26.

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Helio Figueiredo, durante a adolescência, reforçava todos os estereótipos possíveis para um "machão". Era o melhor jogador do time de futebol, encontrava namoradas para os nerds que faziam sua lição de casa e puxava as cuecas daqueles que não o ajudavam. Conhecia cada espaço do Colégio como a palma de sua mão. Todas as noites, o jovem Figo levava uma das estudantes para passear, encostava-a em uma das árvores e trocava carícias até ela erguer a saia e ele desabotoar o zíper. Na manhã seguinte, depois que a garota arrumava o cabelo com os dedos repetidas vezes e esboçava o melhor "olá" com as bochechas coradas, Figo fingia que não lembrava o nome dela. A garota deixava o recinto aos prantos, apoiando-se nos ombros de uma ou duas amigas. Ele era o machão mais grosseiro de todo o São Dimas — exceto quando se tratavam de duas pessoas.

— O que é isso no seu braço? — Figo puxou a mão da garota e ela recuou, tentando disfarçar — Ah, não. Alice, por favor não me diga que você tentou fazer... aquilo... mais uma vez.

Você tentou fazer aquilo mais uma vez? — perguntou outro rapaz, acelerado. Este era magro, com cabelos compridos, na altura dos ombros. O corpo curvilíneo de Alice era pálido e contrastava com o vestido azul. O rosto fino era contornado por cabelos escuros que caíam feito cascatas até a metade das costas. Incomodada com o comentário dos garotos, ela escondeu o braço ao lado do corpo e desviou o olhar, pedindo que a deixassem "em paz".

Os três jovens estavam sentados ao redor de uma mesa de pedra, cercada por grama e árvores. Outros adolescentes andavam por aquele bosque, carregando mochilas repletas de livros, com as gravatas azuis afrouxadas entre uma aula e outra. Depois de alguns momentos de silêncio e olhares de reprovação, Alice bufou e recolheu seus livros que estavam espalhados na mesa e saiu andando, sem se despedir. Mesmo distantes, os garotos conseguiam ver a cicatriz vermelha contornando o antebraço dela.

— Por que ela continua fazendo isso, Gian? — Figo, aflito, encarou o rapaz ao seu lado.

— Talvez ela não esteja feliz o suficiente — Gian respondeu, balançando os ombros com indiferença. Em um movimento abrupto, Figo depositou as duas grandes mãos em cada ombro do rapaz e perguntou:

— Eu também não estou feliz! As pessoas ao redor não estão felizes! Ninguém está feliz! Mas ninguém está machucando o próprio corpo por isso, não é mesmo?

— Eu... — o rosto de Figo estava tão próximo ao de Giancarlo que este perdeu-se entre as palavras. Observou cada detalhe daquele rapaz: o queixo quadrado, os olhos pequenos e redondos, as sobrancelhas grossas, os lábios carnudos, a barba rala manifestando-se na bochecha... Aquele rosto perfeito, a tão poucos centímetros do seu, era a definição de "felicidade" — Eu estou feliz — o coração de Giancarlo quase pulou para fora ao dizer aquelas palavras. Estufou o peito e deu a cartada final: — E-eu te amo, Figo.

Helio murchou o peito e, aos poucos, sua expressão tensa ganhou suavidade.

— Eu também te amo, irmão —Figo colocou a mão na nuca de Giancarlo e o puxou para um abraço. Com o rosto enfiado no peitoral do amigo, Giancarlo sussurrou com desprezo: "Irmão..." — Obrigado por entender o meu desespero. A Alice significa tudo para mim. Algum dia, nós vamos nos casar e...

— Não! Você não está entendendo! — o jovem Giancarlo segurou os ombros de Figo da mesma forma que este fizera um minuto atrás. Encarou o amigo e, então, repetiu: — Eu amo você!

— Eu entendi, cara — Figo esquivou um dos ombros, com um sorrisinho amarelo estampado no rosto — Você é um grande amigo para mim também e...

Giancarlo revirou os olhos e, então, levou as duas mãos ao rosto de Figo. Com força, o puxou para perto até que os lábios ficassem a centímetros de distância. Giancarlo sentiu a respiração quente de Figo esquentar seu rosto e, quando os lábios estavam prestes a se encostar, caiu para trás. Figo o empurrou com tanta força que o corpo magricela caiu do banco e rolou pela grama.

A Última Gravata VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora