XXV - Uma partida - Silena

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Primeiro, nós devemos sair para encontrar outros iguais a mim. Depois, não podemos mais confiar nessas pessoas e devemos nos esconder no meio do nada para poder aprender a usar minha magia. Mas então não, não posso usar magia da forma que eu quero, não posso aprender da forma que eu quero, não posso nem ajudar quem amo da forma que eu quero.

Se sentou, praticamente caindo, ao lado do dragão.

Você entende alguma coisa que ele quer, Borotraz?

Na verdade, não.

Então!

Em seguida, parou de falar pensando no futuro que tinha imaginado ao realizar a magia e que o tio havia destruído tão bruscamente. No momento em que aquilo acontecera, a dor de perder aquela realidade que não existia havia sido maior que qualquer coisa, mas naquele instante, depois de ter tido tempo para remoer tudo, a insatisfação com certeza era o sentimento dominante dentro de si.

E tem toda essa história de guerra... Ela voltou a falar mentalmente com o dragão. Eu quase nunca vi esses tais nakoushiniders... Como podem ser tão perigosos...?

O dragão bege respondeu se levantando.

Onde você vai?

Não sei... Sinto algo estranho...

Fome?

Talvez... Mas não sei... Já volto. E saiu voando. Desde que aprendera a voar longas distâncias, havia se tornado insuportável, não podia ter a menor oportunidade para que deixasse o chão que logo o fazia.

Silena se levantou da grama voltando para dentro da cabana sentindo o coração apertar ao ver o "tio" sentado na poltrona dormindo com a cabeça apoiada no próprio braço. Era ao mesmo tempo tão parecido com seu pai e tão mais jovem, apesar de ser bem mais velho. A garota pegou uma coberta na outra poltrona e colocou sobre o homem sentado. Não fazia frio naquela região, mas era suficiente para que um cobertor fino fosse aconchegante sem ser quente demais.

Contudo, assim que o cobriu, o homem acordou em um susto e ofegante.

— Desculpe. — Falou a guardiã da cura se sentando na outra poltrona. — Só queria ajudar.

— Obrigado. — Respondeu o das sombras limpando os olhos e não entendendo o subtexto da fala da garota. — Olha, Silena, eu acho que você deveria saber a verdade, caso... Caso... — Ela arqueou as sobrancelhas indicando que o outro falasse. — Caso aconteça de novo. — Terminou ele.

— Como assim? — A garota de vinte e duas contagens franziu o cenho.

O homem mais velho suspirou e fez o pescoço estalar virando a cabeça. Com o olhar perdido na mobília da casa que custaram a limpar, Tenebrisen começou:

— Depois que eu cortei tão rápido seus planos, sinto que você ficou um tanto chateada, então... Para compensar... Quero lhe dizer a verdade... Eu morava aqui com a minha família... — As palavras saíam pesadas de sua boca. — Eu, meu companheiro e nossa filha...

Silena viu uma lágrima se formar no canto do olho do tio e escorrer pelo seu rosto sumindo no meio da barba.

— Fizemos o máximo para proteger essa casa... Mas eles procuravam por mim e... Quando tudo aconteceu eu... — O homem já não evitava o choro.

— Não precisa falar, se não quiser. — A guardiã não sabia como reagir, então colocou uma mão sobre o joelho dele.

— Nós a perdemos. — O guardião limpou o líquido de tristeza na manga da blusa. — Eles vieram e a levaram... Ela era inocente... E já faz tanto tempo... Mas eu não vou desistir... Eu não posso...

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