"A Menina do Vestido Azul", por Giancarlo Bastile

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(Este é um capítulo EXTRA com um dos livros do autor Giancarlo Bastile. O conteúdo pode ser lido por quem não acompanha "A Última Gravata Vermelha", mas quem ler e souber colocar no contexto do livro, entenderá de uma forma muito especial, hehehe. Vale lembrar, também, que o conteúdo deste capítulo NÃO INFLUENCIA DIRETAMENTE o que está acontecendo em "A Última Gravata Vermelha")


NOTA DO AUTOR

Não vou me prolongar, mas talvez seja necessário que você saiba: escrevi este conto em um dia ruim quando ainda estudava em um maldito colégio interno, onde passei metade da minha juventude. Se você está procurando uma história otimista e solar, talvez esta não seja a ideal. Vá ler "Cinderela" ou "A Bela Adormecida".

Aqui, temos a história de uma princesa que se deu mal. Sim, ela se deu muito mal! Vamos lidar com a realidade: às vezes, a vida ferra com a gente e acabamos engolindo areia.

Ok, não vou me prolongar. Eu estava num dia ruim.

Boa leitura.

G.B.


"A Menina do Vestido Azul", por Giancarlo Bastile

O grito horrorizado da rainha acordou todo o reino. Soldados, empregados, o próprio rei e alguns outros enxeridos subiram as escadas do castelo correndo e tropeçando nos degraus, até alcançar a torre mais alta, onde a rainha encarava, trêmula, um amontoado entre os lençóis da grande cama.

"Ela veio até aqui!", a rainha gritou, assim que os primeiros guardas abriram as portas da torre "Di-disse coisas horríveis. Praguejou e... tocou no nosso bebê. Segurou as mãos da nossa pequenina, como se a ensinasse a rezar".

Entre o amontoado de lençóis, um bebê irradiava paciência naquela cena caótica. Os olhos perolados e azuis encaravam as janelas abertas da torre, pela qual o vento entrava e fazia as cortinas dançarem.

O rei entrou apressado e acudiu a esposa, segurando-a em seus braços. "Quem? Quem entrou aqui?", ele perguntou, desesperado. A rainha interrompeu a própria resposta, observando o grande número de pessoas ao redor. Curvou-se e colocou os lábios perto do ouvido do marido e, por fim, sussurrou: a bruxa.

Assustado e eufórico, o rei quebrou o segredo com um grito: "A BRUXA?!". As reações do público foram imediatas. Todos começaram a falar e gritar ao mesmo tempo, duas empregadas desmaiaram e alguns guardas saíram correndo pelas escadas. "Mas... Não é possível", disse o rei, encarando as cortinas dançantes. "A bruxa foi embora há anos. Ela prometeu que nos deixaria em paz".

"Não deixou!", a rainha grunhiu. "Ela entrou aqui e tocou nas mãos da nossa pequena. Disse umas palavras inaudíveis e foi embora". Depois dessa afirmação, mais uma empregada desmaiou e foi arrastada por um guarda para fora do quarto.

"Ouvi dizer que os dedos dela são cheio de camadas verdes, como escamas", disse uma das mulheres, ajeitando o vestido.

"As unhas são grandes e afiadas", completou a moça ao lado.

"Só não são mais afiadas que os dentes... Dizem que o sorriso dela é como o de um crocodilo!".

"CALEM A BOCA!", gritou o rei, incomodado. "Guardas, levem todos para fora desta torre. Eu e minha esposa queremos privacidade". Em uníssono, os guardas responderam "sim, senhor!" e levaram as dondocas para as escadas espirais. O último soldado a sair, reverenciou o rei e bateu as portas de madeira.

Quando o silêncio instaurou-se, o rei caminhou até a janela e a fechou. Olhou para a esposa, que tremia e chorava, abraçando o próprio corpo, trajado por uma camisola branca e comprida. Os cabelos escuros estavam amarrados em uma trança que quase alcançava a cintura.

A Última Gravata VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora