Gêmeos em Ação

Capítulo 12 - Bons sonhos

O dia mal clareou e eu já estava acordada, a verdade é que mal consegui dormi. Pesadelos me fizeram despertar inúmeras vezes ao longo da noite. Meus olhos estão pesados e pedem para que eu ceda e durma, mas não quero correr o risco de acordar assustada, com a respiração ofegante e suando de novo. A sensação de estar presa em um sonho, sendo atacada, é quase tão horrível quanto a própria realidade.

Fiquei deitada fitando o teto, León dormia tranquilamente ao meu lado, tentei não pensar muito no que aconteceu ontem, mas cenas do ocorrido bombardeavam minha mente. Então decidi pensar em outra coisa, ou melhor, em outro alguém. Pensei em Tracey, em como ele foi nobre ao me salvar e arriscar a própria vida por uma pessoa que supostamente ele não conhecia. São esses gestos que mantêm o altruísmo vivo, mesmo em uma sociedade egoísta e competitiva como esta.

Nem pude agradecê-lo, faltou-me coragem ontem, mas hoje não a nada que me impeça, nem mesmo meu orgulho.

-O que faz acordada? Ainda está cedo - disse León me pregando um susto.

-Acordei de repente... - digo evasiva.

Me levanto da cama e não me demoro para entrar no banheiro, não quero responder perguntas a essa hora e muito menos que tenham pena de mim, me sentiria mais humilhada.

Mais uma vez tento tirar as lembranças de ontem com bucha e espuma, é como se o toque deles tivessem me impregnado, corroído minha pele e alma. Se alguma vez na vida eu já tive algum sentimento por Anders, hoje, não há mais nada.

Ao sair do banho não encontro mais León no quarto, não sei se foi só eu que notei mas meu irmão anda muito estranho ultimamente, quase não nos vemos mais, estou me sentindo cada vez mais sozinha. Ainda mais sem Ivy.

Olho em direção à sacada, o tempo parece estar frio então visto uma calça jeans de lavagem escura, uma camiseta preta com estampas de flores e as palavras "Life Goes On", por cima visto um cardigan cinza e calcei um par de tênis preto. Após pentear meu cabelo usei o modelador de cachos e passei uma maquiagem leve, quase imperceptível.

Peguei uma bolsa mas a devolvi ao seu lugar, lembrei que havia perdido minhas coisas na "confusão" de ontem. Apenas coloquei algum dinheiro no bolso da calça e desci. Todos estavam à mesa, todos me olhavam apreensivos, tentei não esboçar nenhuma reação que denunciasse minha fragilidade e minha dor.

-Está tudo bem, tá legal?! - digo jogando a colher que eu usava em cima da mesa. - Agora será que dá para vocês pararem de me olhar assim?

-Tudo bem... Hum... E aonde você vai? Quer que eu ou León acompanhe você?

-Não é necessário, só vou à delegacia - digo pegando minha colher novamente.

-À delegacia? - perguntou minha mãe confusa.

-Sim, quero agradecer pessoalmente ao policial Tracey por ter me ajudado ontem - digo não querendo prolongar mais o assunto.

-Não precisa, eu já o agradeci... - dizia meu pai.