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André

Provavelmente as atenções tinham-se virado todas para a minha atitude impulsiva, mas neste momento não era o que mais me importava. Eu sabia que ela estava a fazer de propósito. Era demasiado óbvio e claro, como já estava um pouco tocado pela bebida deixei-me levar e fui fazer aquela figura.

Passava as mãos pelo cabelo totalmente irritado. Pontapeei o pneu do meu carro, encostando-me depois à porta ainda irritado.

- O carro não tem culpa. - Ouvi a voz do meu irmão e olhei imediatamente para o lado vendo-o a aproximar-se com Filipe.

- Pois não, eu é que sou um burro do caralho. - Levei as mãos à cara e suspirei de frustração. - Depois da conversa que tivemos, vai-me provocar assim à descarada? Ela conhece-me foda-se, sabe que sou impulsivo, ainda para mais quando já bebi um bocado. O que aliás nem devia ter acontecido. - Explodi enquanto os dois rapazes apenas me observavam. Sabiam que tinha de libertar a minha frustração ou a noite iria acabar mal.

- André tens de manter a calma! - O Filipe pronunciou-se tentando colocar uma das mãos no meu ombro, mas eu afastei-me.

- Mas qual calma? Isto nunca vai acalmar, nem depois da conversa na praia. Ela vai fazer de tudo para me provocar.

- Desculpa dizer-te isto e eu sei que ela esteve mal mas... não fez nada do que já não lhe tivesses feito. - O Afonso falou a medo e eu lancei-lhe um olhar reprovador.

- Estás a gozar com a minha cara Afonso? Já não temos idade para andar a brincar ao gato e ao rato!

Comecei a rogar-me todas as pragas possíveis tal como a ela também. Deixando escapar algumas asneiras pelo meio. Ouvi a música ficar mais alta, sinal de que tinham aberto a porta do bar.
Alguns passos pela terra batida do estacionamento e quando voltei a olhar para o meu irmão e o meu primo eles encaravam alguém atrás de mim sem saber o que dizer, ou como reagir. Arqueei a sobrancelha e virei-me para trás arrependendo-me logo de seguida. Revirei os olhos e os dois rapazes caminharam de novo para o bar, sem proferir nenhuma palavra.

- Podes ir também. - Falei bruto sem tirar os meus olhos dela.

- Não vou sair daqui. - Cruzou os braços e manteve-se no mesmo sítio. - O que é que te deu? - Perguntou depois de algum tempo em silêncio.

Soltei uma gargalhada irónica.

- Tu só podes ter bebido demais para me estares a fazer essa pergunta, Diana. - Voltei a falar bruto e ela caminhou até mim. Recuei mantendo uma certa distância entre nós. Estava demasiado irritado ainda.

- Custa provar o próprio veneno, não é? - Cerrei os punhos. Como é que ela ainda tinha o descaramento de me vir provocar aqui fora. Acabei por perder a calma e dei um murro num tronco de uma árvore que estava perto de mim. - André, tu passaste-te? - Gritou aproximando-se novamente de mim.

Não lhe respondi. Nem olhei para ela. Abanei a mão tentando aliviar a dor, que até nem era muita. Mas tinha feito alguns cortes que já começavam a arder.

- Desculpa. - Ela falou deixando escapar um longo suspiro e eu olhei para ela. - Eu admito que estive mal. Depois da conversa que tivemos na praia, não queria voltar ao mau ambiente mas o meu orgulho falou mais alto.

- Para a próxima, engole-o. - Ela acabou por começar a rir à gargalhada. Talvez por já estar tocada pela bebida.

- Mas estás a rir-te do quê? - Perguntei a lutar contra a vontade de rir também. Apesar de continuar chateado as gargalhadas dela não deixavam de ter alguma piada. Consegui manter-me sério e agradeci-me mentalmente por isso.

Virou-se de lado para mim com as mãos na barriga e tentou acalmar a respiração assim como as suas gargalhadas. Sem me aperceber já estava a ser puxado por ela para dentro do bar, em direção à zona das casas de banho. Entrámos na dos rapazes que estava absolutamente vazia. Ela nem me deu tempo para nada, puxou novamente o meu braço e colocou a minha mão debaixo da água fria da torneira.

- Foda-se. - Queixei-me quando senti o contacto da água com as pequenas feridas abertas nos nós dos meus dedos.

- Não te armasses em engraçado! - Falou sem olhar para mim, fazendo-me revirar os olhos. Como se a culpa não tivesse sido dela.

- Se não me tivesses provocado, nada disto teria acontecido! - Respondi-lhe no mesmo tom de voz, fazendo com que virasse a cara para mim.

- Não te devia afetar assim tanto. - A água continuava a escorrer por cima da minha mão e as nossas caras estavam a uma proximidade bastante perigosa. Ainda por cima com os ânimos exaltados.

- Depois da conversa que tivemos, estás a dizer-me isso?

- O que queres que te diga?

Os nossos olhares estavam presos um no outro. A minha irritação tinha-se evaporado subitamente. Conseguia sentir a respiração acelerada dela, tal como a minha. Um silêncio enorme tinha-se apoderado daquela casa de banho. A única coisa que se ouvia era a água a correr e a minha mão já nem sequer lá estava.

Entretanto a porta foi aberta ambos olhamos para a mesma, vendo o Afonso de olhos arregalados.

- Ups, momento errado. - Voltou a fechar a porta.




✨✨✨
😶😶

Closer × André Silva ✔Where stories live. Discover now