XXI - Pode não ser tão ruim - Sirius

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Nem parece ser tão ruim assim... Pensou consigo mesmo.

Viram a egües do conselho vir até eles para lhes entregar suas listas de afazeres.

— Só precisam fazer o que está aí... — Disse ela. — No resto do tempo estão livres para fazerem o que desejarem.

Sirius olhou os itens e pensou: Nem parece muita coisa comparado à lista de Groleo...

Sentiu um aperto no peito ao pensar no amigo. E onde ele está...?

Comparou com a de Anima que era praticamente igual. Então tentou novamente interagir com o garoto que ainda estava junto com eles dizendo para compararem concluindo que era muito a mesma coisa também.

— E se incomoda se eu perguntar seu nome outra vez? — Falou envergonhado.

O rapaz sorriu sem mostrar os dentes e estendeu a mão.

— É Hiems.

— Sirius. — Retribuiu o gesto um pouco confuso. — Me desculpe, não sou muito bom em conhecer pessoas...

— Sem problemas, não sou o melhor nesse sentido também. — E os dois soltaram um pequeno riso pelo nariz.

A garota ao seu lado acenou com a cabeça e disse um "Anima" sem expressão. O guardião do gelo a cumprimentou de volta e Sirius se virou para a amiga.

— Você lembra se nos apresentaram onde come? Porque fome é o que não me falta...

— Não deve ser no armazém?

— Bom, — disse ponderando a ideia. — Faz sentido.

Foram até o local onde encontraram algumas mesas e outras pessoas se alimentando. Depois da refeição, saíram de volta ao pátio central novamente sem rumo.

— Eu acho... — Começou Anima com a voz numa animação forçada. — Que você deveria tentar fazer mais alguma coisa com esses seus novos poderes...

E a garota esboçou um sorriso ladino e arqueou as sobrancelhas. Sabia pelo seu tom que ela não estava feliz ou animada, mas que queria, e de certo modo estava, por ele e que no fundo tinha apenas a intenção de lhe incentivar...

Além de que o garoto queria muito saber o que mais podia fazer.

— Posso ir com vocês? — Perguntou Hiems em voz baixa como se não quisesse interferir.

Os outros dois deram de ombros e apenas concordaram.

Enquanto procuravam por um espaço vago entre os grupos de pessoas, Sirius cogitava o que poderia tentar fazer. Pensou em repetir o do dia anterior, mas preferia algo novo ou que fosse diretamente mais ligado a auxiliar em uma luta... Como invocar um escudo, por exemplo.

No meio de um espaço aberto, colocou os dois braços deitados na frente do corpo, os fez encostar e os abriu novamente.

Um leve brilho e em seguida um pequeno escudo bem fino flutuaram na sua frente por alguns segundos.

A alguns metros, Anima, que estava sentada ao lado de Balírion encostada na árvore, gritou para ele em tom de deboche:

— Isso é o melhor que pode fazer?

— Está me desafiando?

A garota olhou para cima fingindo pensar na resposta antes de falar dando de ombros:

— Sim.

— Vamos ver então. — Respondeu rindo.

Porém, em sua segunda tentativa, apesar de ter sido um pouco melhor, não foi suficiente.

— Acho que você deveria pensar menos em tentar, — disse Hiems em pé ao lado da mesma árvore — e se concentrar em ver o escudo mesmo.

Sirius ficou confuso com a explicação. Até porque Groleo tinha demonstrado todos os movimentos enquanto contava as histórias, como se fosse uma encenação, mas nunca chegou a parar e os ensinar de verdade o que fazer, como durante os treinamentos físicos e de armas...

Talvez não quisesse levantar suspeitas...

Limpou a mente desses pensamentos e voltou a se concentrar, porém dessa vez já imaginando o escudo pronto na sua frente.

Quando tentou pela terceira vez, um escudo de madeira robusto, um pouco pequeno, se materializou em sua frente e caiu no chão sem desaparecer.

— Olha só. — Elogiou Anima admirada, mas sem deixar o tom sarcástico.

— Obrigado. — Respondeu tanto para ela, quanto para Hiems por causa da dica.

O outro guardião respondeu apenas com um aceno e continuaram a fazer novas tentativas e testes.

***

No dia seguinte, colheram batatas, além de fazer novos experimentos. No outro, afiaram armas e Sirius e Hiems já conseguiam fazer escudos de qualidade suficiente. No próximo, deveriam sair para caçar, contudo foram informados dos problemas com a carne esverdeada. Aparentemente, não era uma doença e sim um veneno que os nakoushiniders colocavam nos animais que, se ingerido, tirava os seus poderes e os fazia envelhecer mais rápido... Consequências que, pelo que entendeu, os transformava em humanos comuns.

A cada dia que passava e acabava, Sirius sentia que perdia mais as esperanças de encontrar Groleo, na verdade, um sentimento de abandono surgia aos poucos em seu interior, como se ele tivesse simplesmente sumido e os deixado para trás... O que, na realidade, fora exatamente o que aconteceu.

Por outro lado, começava a apreciar aquele novo ambiente. Havia sempre alguém por perto, não esperava Anima sozinho, não fazia nenhuma refeição sozinho, nenhuma tarefa, nada. Pensar que não tinha que temer a demora das pessoas, porque isso não significaria ficar só com suas ideias e pensando nas piores possibilidades, era uma projeção boa.

Além disso, avançava no controle de seus poderes a cada dia: o seu corpo se acostumava à magia e aos movimentos; sua mente associava tais coisas com mais rapidez; e uma das melhores conquistas era que conseguia escolher a planta que produzia, não tinha que fazer apenas cactos.

Porém, o melhor de tudo era a união das duas coisas: tinha ajuda para lidar com aquilo.

Por mais que tentasse fazer as magias sem auxílio, sempre alguém aparecia para lhe dar alguma dica, comentar um pequeno detalhe, demonstrar... Era quase fácil aprender sobre aquilo que até então não julgava ser real.

E Balírion já voava sozinho e era um pouco mais alto que ele (uma de suas descobertas durante aquele ciclo de lua era que os dragões cresciam numa velocidade impressionante nos primeiros meses), e segundo os outros guardiões, eles poderiam voar juntos em menos de uma semana! Estava extremamente empolgado.

No entanto, o contexto estragava tudo: cada vez que um grupo de patrulha retornava, informavam a piora da situação. Os nakoushiniders pareciam estar em todos os lados e em lugar nenhum.

Fazia um mês que ele e Anima tinham se juntado aos outros e entrado naquela luta. Mas só a ideia daquela situação lhe dava motivação para querer mudar as coisas.

Com certeza, não queria a Tal Guerra que todos falavam, mas se pudesse ajudar de outra forma...

O que não podia, até aquele momento...

Os GuardiõesWhere stories live. Discover now