Capítulo Oito - Parte 1

Começar do início
                                    

Abro os olhos, tentando controlar minha respiração ofegante. Estou tremendo e gelada. Não quero me lembrar mais. Não preciso.

Engulo em seco e escondo o rosto nas mãos de novo. Um homem entrou na cozinha e então vi garras vindo na minha direção. Não é difícil imaginar o que aconteceu. Não depois de Paula dizer que é uma bruxa e de ter me segurado daquele jeito no saguão.

Porque se bruxas são reais, então por que um lobisomem não pode ser?

Eu estou louca. Só pode. É a única explicação. Eu leio livros de fantasia. Esse tipo de coisa não existe na vida real. Simplesmente não existe.

E nem Rodrigo nem Lavínia ficaram surpresos com isso. Não com as garras e o que mais eu não conseguia me lembrar. Eles sabiam. Sabiam e entraram na frente do lobisomem sem pensar duas vezes... Se eu visse um lobisomem avançando, não ia entrar na frente para defender ninguém a menos que tivesse certeza absoluta de que conseguiria fazer alguma coisa. E os dois entraram na minha frente. Isso só me deixa com uma opção: eles não são humanos. Nenhum dos dois.

— Puta merda.

Eu estava errada. Estava muito errada. Talvez eles até sejam um bando de criminosos, não sei. Mas não foi nada ilegal que meu pai viu quando entrou na mata. Ele falou que ouviu uivos, não falou? E viu alguém correndo... Provavelmente um lobisomem. Um de vários?

Meu pai viu alguma coisa que não tinha como disfarçarem. Viu um lobisomem se transformando, talvez? Não quero pensar no que mais poderia ser. Mas ele viu algo, ele sabe que são reais... E se ninguém acredita que lobisomens e bruxas sejam reais, não é à toa. Eles precisam manter o segredo a qualquer custo.

Alexandre. Ele é quem manda. O alfa? Ele é o dono do casarão, e todos vieram para cá junto com ele, pelo que sei. Todos também são lobisomens? Paula é a única bruxa? Não consigo nem imaginar como isso funciona. Não quero. E...

Eles nunca vão me deixar sair daqui. Me levanto e vou para a cama, me jogando em cima dela de bruços. Eu vou morrer aqui. Eu vi Paula usando magia. Eu vi um lobisomem, mesmo que tenham tentado apagar minha memória. Provavelmente vi mais que meu pai.

Eu sei demais.

— Laura?

Prendo a respiração quando escuto a voz de Lavínia. Agora que ela me chamou, tenho a impressão de que ouvi batidas na porta, mas...

— Laura, eu sei que você está aí.

Claro que sabe, ela está me farejando ou me sentindo com magia, porque ela também não é humana. Não tem como alguém aqui ser humano, além de mim. Mesmo assim, não respondo.

Lavínia não chama de novo, mas poucos segundos depois escuto o barulho da porta se abrindo.

— Vai embora — resmungo sem me virar.

Ela não responde. Sinto uma mão encostar no meu ombro e me sento depressa, virando o braço por puro instinto e acertando um tapa no braço de Lavínia.

— Não encosta em mim!

Lavínia me encara, de olhos arregalados e ainda com o braço estendido, enquanto eu pulo para o outro lado da cama. Estou tremendo, e com direito. Não faço ideia do que ela pode fazer comigo. Não tenho a menor noção do que pode acontecer, só tenho certeza de que ela não é humana. Nem ela nem ninguém nesse casarão.

— Laura... — Ela começa, abaixando a mão, e eu cruzo os braços.

— Vai me dizer que estou imaginando coisas? Que o que vi lá embaixo não aconteceu? — Pergunto, sem nem me preocupar se estou quase gritando.

Refém da Noite - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora