Capítulo Dez - Parte 2

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— Eu ia ser mais feliz se esses elfos existissem — Aline resmunga.

Rodrigo cutuca sua cintura de novo e ela se vira para ele, xingando.

— Vou contar para Paula que você falou isso — ele fala, rindo.

— Me contar o quê?

— Que ela ia ser mais feliz se os elfos daquele filme lá existissem — Rodrigo levanta a voz e se vira para a porta, como se nem estivesse surpreso por ouvir a voz de Paula.

Paula já está vindo na direção da mesa quando me viro, e percebo que Rodrigo provavelmente não se surpreendeu mesmo. Ele é um metamorfo, tem sentidos mais aguçados. Provavelmente ouviu quando ela entrou no casarão.

— Se existissem ela ia perder a paciência com eles em menos de um mês, então não preciso preocupar — ela responde, se sentando meio apoiada em Rodrigo antes de se virar para mim. — Que bom que desceu.

Dou de ombros. Já ouvi isso vezes o suficiente hoje. E não quero nenhum comentário do tipo vindo de Paula. Quero distância dela. Ela me vendeu. Se eu estou aqui, é por culpa dela. Dela e de Alexandre, que deveria ter tomado mais cuidado para que ninguém visse nada que não deveria. Consigo me esquecer da minha situação perto dos outros, mas não com ela ali. E, mesmo que conseguisse, isso não muda o que ela fez. Chamei Paula de amiga por dois anos, e ela me jogou nessa situação. Não quero falar com ela. Não quero ver a cara dela.

Rodrigo para no meio do que começou a falar e se vira para mim. Aline respira fundo e se concentra em alguma coisa no tampo da mesa. Droga. Metamorfos, sentidos aguçados... Eles conseguem farejar o que estou sentindo. Paula aperta o braço de Rodrigo, sem desviar o olhar de mim. Ela sabe. Pode não saber exatamente o que estou sentindo, mas sabe que os dois metamorfos perceberam algo errado.

Respiro fundo. Não posso fazer isso. Paula é importante aqui. Se vou escapar... preciso que ela esteja do meu lado. Ou pelo menos que não esteja prestando tanta atenção em mim. Me lembro muito bem do brilho verde nas janelas e da facilidade para me segurar. Agora, se ela pensar que estou me acostumando aqui, que me conformei...

Respiro fundo de novo. Isso. É isso. Preciso manter o foco nisto e deixar minha raiva escondida. E isso quer dizer que preciso dar um jeito na tensão que tomou conta da cozinha.

— Ninguém aqui trabalha? — É a primeira coisa que vem na minha mente.

— E eu estou fazendo o quê? Brincando de casinha? — A resposta de Amara vem na mesma hora e faço uma careta enquanto Rodrigo e Aline riem.

— Desculpa, não foi para você! — Até porque, pelo que entendi, ela e Jorge – eles são casados – é que fazem as coisas funcionarem no casarão. Algo a ver com o tipo de fey que são.

— Não, esses à toas só vivem da renda do bando mesmo — Paula fala. — Se bem que agora provavelmente vou ter que colocar alguém para trabalhar no sebo. Tem noção do tanto que é difícil achar alguém disposto a trabalhar lá nessa cidade?

Reviro os olhos. Óbvio que tenho noção. Foi por isso que consegui o emprego. E não vou pensar em por que ela precisa achar alguém para trabalhar lá. Não vou. Não vai adiantar nada.

— Bando? — Pergunto, interrompendo Rodrigo, que se virou para falar alguma coisa.

— Os metamorfos chamam seus grupos de matilhas — Lavínia conta, dando de ombros. — Nós somos um grupo misto que funciona praticamente como uma matilha, mas não somos só metamorfos... Então decidimos usar outro nome.

— Como se alguém tivesse decidido alguma coisa — Amara resmunga, colocando uma pilha de pratos no balcão.

Aline e Rodrigo riem e Paula, ainda apoiada nele, revira os olhos.

Refém da Noite - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora