Cap. 14

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Nayomi

Espero que ele não demore tanto assim. Ele está a só um dia longe, mas já sinto uma imensa saudade daquele homem, quanto o mais rápido ele voltar, melhor.

Nunca desejei tanto uma coisa na minha vida. A sensação de ter alguém com quem se preocupar, ter alguém para pensar e que vai estar com você não importa o que for, é muito boa. Quando estou com ele, é como se tudo que passei, todas minhas feridas, fossem embora. Ele é tudo o que faltava em mim.

Se me dissessem que eu conheceria o amor de um jeito tão louco, é claro que eu chamaria essa pessoa de louca.

Quem diria que eu, logo eu, iria encontrar o amor.

Dou um leve sorriso olhando o tempo fechar lá fora. As nuvens estão tão cinzentas que parece noite por aqui, sendo que ainda é tarde.

A chuva sempre me traz lembranças, sejam elas boas ou ruins. A maioria são ruins, mas sempre há uma pequena parte que me trazem coisas boas.

Me lembro exatamente de uma vez em que eu voltava dá escola e começou a chover bem forte, minha casa está bem longe ainda.

Corri o mais rápido que pude.

Tanto eu, quanto minhas coisas já estavam molhadas. Eu não me importava com mais nada, só queria chegar em casa. Quando cheguei, não tinha ninguém em casa. Fiquei lá na varanda agachada tentando me aquecer enquanto chorava em silêncio.

A cada vez que trovejava eu pensava que um monstro estava mais próximo de me pegar. Fiquei lá por... acho que por umas duas horas, que pareceram uma eternidade.

Eu estava com fome, frio e assutada.

Até que alguém tocou meu braço e vi minha mãe. Ela me levantou e me abraçou, e seu abraço era tão quente e reconfortante. Foi uma das raras ocasiões em que ela me abraçou.

Eu sentia meus ombros molhados e tinha certeza que não era chuva. Talvez ela estivesse chorando, mas não me recordo.

Ela me levou para dentro e me fez um chocolate quente e depois me colocou na cama e dormi quase que instantaneamente.

Não sei se ela estava sóbria, mas naquele dia eu desejei que fosse assim todos os dias. Eu me molharia e ficaria todos os dias esperando na varanda, só para ter minha mãe cuidando de mim.

Sorrio com esse pensamento e uma lágrima solitária desce nesse exato momento e é enxugada rapidamente por mim.

Dessas lembranças eu tenho prazer de lembrar, mas tem outras que gostaria de esquecer.

Como da vez em que minha mãe tinha saído e estava só eu e meu padrasto em casa. Estava chovendo muito lá fora. Eu estava em meu quarto, e como sempre, eu não conseguia dormir por conta da chuva.

Começou a trovejar sem parar.

Até que soou um trovão tão forte que eu pensei que o monstro estava em meu quarto. Corri para sala onde meu padrasto estava e o abraçei. Não era minha melhor opção, mas ele era a única pessoa que podia me manter "segura" do monstro. Contei a ele sobre o monstro e a única coisa que ele fez foi rir e me jogar com violência no chão. Ele me disse coisas horríveis e pegou em meu braço e falou que se eu o incomodasse de novo eu iria ver quem era o verdadeiro monstro. Então ele me arrastou para fora de casa e me deixou do lado de fora. Só alguns minutos depois ele abriu a porta.

Naquele dia eu aprendi que não importa o quão assustadora fosse a ocasião, deveria aguentar tudo sozinha.

Dessas lembranças quero distância.

O Amor De Um PsicopataOnde as histórias ganham vida. Descobre agora