Capítulo Três - Parte 1

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— E aí, Rick, faz tempo que não te vejo. O que vai ser? O de sempre? Jack Daniels?

— Isso. E para Laura pode ser uma Coca...

— Uma cerveja para mim — interrompi. Como se eu fosse entrar em um bar para tomar refrigerante. — Tem Stella?

— Você não devia pedir cerveja — Rick falou, depressa, e me virei para ele, estreitando os olhos. — Não combina com você. Não é feminino. Você não devia...

Ele se calou. Eu queria pensar que era porque tinha notado a besteira que estava falando, mas sabia que não era. Rick não era o único cara a achar que mulheres não deviam beber, longe disso. Era uma visão bem comum na cidade, na verdade. Eu só não entendia como tinha engolido aquilo por tanto tempo. Quantas vezes Rick me disse que não devia fazer alguma coisa e eu aceitei, só para evitar uma briga?

Bom, se ele queria algo mais feminino, sem problemas.

— Ele tem razão. — Me virei de volta para Saulo. — Um Long Island Iced Tea, então.

Ele mudou o peso do corpo de uma perna para a outra, balançando a cabeça antes de falar.

— Acho que o que você quer não é o Long Island...

E, claro, ele sabia melhor que eu o que eu queria pedir. Por que não me surpreendia? Já tinha um namorado que achava que podia pedir refrigerante para mim em um bar e que mulheres não deviam beber, um garçom que quer fazer meu pedido por mim não era nada demais.

— Coca-cola, gim, rum, vodca, tequila, curaçau e limão — falei e vi os olhos de Saulo se arregalarem. — É isso mesmo que quero. Vocês têm?

Ele assentiu e se afastou depressa, sem falar mais nada. Só então me virei para Rick, que estava me encarando com uma expressão tão perplexa que chegava a ser cômica. Ele abriu a boca e a fechou, balançando a cabeça, e levantei as sobrancelhas.

— Tem certeza de que vai beber isso, Lau? Esse drink tem cara de ser forte e você nem bebe! Não acho que seja uma boa ideia...

Provavelmente não era. Fazia dois anos que eu mal bebia. Mas duvidava que um drink fosse me derrubar, mesmo assim. E, mesmo que derrubasse, qual era o problema? Por que só ele podia beber até mal conseguir ficar de pé, como sempre fazia nas festas e quando saíamos com seus amigos?

E eu estava cansada daquilo. Tinha aceitado tudo para evitar brigas, porque brigar não ia adiantar nada. Ter voltado para Monte das Pedras depois de tudo que precisei fazer era prova disso. Mas não brigar significava me conformar e jogar minha vida fora. Meu pai estava muito mais certo do que imaginava. Se eu ficasse quieta, nada ia mudar. Eu ia ter exatamente a vida da qual sempre tentara fugir. Então estava acabado. A Laura que aceitava calada ia deixar de existir, porque ela nunca nem deveria ter existido.

— Eu não bebo aqui — falei, pegando o menu e começando a olhar os aperitivos. Não queria comer nada, na verdade, mas era uma boa forma de não precisar encarar Rick.

— Belo Horizonte, não é? Você bebia quando estava lá?

Revirei os olhos.

— Claro que bebia.

Rick balançou a cabeça, me encarando, sério.

— Bem que eu falei que não devia ter ido. Olha só isso. — Ele balançou a cabeça de novo.

Saulo voltou, me poupando de responder, e colocou nossos drinks na mesa. Tomei um gole e sorri, encarando a rua. Não queria brigar. Mas também não ia ficar calada enquanto Rick falava como eu devia viver a minha vida. Talvez, se não falasse nada, ele deixasse o assunto para lá. Por que tinha chamado Rick para vir comigo? Era óbvio: porque ele era meu namorado. Tínhamos que sair juntos, certo? E, se eu tinha um namorado, não podia sair para me divertir sem ele, não é?

Refém da Noite - DegustaçãoWhere stories live. Discover now