebê, eu te amo pra caralho!"

E eu esqueci o final do texto enquanto pensava nelas e em todas essas merdas; a frase de impacto, e, não, não era 'eu te amo'.

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