XXVI - Perdas - Anima

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Anima atirou uma adaga no alvo de feno. Tinha acabado de colher a cota que lhe fora designada e começou a treinar sua pontaria. No fundo, seu único objetivo era distrair sua mente enquanto os outros não voltavam da missão.

Caminhou até as facas dispersas no objeto de mira para recolhê-las e começar outra vez. Enquanto isso, pensava nas possibilidades do que estava acontecendo: podiam estar indo bem, ocorrer tudo como planejado — afinal, ela mesma tinha ido em três missões e não tiveram grandes problemas. Dessa vez, no entanto, ela não estava junto e — se havia sido realmente escolhida das outras vezes por causa de sua habilidade em lutas — por que não deveria ir nessa última?

Atirou a primeira das cinco adagas um pouco fora do centro.

Suspirou, talvez não fosse tão boa quanto pensava e, por terem percebido isso, não acharam uma boa ideia levá-la. Mas então, por que Sirius? Com certeza ele era tão bem treinado quanto ela, assim como passara os últimos três meses extremamente dedicado em qualquer coisa que os outros com magia lhe ensinassem, além de ser absurdamente simpático e conversasse com todos com uma naturalidade impossível para alguém que nunca interagiu com ninguém além das mesma duas pessoas — muito diferente de Anima.

A segunda adaga atingiu quase o centro do alvo, porém ainda não havia sido um lançamento perfeito — pelo menos, não para Groleo.

Sim, talvez existissem várias razões para terem levado Sirius com eles. No entanto, isso não mudava o fato de querer ter ido junto. Nunca tinham se separado antes da primeira missão que fora e havia sido assustador. Claro, fazia tempo que caçavam separados e iam sozinhos buscar algo que precisassem nas vilas próximas. Contudo, isso era diferente, tudo estava diferente!

O centro do alvo foi atravessado pela terceira lâmina.

Anima se sentia mal por ter deixado o amigo primeiro quando aceitara, mesmo que relutante, em ir na missão. Naquele instante, só queria lhe encontrar para se desculpar, afinal nunca perguntara como ele ficou quando ela saiu.

Acertou a quarta adaga praticamente no mesmo lugar que a anterior.

Porém, tudo isso piorava ao pensar em Groleo. A cada demonstração que dava aos outros que pareciam impressionados com as coisas mais simples, sentia falta do velho. Sempre que pensava em suas frases prontas para memorizar algo, se perguntava onde ele estava. E toda vez que qualquer pensamento ligado a ele lhe vinha à mente — fosse como figura paterna ou herói lendário dos guardiões — se questionava se o veria de novo e se estava fazendo o que ele esperava dela.

A última lâmina cravou-se entre as duas antecessoras.

Ao pensar no homem de cabelos cinzas e nos resultados progressivos dos arremessos, a garota quase ouviu a voz de Groleo falar em sua mente que ela deveria sempre manter a raiva como sua aliada para atingir seus objetivos — já que era realmente eficiente para isso —, mas que não podia depender dela. Mesmo sumido, você não para, não é? Pensou em forma de questionamento para o amigo e para si mesma, o que a fez passar as costas da mão no canto dos olhos para evitar que qualquer lágrima escorresse.

Mas finalmente, para sua felicidade, viu os dragões se aproximarem da fortaleza descendo de um voo bem alto, de quase invisíveis para figuras pequenas no pátio superior. Sendo assim, não esperou nem os outros, pois, logo que percebeu a chegada do primeiro, partiu correndo em direção das escadas centrais dentro da fortaleza.

Quando chegou no nível da base das torres um pouco ofegante, encontrou um amontoado de pessoas rodeando três dragões. Sua mente pensou no pior, mas ignorou tentando se aproximar do centro do grupo.

Anima recebeu a ausência de Sirius e Barílion assim como os olhares de pesar com a mesma agonia interna. Contudo, não ia acreditar até que lhe dissessem com todas as palavras.

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