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"Anna? Acorda

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"Anna? Acorda."

Pisco os olhos afetada com a claridade que provém da janela e bocejo, sentindo-se muito desconfortável. 

Estico as pernas depois de várias horas sem poder fazê-lo e só depois olho para o Taylor. 

"O que é que estás a fazer ao fundo da minha cama?" Inquire, nunca confuso mas sempre curioso. Ele sabe que sou estranha, apenas gosta de saber as razões para o ser. 

"Precisava de um sítio para passar a noite. Quando aqui cheguei estavas a dormir e não quis incomodar então peguei numa almofada, na manta e encolhi-me neste cantinho."

"Podias ter-te deitado ao meu lado, esperteza." Constata oferecendo ajuda para me levantar. 

"Quase não há espaço para ti nesta cama, Taylor." Resmungo gemendo pelas dores infernais no pescoço e nas pernas. "E, já agora, não devias dormir com a porta do dormitório destrancada. Não é seguro."

"Vamos tomar um café e conversar um bocadinho?" Sugere passando o braço pelos meus ombros. 

"Assim?" Olho para ele, que assim como eu, está de pijama. "Não tens que te preparar para as aulas?"

"São seis da manhã, Anna."

É claro que são. Vim enfiar-me justamente no quarto do madrugador. 

"Não faças essa cara. Vamos tomar o pequeno-almoço de pijama." Decide empurrando-me na direção da porta. "Não há ninguém acordado a esta hora para além da senhora do bar."

"É claro que não há ninguém acordado a esta hora. Não é normal." Murmuro caminhando pelo corredor da forma menos feminina possível e imaginável. Nunca fui atropelada mas a sensação não deve ser muito diferente da que sinto neste momento. 

"Levanta os pés." Resmunga incomodado com o som dos meus chinelos a deslizar pelo chão. 

"Tu é que quiseste ir tomar café. Agora aguenta." Resmungo seguindo-o pelas escadas abaixo. 

"Quem é que invadiu o meu quarto a meio da noite?"

"Não sejas irritante, Taylor." Resmungo por entre os dentes, enviando-lhe um olhar duro antes de atravessar a porta que ele segura.  "Que gelo!" Aperto o casaco e cruzo os braços para me proteger do frio.  

"Já vi que vai ser uma manhã complicada." Murmura entrando no bar onde não se ouve absolutamente nada. 

Por gentileza, arrasta uma cadeira e faz sinal para que me sente. "Espera aqui. Eu vou buscar o pequeno-almoço."

"Só um café." Peço mesmo sabendo que sabe exatamente o que quero. 

Seguro a minha cabeça com uma mão e observo-o fazer todo o caminho até ao balcão antes de tirar o telemóvel do bolso para me distrair enquanto espero que regresse e acabo por verificar as duas mensagens não lidas. 

De: Richard 

'Amanhã estás livre? Preciso da tua ajuda!!!'

Decido esperar até que sejam horas decentes para lhe responder e volto à caixa de entrada onde o nome do Harry faz o meu estômago revirar. 

Olho para o Taylor que ainda está junto ao balcão e suspiro antes de abrir a mensagem. 

De: Harry

'Podemos conversar quando estiveres mais calma?' 

Verifico as horas a que a mensagem foi enviada e apercebo-me de que foi à menos de meia hora, minutos antes de eu acordar. Apago a mensagem e guardo o telemóvel. 

Não vou responder-lhe ou conversar com ele porque sei onde é que isto acaba. Eu não vou continuar a ser uma distração. Ou me quer por inteiro ou perde-me por inteiro. Não há outra opção. 

"Onde está o meu café?" Elevo uma sobrancelha assim que vejo dois copos de sumo de laranja natural e duas torradas. 

"Bebes o café depois." Estabelece instalando-se ao meu lado. "Se comeres tudo."

"Eu raramente tomo o pequeno-almoço, Taylor."

"E hoje é um desses raros dias, Anna." Constata num tom doce, colocando um copo de sumo e um prato à minha frente. "Vais ver que vais sentir-te muito melhor depois de uma dose de vitamina A e C."

"O que eu preciso é de uma dose de cafeína mas tudo bem." Balanço a cabeça afirmativamente. "Vou fazer este esforço porque estás a ser simpático e pagaste o pequeno-almoço. O Richard mandou-me uma mensagem a dizer que precisa da minha ajuda. Sabes o que se passa?"

"Sim. Vamos comprar os fatos para o baile e queríamos a tua opinião." 

"Então nada de fatos vindos da internet?" Elevo uma sobrancelha e bebo um pouco de sumo. 

"É claro que não. Passei demasiado tempo contigo para saber que preciso comprar algo em condições."

Assinto com um sorriso. "Quando precisam de mim?"

"Esta tarde, se não estiveres ocupada. O baile é amanhã então não temos muito tempo."

"Estou livre e ainda bem que vamos sair daqui por algum tempo. Assim evito conversar sobre o que aconteceu ontem." Ergo as mãos quando os seus lábios formam uma linha. "Eu sei que foi mau, não precisas dizer-me."

"Eu não me importo com o quanto gritas com ele ou o quanto o insultas, já devias saber isso. Apenas não gosto do que provoca em ti. O que é que ele queria?"

"Fazer-me passar por doida." Brinco, no entanto, a piada não é bem recebida e por isso, explico-me. "Veio saber como me comporto e pagou todas as minhas despesas até ao final do curso."

"Uhm." Murmura seco, os lábios torcidos numa expressão de nojo. 

"Está a tentar corrigir os seus erros." Reviro os olhos. 

"Honestamente, não sei como é que consegue ser tão bom pai para os teus irmãos e tão sem noção quando o assunto és tu." Murmura pensativo. 

"Ele não sabe o que fez ao deixar-me com ela. Para ele, o único problema foi a sua ausência."

"É muito mais do que isso." 

Bebo mais um pouco de sumo e continuo a tomar o pequeno-almoço sob o seu olhar atento e analista. Ele sabe sempre quando não estou bem mesmo quando me esforço para esconder o que me incomoda e hoje não será exceção. 

"Há mais alguma coisa a incomodar-te." Aponta inclinando ligeiramente a cabeça. "O mesmo de sempre?"

"Se o mesmo de sempre se chama Harry, sim." Afirmo colocando os olhos no prato. 

"Foi ele que te fez fugir para o meu quarto?"

"Sim." Admito pressionando os lábios. 

"Vou querer saber o que aconteceu?" Pergunta com algum receio. 

"Ele é muito complicado."

"Também tu." Intervém. 

"Não é sobre mim, Taylor. Às vezes, parece que ele gosta de estar comigo… não me refiro a sexo. Mas outras vezes, sinto que me odeia por alguma razão. Que tem um problema comigo."

"Ele tem vários problemas, mas duvido que sejam contigo." Comenta ácido. 

"Seja como for, dei-lhe uma escolha. Só voltamos a falar quando decidir o que realmente quer." 

"Pessoas como ele não sabem o que realmente querem."

"Nesse caso, não voltamos a falar."

𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔Where stories live. Discover now