Os Senhores: O Segredo De Aureatus

Capítulo 3 - Regras

  Ele notou, em algum momento dessa espera, a garota de minutos atrás posta do outro lado, no círculo branco junto com um bom tanto de novatos pertencentes ao Império do Tempo. Ela não o encarou nenhuma vez, estava na linha de frente e tudo o que fazia era olhar para o chão ainda com as mãos nos bolsos de seu casaco.

  Assim que todos encontraram seus lugares, o homem alto no círculo central começou:

— Boa noite à todos.

  Houve um boa noite em uníssono de volta antes de uma continuação.

— Meu nome é Scar, sou o diretor desta honrada e respeitada Academia, estou aqui para lhes desejar boas vindas e lhes informar algumas coisinhas... mas primeiro... - E então ele sorriu para todos e começou a movimentar seus braços de modo característico.

   Um pequeno susto então tomou grande parte dos alunos quando o círculo ao qual Scar se encontrava começou a subir até que a parte debaixo, uma continuação em formato de cilindro arredondado, se mostrasse cada vez mais.

  Nós quase não conseguíamos vê-los de onde ele agora estava de tão alto que o mesmo se encontrava.

- Uau. - Henry escutou uns e outros falarem - Incrível!

  E no mesmo momento, foi a vez dos cinco círculos se erguerem também até estarem na mesma altura do círculo central a poucos metros de distância.

  Mais murmúrios de surpresa se revelaram, certamente daqueles iniciados que não moravam em Aureatus com os pais, por isso não presenciavam pequenas coisas como aquela.

— Bem, agora podemos começar. — Scar afirmou, sorrindo. — Como já devem ter notado — E apontou para seu próprio cabelo. — Eu sou um Senhor Elementar e, como tal, domino os quatro elementos naturais: água, fogo, terra e ar. — Ele girava em torno de si mesmo, às vezes, para encarar a todos de forma igual. — Com isso, eu posso erguer estruturas da terra como agora, posso criar fogo das minhas próprias mãos... — E abriu a mão direita que logo em seguida incendiou-se. — Posso até manipular o som que se propaga pelo ar, assim vocês podem me ouvir como agora sem que eu precise de um microfone.

   Henry então notou que os futuros Senhores Elementares estavam maravilhados com os poderes do diretor, e não só eles como muitos dos outros Impérios também. Mas para a surpresa do garoto, ela, a garota de antes, apenas estava revirando os olhos como se aquilo fosse a coisa mais entediante do mundo.

— Continuando... vocês escolheram se pôr no círculo ao qual estão agora porque concluíram que era o círculo referente ao seu Império, não é? -  Questionou Scar que ficou em silêncio por um momento para deixar um mistério no ar. — Pois fizeram certo. Mas devo lhes avisar que nem sempre o Império ao qual vocês se põem é de fato o que permanecerão.

   Houve murmúrios, então. Henry sabia do que ele falava.

— Peço que não julguem os filhos daqueles que pularam a cerca ou preferiram se juntar mesmo pertencendo a Impérios diferentes, pois lembrem que não é proibido tal união, apenas não é aconselhada para evitarmos isso futuramente... - E apontou para o círculo azul vazio ao lado do nosso. — A maioria aqui sabe, mas alguns não, então explico: eles viveram há milênios e eram muitos como vocês, acreditem... mas quando se uniram a Impérios diferentes, afim de constituir uma família, demoraram a notar que seus descendentes pertencentes ao Império das Estrelas estavam nascendo cada vez em menor quantidade. — Todos estavam em silêncio, a atmosfera que antes estava descontraída, agora estava tensa. — Os poucos que sobraram se juntaram uns com os outros ou com humanos, mas tinham apenas um filho ou dois quando eram com iguais, e com seres humanos ainda era raro nascer sendo um Senhor das Estrelas. — Scar acabou por suspirar.

  Alguns se entreolhavam e outros se mostravam claramente tocados pela situação contada.

— O que lhes aconselho é que namorem com outros Impérios se quiserem, se peguem, se agarrem, aproveitem, mas que seja apenas o que vocês chamam de "lance momentâneo". Pensem no futuro de nossa querida terra de Aureatus. Não queremos dar adeus a mais um Império de Senhores. - Terminou falando mais baixo.

   Houve suspiros, murmúrios, perguntas. Henry apenas continuou em silêncio.

- Ah, mais uma coisa: assim como em nosso mundo lá fora, vocês podem circular pelos limites criados para cada Império dentro desta Instituição, contudo os limites são apenas até a sala de jogos dos prédios dos dormitórios, nada de entrar em outros quartos que não sejam os seus, caso sejam pegos, haverá punições para todos, tanto para o visitante quanto para os donos do quarto.

  Uns garotos ao lado de Henry riram baixinho das palavras do diretor. Estava nítido de que iriam aprontar en breve

— Para os que não sabem, é permitido sair dos domínios deste lugar depois do horário das aulas para onde quiserem, isso é problema de vocês, mas deixo claro que os portões fecham à meia noite. Se não chegarem a tempo, fiquem sabendo que no outro dia haverá punições que serão dadas por seus supervisores. - Scar informou. - Por hoje é só, pessoal. Durmam cedo porque amanhã terão que estar de pé às sete para o café e depois para as aulas.

   E, com isso, Scar bateu duas vezes com um pé na superfície do círculo ao qual se encontrava, fezendo o mesmo descer seguido de todos os outros cinco a sua volta.

  Quando finalmente todos retornaram ao o térreo, haviam quatro garotas, cada uma com cabelos de acordo com o círculo diante de si.

— Estas são suas supervisoras e mentoras, elas lhe ajudarão ao longo do ano. — Scar disse. -Acompanhem-nas, vão lhes levar aos seus dormitórios.

  Henry encarou a mentora diante de si, essa que tinha os cabelos de um vermelho intenso, provavelmente estando no último ano dali.

  Sen pressa, o garoto deixou o pessoal no qual dividia espaço ir na frente e, antes de se juntar a eles, voltou seu olhar para o círculo branco na chance de ainda conseguir vê-la uma última vez naquele dia e, para sua surpresa, a garota mal tinha se mexido, estava parada, em silêncio com os olhos fixos no círculo azul.

  Então, pela primeira vez na vida, assistindo aquela cena, Henry quis ser um Senhor da Mente só para poder saber o que ela pensava.