Os melhores livros da cidade

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Era o tipo de editora que achava que era algum favor publicar algo de um desconhecido. "Suas coisas são muito boas, sr. Tamburello", eles disseram. Quem é que chama alguém pelo sobrenome, ham? "Ok, ok", eu disse.

— Vamos publicá-lo! Meus parabéns! — eles disseram. — Você só precisa comprar os primeiros 100 exemplares, que é uma garantia que pedimos. É de praxe.

— Praxe? - eu disse. — Pensei que minhas coisas fossem muito boas...

O mundo era muito confuso e estava cheio de 'coisas boas'. As pessoas não se entendiam, os cachorros não se entendiam; existiam muito mais línguas que o catalogado.

Procurei outra editora; qualquer outra. Meu livro ainda nem estava pronto — e talvez nunca ficasse. Era agosto.

Já era novembro, quando cheguei ao prédio da 'Os melhores livros da cidade'. Marcaram de me encontrar às 10h. O slogan deles era 'os melhores, juntos num só lugar'. É, horrível, eu sei...

Cheguei lá adiantado. Acordei cedo, tomei café, comi pão com margarina, escovei os dentes, tomei banho, peguei ônibus lotado... tudo para me dizerem que venderiam meu livro a 15 dólares.

— Hey, hey - eu disse. — Eu compro livros a 1 dólar. 50 cents, sabe, como o cantor de rap.

— É 50 CENT - o cara que me atendeu disse.

Ele tinha dois $ nos olhos, um em cada olho. Podia ter lhe falado isso, mas só penso em boas frases quando na frente dessa máquina, cuja luz forte cega minha ignorância e tira meu sono.

Queria ser lido e pensei que o tipo de gente que gostaria de me ler preferia comprar dois quilos de carne, 1 de linguiça, 1 de frango e uma caixa de cerveja com aqueles 15 dólares e fazer um churrasco. Alguns me agradecem até hoje por não terem que pagar os 15 dólares, e outros até me chamam para um churrasco de vez em quando.

— O lema da nossa editora é colocar os melhores, juntos num só... "Eu sei qual o lema de vocês", disse — e dei o fora dali.

O livro estava quase pronto, quando conheci uma moça boa com desenhos e beijos de língua. Pedi a ela que ilustrasse meu livro, pois acreditei que o tipo de pessoa que me leria — os escritores e suas suposições sobre quem os lê — gostaria de ver alguns bons desenhos acompanhando a história. "Quer ser lido ou ganhar dinheiro?", ela me perguntou. "Acho que prefiro ser lido", eu disse. Então ela concordou em ilustrar meu livro. "Isso é genuíno", ela disse. Fui procurar o significado de 'genuíno' no dicionário e acho que ela não empregou a palavra direito. Podia ser escritora, pois é isso que os escritores fazem, mudam os sentidos das palavras.

"E então, vai fazer a capa pra mim?", eu disse. E ela também concordou com isso. Depois concordou em namorar comigo. "Se eu tiver a mesma aceitação pelo leitor, serei o novo Paulo Coelho", pensei, no sentido de vender pra caralho. O que importa é as pessoas comprarem ou gostarem, afinal? Aí voltei a pensar sobre o conceito de 'genuíno'.

Penso que os novos escritores se espelham, querendo ou não, naqueles que eles admiram. E todos nós cremos admirar os melhores...

Escritores 'atônitos'... 'fitando' uma folha em branco... a angústia te leva a enchê-la de qualquer coisa... é preciso ser forte. Tem gente que faz o tipo durão, tem quem queira exatamente o contrário... e alguns pássaros estão prontos para serem soltos por aí... vão voar o mais alto que conseguirem? Ou apenas plainar, mantendo a mesma altitude? Caindo aos poucos ou num rasante sem fim? "Quer beber uma cerveja", a capista me perguntou. "Claro", eu disse.

BukowskianosWhere stories live. Discover now