Epílogo

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NARRAÇÃO DE LOLA
    O ano conturbado havia passado. Após receber a carta escrita por Miranda, confesso que tentei ligar para ela mas não obtive retorno. Ela realmente havia me deixado.
  O final daquele ano foi horrível para mim. Ter que suportar aquela euforia de final do ano me deixava enojada. Como ficaria feliz e pensar no futuro quando me encontrava em pleno caos? No último dia do ano meu pai juntou o útil ao agradável, e cedeu aos gostos de Michele e resolveu fazer uma cerimônia matrimonial com poucas pessoas presentes. Michele ficou linda vestida de noiva com uma barriga de gravidez e satisfeita por realizar o seu grande sonho.

Meu pai estava feliz e realizado, mas ao me ver triste, sempre me tentava me consolar com um abraço. Antes de subir ao altar, eu disse que o amava e desejava o melhor para ele. Ele, por sua vez, me desejou que fosse feliz e me consolou dizendo que eu era muito nova para sofrer por amor. Mas havia idade para isso? Creio que não, mas não o questionei. Concordei com ele, pois não tinha mais forças para nada.
  A cerimônia foi simples mas muito bonita. Chorei quando na hora da troca de alianças me lembrar de que não poderia fazer o mesmo com a mulher que eu amava.
  Como nem tudo era flores, me deparei com Dona Marta e sua família de pessoas inconvenientes. Ao me ver de longe, a mulher cochichou com o marido. Sabia que estavam falando de mim, mas não me importei. Estava tão infeliz que não tinha energia suficiente para brigar com ninguém.
  Após a cerimônia, teve uma festa particular e na contagem regressiva eu me isolei e chorei enquanto os fogos de artifício faziam estrondo. Escutava umas músicas tristes quando, de repente, recebi uma mensagem de "feliz ano novo" de Erick. Ele estava comemorando com a família formidável que tinha. Se eu pudesse escolher, queria fazer parte da família dele mas, infelizmente, não era assim que a vida funcionava.
A festa acabou e com ela  ano novo chegou, deixando todos os acontecimentos para trás. Fiz uma promessa para mim mesma que tentaria reconstruir minha vida. Me levantaria em meio as cinzas como uma fênix. Por mais doloroso que fosse, eu seguiria em frente.
  No meio do mês de janeiro, me inscrevi no sisu e usei minha nota do ENEM para conseguir um curso de graduação. Como o previsto, meu pai me incentivou a colocar o curso de direito em minha inscrição, mas para o seu desagrado eu coloquei como segunda opção. A primeira opção foi letras. Meu pai não gostou nada daquilo e Michele, com seu discurso de "faça aquilo que gosta e não trabalhará com desgosto na vida" me ajudou a calar as intenções de meu pai. Afinal, era a minha vida e minhas escolhas. Apesar de ter pontos suficientes para cursar direito, eu escolhi letras por ter descoberto meu amor pela língua portuguesa e literatura. Assim como Miranda, eu queria mudar a vida de muitas pessoas, pois sem professores não há outras profissões. Quando contei para Erick a minha escolha, ele também se surpreendeu. Depois de semanas, Erick havia conseguido sua tão sonhada vaga em engenharia numa universidade federal de nossa cidade e eu consegui a vaga em meu curso desejado, mas para a surpresa de todos, era em outro estado.
   Para deixar tudo para trás era preciso recomeçar do zero e então eu resolvi que morar em outro estado seria o melhor para mim, além de deixar tudo para trás eu não conseguia me encaixar na nova família que se formava ao meu redor. Também não queria olhar para os lados e lembrar de Miranda. Meus ouvidos foram obrigados a ouvir o poder da falácia do "doutor" Lúcio. Parecia que eu era o réu em julgamento e ele era o advogado, mas desta vez quem daria o verdadeiro veredicto seria eu.
   Então, após ele ter dado o braço a torcer e aceitado a pagar uma república em Minas Gerais perto da faculdade federal que eu iria ingressar, estava eu arrumando minha mala. Levei todas as minhas roupas e alguns pertences pessoais e especiais. A última mala estava cheia quando mirei  a carta de Miranda em meio a bagunça. Eu a estava relendo e prestes a chorar quando Michele apareceu em meu quarto com sua barriga preeminente.
  - Você a amava mesmo, não é?
  Demorei alguns segundos a mais para desviar os olhos do papel e erguer a cabeça em direção à ela.
  - Eu ainda a amo.
  Percebi Michele deglutindo minhas palavras com dificuldade.
  - Sei que não deve ter sido fácil para você, Lola. Mas saiba que que sempre estarei pensando em você.
- Obrigada, Michele. Também gosto muito de você e jamais vou te esquecer e lembre-se que voltarei nas férias e em datas comemorativas. E quero conhecer logo meu irmãozinho.

A Cor Púrpura de Teus CabelosWhere stories live. Discover now