Cap. 10.1

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Azekel

- Sofri por quase minha vida toda com um pai alcoólatra que sempre me batia quando estava consumido pelo álcool. Minha mãe largou meu pai quando eu era bem pequeno para ficar com outro homem. Ela me deixou sozinho. Na época eu era bem pequeno para entender o porque dela não ter me levado junto e passei a odiá-la por isso. Que mãe deixa seu filho com uma pessoa tão podre, mesmo sendo meu próprio pai? Eu passei minha infância e adolescência remoendo isso enquanto eu apanhava e sofreria calado todo o santo dia daquele monstro. Quando ela quis me levar eu nem quis olhar na cara dela. Só anos depois é que fui saber pelo meu próprio pai, enquanto ele me batia, que ele mesmo não deixou que ela me levasse, e que tudo que acontecia de ruim na vida dele era por minha culpa, em suas palavras eu era a pior coisa que ele já fez. - minha voz começa a embargar, mas eu continuo. - Um grande erro que não devia ter nascido. Por incrível que pareça eu não tinha raiva do meu pai, eu achava que ele não conseguia lidar com nada que acontecia e se afundava no álcool. Mas o pior é que ele descontava toda sua raiva e frustração em mim. No dia em que ele me contou sobre isso, passei a criar um grande rancor que foi se transformando em puro ódio e só piorava a cada soco, empurrão ou chute que ele me dava, então na noite seguinte em que ele retornava a me espancar, consumido pelo ódio eu peguei uma faca na cozinha e cravei a faca em seu peito, mas eu ainda não estava satisfeito. Foi um golpe e depois outro e outro e mais outro. Quando vi já estava todo ensanguentado. Olhei para o meu pai e não senti nenhum pingo de arrependimento, mesmo ele sendo o meu pai eu não conseguia sentir nada, eu até gostei daquilo tudo. Foi libertador a sensação. Depois desse incidente eu fui parar numa casa de menores infratores. O tempo em que fiquei lá só contribuiu com o que sou agora. Tinha um garoto que sempre arrumava um jeito de fazer da minha vida um inferno. Eu dividia o quarto com ele. Ele era um daqueles típicos valentões que arranjam confusão por nada, no caso seu único alvo era eu. Eu não podia fazer nada, porque na época eu era um garoto magricela e não teria nenhuma chance contra ele. Sempre que podia ele me surrava ou me insultava da pior forma possível. Eu apenas sofria calado, mas eu percebi que se consegui me livrar do meu sofrimento de anos, porque eu deveria continuar aguentando tudo aquilo se eu podia acabar de vez, cortar o mal pela raiz. Em uma noite de chuva eu tinha roubado da cantina uma faca de cortar pão. Retornei para o quarto sem que ninguém percebesse e esperei até que ele durmisse. enquanto ele estava dormindo eu desferi golpes de faca em seu pescoço. Foi uma morte quase que instantanea, ele agonizava enquanto o sangue jorrava, foram os segundos mais longos da minha vida, até que ele parou de se mexer. Ele estava morto. naquela noite eu também senti a mesma sensação. Matar pela segunda vez me fez querer mais. Um ano depois eu já estava solto. E um por longo tempo eu deixei esses pensamentos sombrios de lado, tentei esconder e tirar de todas as maneiras isso de mim, mas sempre esses pensamentos me perseguem. Depois da terceira morte eu não parei mais. A cada morte eu não sentia mais nada. Eu apenas gostava da sensação daquilo.

- Nossa... Eu não sei nem o que dizer sobre isso tudo. Eu também já sofri muito nessa vida...

- Eu sei disso. - ela olha para mim surpresa.

- Acho que eu já devia prever isso. - ela coloca sua mãos nas coxas e olha fixamente para elas. Só depois de alguns segundos ela volta a me olhar. - Então já que você sabe o que eu sofri, deve saber que nem por isso eu sai por aí matando as pessoas. Eu acho que eu entendo você, apesar de não achar que o que você faz é o certo. Tudo bem que seu pai e aquele garoto mereceram, mas enquanto aos outros? Você não tinha o direito de decidir se eles vivem ou não...

- Eu sei disso. - eu aumento o tom de voz e ela se assusta e me arrependo na hora. Eu dou um suspiro para tentar me acalmar - Você acha que mato as pessoas aleatoriamente? Todas aquelas pessoas mereciam de alguma isso. Se não era por roubar dinheiro das pessoas, era por maltratar, agredir ou até mesmo matar. Eu sei que matá-los não era a única saída, mas eles sempre dão um jeito de distorcer as coisas e ainda debochavam sobre aquilo que fizeram, a lei nem sempre cumpria seu papel. Sempre tinha um motivo para aquilo, mesmo eu sabendo que matá-los era um modo muito radical de puní-los. Mas eu não importava nem um pouco com isso. Até o dia que você apareceu. Tudo ficou confuso para mim. Quando vi você, eu senti algo que me puxava para fora desse meu lado obscuro, você me fazia sentir mais humano. Eu não entendia o porque disso tudo, o do porque me sentir fortemente ligado a você, o porque de não conseguir ao menos te machucar. Cada dia mais eu me afundava em você. Eu estava perdendo quem eu realmente era, me distanciando mais e mais a cada segundo que ficava perto de você. Foi tanto que depois que você entrou na minha vida, eu não conseguia mais matar ninguém, você me estragou para isso. Não sinto mais vontade de matar ninguém. Pela primeira vez eu polpei alguém e para completar eu ajudei uma pessoa que sequer conhecia e me senti bem com isso, e ao mesmo tempo irritado, eu estava irritado porque você era a razão disso. E ontem eu percebi que isso tudo que eu sinto por você tem nome.

O Amor De Um PsicopataOnde as histórias ganham vida. Descobre agora