A cavala de rabo de cavalo

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Ela chega aos berros no enterro. Ninguém entende o que diz. Nenhum dos três. Ela é loira, usa um vestido florido e um rabo de cavalo; bom corpo. É uma cavala com rabo de cavalo, e não está nada no clima do enterro.

"Como podem enterrá-lo?", ela diz, enfim, algo que se possa entender, depois de muito catarro e soluço.

"Ele morreu, oras", responde um dos presentes; mais tarde ele diz para ela que é irmão do presunto. E ela diz para o irmão que seu nome é Pamela; Pam, como o presunto a chamava. "Não, não... eu não acredito... não acredito".

"Pois dê uma olhada... quer que eu mande o coveiro subir o caixão?" O irmão fazia os comentários sem pensar — não vamos julgá-lo, ele perdeu um irmão; aliás, o único.

Os outros dois são mãe e tio — não esqueci deles. A mãe permanece muda — chegou e saiu de lá assim. O tio, irmão da mãe, a está abraçando — ele ajudou a carregar o caixão; foi bem útil: sem ele, sobraria uma alça; as outras três ficaram por conta da mãe, do irmão e do coveiro, que não via a hora de ir pra casa.

"Mas... mas... — dizia Pam - ...ELE ME FEZ GOZAR", disse de supetão. O tio, a mãe, e até o coveiro, que já pensava no jantar que sua esposa estaria preparando, viraram na direção dos dois — Pam e o irmão conversavam mais adiante; o coveiro estava quase terminando o serviço.

Pam era uma mulher que atraía muitos olhares, como adiantei; não só quando falava sobre como gozou noites atrás. Era linda, até quando chegava chorando e aos berros em enterros onde ninguém além do protagonista a conhecia. Uma linda moça aos berros; é difícil encontrar uma mulher berrando e achá-la linda. Não vamos culpar os homens antes do presunto que não a fizeram gozar e, portanto, não receberiam sua visita aos berros no último dia de suas vidas  — e o primeiro de suas mortes. É mais fácil gozar antes de pensar em fazer esse tipo gozar. Uma cavala com rabo de cavalo — e vestido florido.

O coveiro limpou o suor da testa e foi para a casa, o jantar e a esposa. A mãe jogou uma rosa, que já estava esmigalhando pela força e suor de suas mãos, em cima do buraco, agora tapado; o novo endereço de seu filho caçula. O irmão e o tio foram para um bar, se sentaram e pediram duas pingas e duas cervejas. E Pam, seu cabelo loiro e seu vestido florido saíram galopando, por entre as lápides, buscando gozar, outro dia, quem sabe.

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