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"William

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"William." Resmungo vendo-o girar a minha mala enquanto caminha pelo corredor à minha frente. 

Ele gira o corpo, enviando-me um olhar sedutor antes de continuar a desfilar de forma patética, com o intuito de arrancar-me um sorriso. Solto uma risada sendo incapaz de me manter séria. 

"Não estou a fazer nada." Defende-se com um olhar brincalhão entregando-me a mala assim que chegamos à porta do apartamento. "Não me pareces muito contente por chegar a casa."

"Eu e o Niall não estamos muito bem."

"Disseste o mesmo do Zayn e do Harry." Constata, confuso e um tanto aborrecido por ouvir a mesma justificação pela terceira vez. 

À medida que o tempo vai passando, toda esta história só me deixa mais frustrada e ainda não consegui descobrir o porquê. 

Achava que as coisas estavam finalmente a melhorar. Eu não queria respostas, não precisava delas. Estava tudo a compor-se e era o suficiente. 

Estava tudo bem, até não estar mais. 

"O que é que posso dizer?" Solto uma risada abafada, encolhendo os ombros. "O Niall também está relacionado."

Ele franze as sobrancelhas e acaba por revirar os olhos, ciente de que não se deve esforçar para tentar entender-me. 

"Seja o que for que tenha acontecido, tenho a certeza de que se vai resolver. Faz um esforço, o Zayn é o teu melhor amigo e o Niall o teu companheiro de casa, não podem ficar chateados para sempre."

"Se soubesses a quantidade de esforços que tenho feito."

"Faz mais alguns." Sugere inconscientemente. "Estás entregue. Ficas bem?"

"Sim." Balanço a cabeça afirmativamente enquanto ele deixa um beijo no meu cabelo. 

"Até amanhã."

"Até amanhã."

Fico a vê-lo partir sem pressa de voltar para casa. 

Assim que entra no elevador, abro a porta do apartamento, encontrando um rapaz alto, de pele morena e olhos azuis pousados em mim. 

Estou prestes a questionar o Niall quando a figura à sua frente desvia o olhar, fazendo o meu estômago revirar.

A tensão sobe para níveis extremos durante os longos minutos de silêncio que se seguem em que levo o meu tempo para acreditar que o James está mesmo aqui, diante de mim. 

O que é que está aqui a fazer? 

Como é que me encontrou? 

"Nós vamos sair para vos deixar à vontade." O Niall faz sinal ao Harry para que se levante e o siga enquanto entrelaça os dedos na mão da namorada que parece estar a ver um fantasma. 

Mastigo o interior do lábio, desviando-me quando os três passam por mim, saindo do apartamento sem sequer me darem um olhar. 

Foco-me então nas outras quatro pessoas que se encontram com ele. Não os conheço mas sei quem são. 

A sua outra e única família. 

"O que é que estás aqui a fazer?" Falho redondamente na tarefa de manter a voz firme. Ela treme suavemente assim como todo o meu corpo. 

"Vim porque descobri recentemente que a tua mãe está doente. Não sei se–"

"Sim, sei." Interrompo-o, cruzando os braços. 

"A Amy faleceu na noite passada." Informa cuidadosamente, como se algum de nós fosse desfazer-se em lágrimas e o mundo fosse desabar. 

"E?"

"É meu dever vir até aqui. Estar presente neste momento difícil."

Sou apanhada de surpresa com a notícia mas, por agora, não passa disso. Surpresa. 

A Amy tem estado morta para mim há muitos anos e ele também, por essa razão as suas palavras causam-me um enorme desconforto. 

É seu dever estar presente neste momento? E quanto a todos os outros momentos em que precisei de um pai? 

"É muito tarde para sentires que deves estar presente." Murmuro afogando-me lentamente no poço de ressentimento sem fim que há em mim. "Não achas?"

"Não vamos falar sobre isso agora, por favor. Estou aqui porque a Amy–"

"Porque é que não podemos falar sobre isto agora?" Semicerro o olhar, umedecendo os lábios. "Os teus filhos não sabem o que fizeste?" Endireito-me sabendo que, sendo o cobarde que é, não contou a verdade aos três rapazes que olham para mim como se eu fosse um ser de outro mundo. 

"A tua mãe—"

"Ela não é minha mãe, assim como tu não és meu pai, James. Tu mesmo o disseste."

"O quê?" Um dos rapazes quebra o silêncio, cruzando os braços com uma expressão descrente. 

"Wally, por favor. Deixa o teu pai e a Anna conversarem." A esposa coloca a mão no ombro do filho pedindo-lhe não interfira no assunto mas ele parece estar decidido a não ceder. 

"Visto que estamos em família, todos temos o direito de participar desta conversa."

O meu coração palpita no momento em que os nossos olhares se cruzam pela primeira vez. Os seus olhos são exatamente iguais aos meus, uma mistura de verdes e âmbar, herdados do infeliz especado à minha frente. 

"O pai explica-se mais tarde. Agora o assunto é outro."

"Queremos saber agora." Outro rapaz declara. 

"Anna—"

"Eu não preciso do teu apoio ou da tua ajuda." Balanço a cabeça negativamente, impedindo-o de dizer o quer que seja. "A Amy está morta para mim há muito tempo—Não preciso de ti. Achei que precisava, mas consegui arranjar-me sozinha." Mordo o lábio, dando alguns passos atrás, segurando a maçaneta da porta. "Por isso, podes voltar para a tua vida e esquecer que eu existo."

Deixo o apartamento e entro no elevador, indo rumo ao nada com os punhos fechados e o maxilar cerrado, forçando-me a não desmoronar mais uma vez, cada vez mais. 

Estou cansada. Tão cansada. 

Mágoa não é um sentimento bonito.

Não desaparece, não dá paz. 

Espalha-se lentamente, silenciosamente sem controlo e acaba por infetar cada pedaço de nós. 

Faz-nos pensar que somos o problema, faz-nos questionar, repensar, duvidar até ao momento em que percebemos que nos torna-mos ela. 

E isso é exaustivo. 

Atravessando o portão, coloco o capuz do casaco para proteger-me da chuva fraca e enfio as mãos nos bolsos, atravessando a rua. Não sei para onde vou mas espero ir suficientemente longe para me perder e não saber como voltar.

𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔Where stories live. Discover now