"A História da Aranha Tarantina", por Giancarlo Bastile

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(Este é um capítulo EXTRA com um dos livros do autor Giancarlo Bastile. O conteúdo pode ser lido por quem não acompanha "A Última Gravata Vermelha", mas quem ler e souber colocar no contexto do livro, entenderá de uma forma muito especial, hehehe. Vale lembrar, também, que o conteúdo deste capítulo NÃO INFLUENCIA DIRETAMENTE o que está acontecendo em "A Última Gravata Vermelha").

NOTA DO AUTOR

Fui duramente criticado por professores, representantes políticos e psicólogos porque escrevi uma história "altamente pessimista" para o público infantil. Eis aqui a minha resposta:

As suas crianças não conhecerão príncipes encantados, muito menos serão acordadas com um beijo de amor eterno. Se o seu filho for atingido por um raio, ele vai se tornar um super-herói? Na-na-ni-na-não. Ele vai virar carvão.

Parem de plantar o idealismo na cabeça das crianças. A realidade sempre aparece, uma hora ou outra. A minha única intenção com "A História da Aranha Tarantina" é diminuir o impacto que nossas crianças terão ao dar de cara com a dura e fria parede da vida real.

Aos interessados, estou escrevendo um novo livro. E não irei me desfazer do teor "pessimista, cruel e amargo" como alguns de vocês julgaram.

À autora da revista de fofocas que escreveu um artigo comparando os elementos do conto com minha vida pessoal, adianto que este conto nada tem a ver com minha rotina. Amo minha esposa e minha querida filha, que adotei com tanto carinho logo que o casal de amigos meus sofreu um acidente. Somos uma família feliz e saudável. Nossos (quase nulos) defeitos, não cabem na sua revista semanal de baixo nível. Deixe-me em paz e vá bisbilhotar o que está acontecendo na nova edição do Big Brother.

Grato,

G.B.

"A História da Aranha Tarantina", por Giancarlo Bastile

A mosca voou pela mesa e desviou, às pressas, de uma mão acelerada que tentou atingi-la. Olhou para trás, satisfeita, ainda batendo as asas. Quatro pessoas sentadas em reunião, com posturas eretas, trajavam as roupas mais chiques do Reino e discutiam assuntos importantíssimos (coisa de gente adulta). Por mais importantes que eles fossem, nenhum deles conseguiu prender a pequena entre as palmas das mãos. Afinal, ela era uma mosca muito astuta.

Pelo menos foi o que pensou antes de trombar com a teia e ficar presa por lá.

Nossa história não é sobre a mosca. É sobre a aranha que agora estava se preparando para jantar aquela mosca.

Encostada na parede, presa a um fio, Tarantina segurou a isca enquanto três homens e uma mulher espalhavam papéis sobre a mesa de madeira, o único móvel no centro de um salão contornado por quadros, esculturas, estátuas e vitrais. A mulher presente na sala, sentada em frente a um quadro onde ela estava perfeitamente retratada, tinha cabelos brancos e curtos, presos por uma coroa dourada contornada por losangos prateados. Aquela era a Rainha Elise, a mulher mais poderosa que o Reino já conheceu.

A aranha olhou para a direita e viu os outros homens. O mais velho estava curvado, descansando os ombros sobre a mesa. Ao lado, um outro mais jovem corria os olhos pelos papéis, todo o corpo magro e comprido movia-se acelerado. Endireitava a coluna sempre que chamavam seu nome, e curvava a cabeça diante de todos os olhares, como um bom servo.

Tarantina continuou segurando a mosca, que estremecia no leito de morte, mas parou para suspirar ao ver o quarto homem da sala. Ele não olhava para papéis, para mesa e nem para a Rainha. Seus olhos claros e pequenos observavam o único pedaço de céu ainda visível naquela parede tão decorada: uma pequena abertura no vitral entre um quadro e uma estátua branca de um homem sem braços. O Príncipe Philippe era charmoso e encantador. Os cabelos escuros caíam até os ombros largos, trajados por uma armadura preta de cavaleiro.

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