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"A Anna cozinha muito bem. Foi o que ouvi dizer." O William termina a sua fatia de bolo e coloca o prato em cima da mesa de estar, fitando-me com um sorriso. "Ela nunca cozinhou para mim."

"Nesse caso, da próxima vez trazes tu a sobremesa." A Candice sugere mesmo ao meu lado. 

A próxima vez. 

Eu ainda não sei se quero uma próxima vez. 

A Candice é um amor de pessoa e recebeu-nos imensamente bem. O jantar foi agradável e finalmente pude ver o que existe para além de mim. Os meus irmãos têm uma boa vida, uma mãe adorável, um pai presente, uma boa casa, muito amor e atenção. Absolutamente tudo o que nunca tive. 

Não gosto de me sentir desta forma mas não há como não pensar em como as coisas teriam sido diferentes se o James me tivesse acolhido. 

A minha vida teria sido completamente diferente, mais fácil. Nunca teria sofrido e ouvido coisas que nenhuma criança deveria ter que testemunhar. 

Levanto o olhar quando a Candice se levanta para recolher os pratos de sobremesa e sigo os seus passos. O William está a sair-se bem por conta própria e eu preciso de um intervalo. 

"Eu faço isso, Anna."

"Eu ajudo. Por favor." Peço recolhendo o prato do Masson e do Grant antes de a seguir até à cozinha. Coloco os pratos na máquina de lavar a loiça depois de si e quando me recomponho, olho para o jardim através da janela à minha frente. 

"Queres ir até lá fora um pouco?" Inquire como se fosse capaz de ler os meus pensamentos. "A saída é ali." Informa apontando para a porta deslizante à nossa esquerda. "Fica à vontade."

Aproximo-me da mesa da cozinha quando a Candice abandona a cozinha e abro a minha mala em busca de um cigarro e do meu telemóvel. Inspiro profundamente quando atravesso as portas deslizantes, fechando-as em seguida. 

Acendo o cigarro e saboreio-o calmamente. Verifico o meu telemóvel e vejo que tenho duas chamadas não atendidas. 

Franzo as sobrancelhas quando vejo o nome do Harry no ecrã segundos antes de outra chamada sua entrar. 

Deslizo o dedo, recusando a chamada mas meio segundo depois, ele insiste mais uma vez. Volto a recusar mas infelizmente, ele consegue ser mais teimoso que eu. 

"O que é que queres?"Disparo assim que atendo a chamada. 

"Onde estás?" A sua voz é calma e suave. Suspeito… 

"Não tens nada haver com isso. Deixa-me em paz."

"Eu—" 

Desligo a chamada sem que tenha a oportunidade de dizer o que quer que seja. Coloco o telemóvel em silêncio para que não me incomode novamente antes de ouvir as portas deslizarem. 

"O que estás a fazer aqui fora com este frio?" O Masson cruza os braços, tremendo com o frio. 

"Vim só fumar um cigarro. Volto já para dentro."

"Eu faço-te companhia." Oferece parando ao meu lado. "Então, o William, é teu namorado?"

"Não. É um amigo." Esclareço franzindo as sobrancelhas. 

"Ele não te vê apenas como uma amiga." Comenta pressionando suavemente os lábios. "Mas tu já sabes disso."

"Sei." Confirmo ouvindo uma suave risada. 

"Não estás interessada? Ele é porreiro."

"Porreiro demais para mim, Masson." 

"Essa auto estima está ótima." Comenta sarcasticamente. "Precisas passar mais tempo comigo e aprender uma coisa ou duas."

𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔Where stories live. Discover now