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André

Passeava a comida dentro do prato, arranhando-o algumas vezes com o garfo. Estava tão distraído, que pouco ou nada dava atenção às reclamações do Afonso, devido ao barulho irritante entre o prato e o garfo.

Após tantos protestos, acabei por pousar o garfo no prato com alguma força, encarando o meu irmão.

- Não estou para esta merda.

-O que se passou? - Arqueou a sobrancelha, perante o meu tom. - Diz-me que não foi outra vez a Diana?

Mantive-me em silêncio.

- Foda-se ó André, já começa a ser demais. Até os jogos prejudicaste por causa dela!

Encolhi os ombros, sabendo que ele tinha razão. Tinha imensa dificuldade em separar a minha vida profissional da pessoal, principalmente no que dizia respeito à Diana. O que sentia por ela não só despertou, como se intensificou sem que tivesse noção disso.

Por um lado adorava as sensações que a Diana me transmitia sempre que estávamos juntos, mas por outro detestava o que sentia quando nos chateávamos.

Era uma espécie de querer guardar todas as sensações, como arrancá-las de mim.

- A Diana não te está a fazer bem, será que não vês isso? Vocês não se estão a fazer bem um ao outro, André. Olha como ficas tolo por causa dela.

- E é suposto fazer o quê? Eu gosto da miúda, Afonso.

Encolheu os ombros.

- Quando um dia deixares de cheirar todas as raparigas e ficares-te por uma, voltamos a ter a mesma conversa e vais perceber.

Coloquei o prato na bancada da cozinha, deixando a divisão.

Dirigi-me à sala de estar, tencionando jogar para me abstrair. Acabei a jogar FIFA, como todas as tardes sem nada para fazer com o Afonso ou com os meus primos. Nem o jogo me corria bem, o que me deixou ainda mais irritado.

Entretanto, a campainha fez-se ouvir. Esperava que não fosse nenhum dos meus primos, pois não tinha paciência para tanto movimento.

- André, é para ti.

O tempo de me levantar do sofá, foi o tempo da Diana adentrar na sala de estar. Arqueei a sobrancelha, reparando que estava somente com a parte de cima do biquíni, com uns calções juntos e com umas havaianas pretas.

Usava também uns óculos de sol, embora os ter colocado na cabeça, puxando os cabelos soltos para trás.

- Vou ter que te implorar para vir?

Queria que o fizesse, que me explicasse o porquê de tanta distância. Também tinha os meus jogos, os meus treinos, as minhas saídas em equipa, mas não deixava de ter tempo para a minha namorada. Porque raio com ela é diferente? Tem que pôr o trabalho à frente de tudo, deixando de ter tempo para mim?

E depois, ainda tem coragem de dar a entender que a ando a controlar ou que sou possessivo, quando apenas quero estar com ela, já que se ficar à espera, vão ser outros três anos para voltar a estar com ela.

- Desculpa por não ter estado contigo. - Murmurou, aproximando-se de mim. - E por só perceber isso por causa da discussão.

- Não tens que ir trabalhar? - Ignorei totalmente o que disse, sendo um pouco rude.

- Estou de folga.

Pelo menos um de nós tentava não discutir outra vez e essa pessoa não era eu. Obviamente que não queria discutir, mas não deixava de me sentir uma... Segunda opção.

- Vais fazer-me ir à praia e ao cinema sozinha? - Arqueou a sobrancelha. - Ou pedir a outra pessoa para vir comigo?

- Faz como quiseres. - Sentei-me no sofá, encarando-a.

- Bem, sempre posso pedir a um dos rapazes, já que o filme é assim... - Limpou a garganta, olhando-me provocadora. - Cinquenta sombras mais negras, sabes?

- Estás a tentar provocar-me, Diana?

- Se isso te fizer vir comigo, sim. - Sentou-se à minha frente. - André, deixa-me compensar-te por ontem e pelos outros dias.

- Para acontecer o mesmo?

- Não, prometo que vou ter atenção a isso. - Senti os seus dedos nos meus lábios. - Vais ver-me de biquíni, nem isso te convence? - Brincou, levando-me a balançar a cabeça. - Olha que outros podem olhar...

- És impossível, juro-te. - Segurei ambas as suas mãos. - Vou só trocar de roupa, então.

Sorriu vitoriosa, encostando os lábios aos meus.

Apercebi-me que o Afonso tinha entrado na sala, quando comecei a subir as escadas. Decidi voltar atrás, apenas por precaução. Garantir que o Afonso não falava demais.

Cumprimentou a Diana e ainda perguntou se queria jogar com ele, enquanto esperava por mim, pois provavelmente iria demorar. Após aceitar o convite, questionou o quão grave estava chateado com ela, pois apesar de ter aceite a ida à praia, a Diana não estava convencida, continuava a achar que estava chateado.

Por sua vez, o Afonso disse o que tinha a dizer. O mesmo que me havia dito à mesa. Enquanto não soubermos estar um com o outro, vamos ser tóxicos.

E talvez isso fosse verdade.

Closer × André Silva ✔On viuen les histories. Descobreix ara