X - Por quê? - Silena

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— E então, o que aconteceu? — O homem velho contava a história empolgado.

— Você comeu o porco inteiro e não conseguiu levantar. — Silena respondeu com um sorriso ladino.

— Eu comi o porco inteiro e não consegui levantar! — Gritou ele rindo.

As risadas de ambos foram morrendo aos poucos. Quando seus olhos encontraram os do pai, o homem de barba branca começou o assunto que ela nunca gostava:

— Filha, sabe que não pode ficar conosco. — A voz dele era rouca e serena. — Seu tio pode te levar para o seu lugar.

— Pai, meu lugar é com você...

— Ah, minha querida, você vai sempre estar comigo... Mas é por isso que sabe que não pode ficar... As pessoas desconfiam demais, você não está segura... Tem que encontrar aqueles que podem te ajudar, que são como você, como meu irmão. Eu não posso te ajudar, por mais que eu queira... Além do mais, faz quanto tempo que não sai do castelo? Na minha medida de idade, são trinta e seis anos, o que significa que para muitos sua existência é duvidável...

— Mas pai... Eu não sei... — Ela suspirou. — Eu não quero deixar você. Nós já perdemos a mãe e...

— Nós dois sabemos que isso ia acontecer um dia... Não se preocupe comigo, por favor. Eu só quero que tenha a oportunidade de ser feliz de verdade.

Eles trocaram mais algumas frases com o mesmo sentido e não muito diferentes de diversas outras conversas que já tiveram sobre aquele assunto. Silena levantou e saiu do quarto limpando as lágrimas.

Quando fechou a porta, ficou apoiada nela presa em pensamentos. Sempre soube que um dia teria que partir com o tio, mas ao mesmo tempo, sempre fora uma perspectiva do futuro e agora que parecia ter chegado, não queria que fosse realmente necessário. Pelo menos, só poderia ir embora quando o tio aparecesse, o que não era frequente e levaria mais um bom tempo considerando a última vez que viera.

Perdida em seus pensamentos, se assustou ao ouvir o movimento de uma pessoa ao seu lado e despejou frases aleatórias para disfarçar até ver seu rosto.

— Tio? — Disse engolindo em seco.

— Sobrinha. — Disse Tenebrisen com um aceno de cabeça e se apoiando na parede.

— Está bem? Como entrou aqui?

— Acha que não sou capaz de passar por alguns guardas?

A garota de vinte e duas contagens revirou os olhos.

— Como ele está? — Perguntou o homem em tom sério.

— Mal. — Respondeu sem delongas.

— Você deveria vir comigo antes que...

— Ele não vai resistir.

Antes que qualquer um deles pudesse falar algo mais, ouviram um barulho de queda vindo de dentro do quarto. Ambos correram para o cômodo e encontraram o homem de idade avançada caído próximo à cama com o quadril no chão.

— Pai, está bem? — Silena correu para ajudá-lo a voltar para a cama.

— Sim, sim. Estou. É que eu ouvi a voz do meu irmãozinho Teb, não poderia deixar de vê-lo. Não é? — O velho doente parecia mais feliz que os saudáveis.

— Nunca, Gal. Nunca. — O outro disse com a voz serena.

— Teb, que bom que veio. Preciso te pedir um favor. — Ele não parou de falar enquanto se ajeitava na cama. — Preciso que cuide de Silena, que a convença a ir contigo. Eu não sou como vocês... Promete que vai fazer isso?

Tenebrisen concordou com a cabeça com um semi sorriso. Silena não aguentou aquilo, o tio mal havia chegado e já falavam disso outra vez. Não aguentava a ideia de envelhecer tão mais lentamente do que seus pais. Não aguentava não poder sair às ruas por causa de organizações contra sua vida. E o pior de tudo, não aguentava não saber o por quê de tudo isso...

Se levantou e deixou o cômodo indo para seu quarto.

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