Capítulo 1 - Mais uma noite.

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Me aproximei dele silenciosamente ficando de joelhos e depois me abaixando, fiquei na sua frente dessa vez. Ele estava dormindo com um braço embaixo da cabeça, havia uma mecha do seu cabelo cobrindo seu olho direito. Eu amava observar o contorno dos seus olhos e de seu rosto pálido na luz da lua, cada detalhe do seu rosto era perfeitamente desenhado, sua boca era apenas um risco horizontal fino, eu tinha tanta vontade de toca-lo. Mas não sabia se ele iria acordar ou não, a última vez que fiz isso, me arrependi por ter tido de ir embora porque ele havia se espantado. Mas agora estou aqui de novo mais uma vez o observando.
Me deitei na frente do seu rosto e me apoiei nos braços suspirando baixinho pra não acorda-lo, não quero ter que ir embora de novo cedo. Por ele eu não durmo mais de noite, perdi a conta de quantas vezes já fiquei aqui passando essas noites com ele. Pra mim não existia sensação melhor do que simplesmente ficar olhando para sua face. Arrisquei passar um dedo na sua orelha com pontas arredondadas e macias, ri o mais baixo que conseguir quando vi ela mexer. Isso já estava ficando estranho e perigoso demais, ele não pode saber que eu venho aqui toda noite, talvez eu devesse aparecer para ele de uma vez... Mas o medo não deixa. Acho que já fiquei tempo demais.
Me levanto e limpo a terra do meu corpo, me viro e dou uma última olhada para ele e entro na floresta carregando a angústia de ter de deixa-lo.

Mas eu estava feliz por ter passado mais uma noite com ele, ainda pensava em revelar minha existência para ele enquanto andava pela floresta. Tinha tanto medo do que ele poderia pensar de mim. Estremecia imaginando eu na sua frente falando que o visitava todas as noites desde que o vi pela primeira vez há anos atrás quando ainda era pequena. Sabia que não conseguiria. Então apenas deixei isso pra lá e me sentei próxima a uma lagoa rasa escovando meu cabelo com uma pinha que servia como pente. Depois desembaraço os pelos da minha cauda sem conseguir parar de pensar nele um segundo. Eu sabia que essa minha obsessão era algo mais do que só sentir prazer em observa-lo. Mas eu não podia fazer nada... Nunca vou ter coragem de dizer isso na cara dele e também somos de espécies diferentes.
Escutei um ruído baixo vindo do outro lado da lagoa quando havia terminado de me pentear. Meu coração pulou e eu entrei em desespero porque sabia que era ele, eu sei que ele costuma caçar naquela região, também sei que vim aqui de propósito. E é claro que eu corri para algum lugar me esconder, levantei minhas orelhas atenta para escutar alguma coisa.
E como esperava, ele apareceu vestindo uma bermuda preta como de costume e não usava blusa. Eu sempre suspirava toda vez que via ele assim... Acordado. Ele tinha vindo aqui para beber água e também para se molhar, o tempo estava quente e eu sabia que ele iria mergulhar. Não me incomodava vê-lo sem nenhuma peça de roupa, eu mesma não usava nenhum tipo de roupa por não ser acostumada. Então ficava observando ele até ir embora para minha tristeza, e era assim que ele vivia sua vida sem me conhecer.
Quando ele se virou pra floresta, deixei cair um galho da árvore sem querer. Ele olhou diretamente para minha direção e eu sentir meu corpo inteiro congelar com o medo. Felizmente ele não ligou e continuou andando até sumir no meio dos matos.
Soltei um suspiro de alívio saindo de trás da árvore e voltando ao meu lugar na beira da lagoa. Fechei os olhos quando o vento trouxe seu cheiro pra mim quase como soubesse da minha covardia, ele estava dizendo que é pra mim aparecer de uma vez e contar toda minha história pra ele. Desculpe vento... Não posso.

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De tarde eu não estava com tanta fome, então decidi caçar um esquilo para passar o tempo. Enquanto isso eu andava silenciosamente até a caverna dele, era embaixo de um tronco de árvore muito grosso que deixava uma cortina de musgo ao redor da abertura de pedra. Ele estava estava lá dentro perto da sua fogueira afiando uma lança com um pedaço de pedra em formato retangular. Parei abaixada atrás de um tronco de pinheiro muito fino, como tinha pelos brancos, eu tive que ficar no escuro o observando feito uma louca com problemas sérios de obsessão. Era assim que eu me considerava.
E como queria chamar atenção, peguei uma pedrinha e joguei na entrada da caverna tampando minha boca para não ri. Ele apenas olhou e depois voltou a trabalhar na sua lança. Eu queria mesmo chamar atenção... Então tive coragem o suficiente para sair de trás da árvore e me aproximar da sua caverna. Nervosa, eu parei com o coração acelerado apertando minhas mãos com muito medo, mas fechei os olhos e continuei avançando mais ainda até ele me notar e tomar o susto que imaginei.
Ele se apoiou na parede me olhando assustado de cima a baixo. Depois segurei minha cauda na frente da minha barriga cobrindo minhas partes importantes, eu não sentia vergonha disso, mas se ele fica incomodado eu me cubro.
-é... Oi
Disse fraco abaixando as orelhas muito tímida de repente. Ele ainda estava sem reação me olhando agora de outra forma. Foi aí que notei ele segurar sua lança e arremessar ela com intenção de me acertar.
Meu instinto foi fugir me transformando correndo sobre quatro patas floresta a dentro, mesmo que ele tenha tentado me matar, eu estava feliz. Meu riso ecoava pelas árvores e só parei quando me perguntei porque ele havia se assustado se não tentei... Ataca-lo como qualquer outro faria. Concluir que ele agiu por instinto e que esse seria só o primeiro de muitos encontros que vamos ter ainda.


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