Lamentável

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Eu tinha sete gaiolas e 12 pássaros em casa. Essa filha da puta, que se dizia poeta e também minha amiga, vinha sempre com aquela camiseta do caralho. "Pássaro na gaiola não canta, lamenta". Não sei por que o macho dela a deixava sair da gaiola deles, já que ela vinha parar na minha e da Linda.

Morávamos Linda, que nem era o nome dela, eu e os 12 pássaros. Tínhamos um gato também, mas ele ficou doidaço com pássaros por todos os lados e se matou — sete vezes.

Nós bebíamos e falávamos sobre qualquer coisa. Ela deixava para lembrar da camiseta e dos dizeres que a estampavam, graças a deus, no fim da noite — ou dia, sei lá. E falava meia hora seguida, talvez mais, sobre como eu era 'cruel' em manter aquelas aves 'aprisionadas'. "Eles comem a melhor ração que tem na cidade", eu dizia. E ela ousava comparar meus pássaros com aquelas pombas imundas do centro.

"Aqueles ratos com asas? Sem chance". No fim das contas, eu sempre acabava, antes de mandar o casalzinho embora com a desculpa que íamos, Linda e eu, foder, me comparando a Hitchcock. "Nunca viu aquele filme em que os pássaros atacam as crianças? Estou treinando os meus pra isso..." E eu advertia os dois para que olhassem para o alto, no caminho até em casa.

Eles iam e voltavam no dia seguinte, com mais engradados de cerveja, camisas de 'amigos' dos pássaros e papo furado. Eu só tinha a eles; Linda; e os 12 pássaros, cantando ou lamentando, nas sete gaiolas. O gato estava num lugar melhor — espero.

BukowskianosWhere stories live. Discover now