𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔

29

"Ok, isto é demasiado." 

Elevo as sobrancelhas ao máximo, vendo o Niall virar-se pelo reflexo no espelho para ver o resultado da sua escolha. 

"Eu acho que estás ótima."

Franzo as sobrancelhas. Ele está a ver o mesmo que eu? 

Ou melhor, a não ver o mesmo que eu? 

Não me acredito que alguma vez pisei fora de casa com este pedaço de tecido que achava ser um vestido. 

O vestido não é feio, apenas muito escandaloso. Costas abertas, tecido transparente no peito com dois detalhes que mal tapam os meus seios e a parte de baixo muito curta e muito justa. 

"Estás ótima!" Insiste balançando a cabeça. "Não penses demasiado. Estamos os dois solteiros, somos lindos e atraentes, temos que mostrar ao mundo o que andam a perder."

"Somos o quê?" Sorrio, vendo-o sacudir os ombros com confiança. 

É bom ver que está animado com a festa de fim de ano. 

Temos aproveitado as férias ao máximo e eu tenho feito o meu melhor para o distrair do silêncio e da ausência da Emma. Uns dias têm sido mais fáceis que outros, mas hoje parece-me genuinamente animado. 

"Hoje vamos dar início a um novo ano. Temos que estar no nosso melhor e este…" A sua mão gesticula para a minha figura. "É o teu melhor, Anna. Estás incrível, acredita em mim. Vais deixar toda a gente de queixo caído."

"Esse é o problema. Quero passar despercebida." Admito mordendo o interior do lábio. 

"Mas eu não quero que passes despercebida." Admite também, cruzando os braços junto ao peito. "Se não te sentes confortável assim vestida, troca de roupa. Mas se o problema é só não quereres dar nas vistas, sou contra uma troca de roupa." 

"Porquê?"

"Porque vais fazê-lo para te esconderes e não há razão para isso. Quero que vás no teu melhor, que te divirtas e que mostres aqueles idiotas que quem perdeu foram eles."

"Então é disso que se trata? Provar um ponto?" Semicerro o olhar quando inclina ligeiramente a cabeça, sabendo que foi apanhado em flagrante. 

"Eu não quero parecer miserável, ok? Não quero passar a ideia de que estou feliz mas também não quero que pense que andei a chorar pelos cantos." Coisa que aconteceu. "E não quero que te sintas mal pelo que aquele idiota fez."

"Estás ótimo." Elogio. "Não pareces miserável." Acrescento passando por ele para chegar ao roupeiro. "E eu não me sinto mal. Esse assunto morreu."

"Se morreu porque é que queres passar despercebida?" Inquire dando-me um olhar conhecedor. "Eu já te conheço minimamente, Anna. Não és o tipo de pessoa que deixa um assunto a meio." 

"Já falamos sobre isto e não quero perder mais o meu tempo." Visto o sobretudo quente e endireito os ombros. "São quase onze horas. Vamos à tão esperada festa." 

"Vamos passar a meia noite juntos." Ordena agarrando a minha mão para me tirar de casa. 

"Não a vais passar com os teus amigos?" 

"Sim, contigo. Não és minha amiga?" 

"Entendeste o que quis dizer." Solto uma risada. 

"Posso ir ter com eles depois." Sacudindo os ombros, tranca a porta. "Não te preocupes."

Desta vez, a festa tem lugar numa enorme casa ao invés do armazém do costume e essa foi uma das primeiras informações que procurei saber. Recusava-me a festejar o que fosse naquele lugar onde tudo aconteceu.