XII

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— O quê? Acha que eu sou velha demais pra me divertir? — Perguntou Melissa, fingindo indignação enquanto o sorriso em seu rosto deixava claro que esse não era o caso.

— Na verdade ela é, o problema é convencê-la disso. — Comentou uma sorridente Lizzie agarrada ao meu braço direito. Melissa revirou os olhos ao ouvir a filha e entrou no carro.

— Você sabe onde fica esse tal bar, Mark? —
Perguntou ela do banco do motorista, enquanto Lizzie se sentava ao seu lado no banco do carona e eu encontrava um espaço em meio a bagunça no banco traseiro. Elas estavam lindas, eu devo dizer; mesmo isso não sendo novidade alguma pra ninguém.

Melissa estava com uma camisa preta do Metallica, jeans e uma bota escura; enquanto Lizzie usava uma camisa de uma banda chamada The Pretty Reckless, shorts e um All-Star vermelho de cano médio. Lógico que eu estava me sentindo um tanto deslocado com minha camisa azul sem estampa, originada da minha total falta de experiência em eventos desse tipo.

— Sim, é logo na entrada da cidade, não difícil. — Eu respondi, recebendo um aceno em confirmação. "Meu primeiro show", eu pensei, "é bem provável que eu tenha que aguentar inúmeras piadas sobre a minha presença no local...".

"O garoto antissocial estava saindo da caverna..."

Com duas ruivas maravilhosas.

***

— Ei, Mark! Como está se sentindo ao ar livre? — Essa foi a primeira piada da noite, feita por Frank; um garoto gordo com algumas espinhas de tamanho anormal que sempre se esforçava para ser o palhaço da classe; foi ótimo ver o espanto em seu rosto ao notar Lizzie agarrada em meu braço enquanto abríamos caminho em meio às pessoas. Ele ficou um bom tempo nos encarando sem conseguir fechar a boca. Aos poucos pude notar que ele não era o único, outras pessoas que haviam feito algumas classes comigo nos anos anteriores também nos olhavam, apontavam e comentavam sempre que achavam ter uma oportunidade.

— Então, você é tipo o Pé Grande pra essas pessoas... — Refletiu Lizzie depois que lhe expliquei o motivo daquilo. — Todos sabem que existe, mas poucos têm o privilégio de ver... — Concluiu, rindo ao ver minha expressão diante de sua comparação.

— Todos sabem que o pé grande existe? — Eu perguntei, também rindo. A garota deu de ombros e fez um movimento com a cabeça em direção à sua mãe, que havia terminado uma acalorada conversa com o responsável pelo bar e agora se aproximava do local onde nos encontrávamos.

— É o que minha mãe costuma dizer, pelo menos. —Estávamos encostados no balcão do bar, que a essa hora servia apenas refrigerantes e deixava Melissa um tanto contrariada.

— É claro, Mark. — Afirmou a ruiva mais velha enquanto se aproximava com um copo de plástico com refrigerante, olhando feio para o balconista que se recusava a lhe dar uísque no lugar de Sprite. —Todos sabem que o Pé Grande é um alien. — Concluiu ela enquanto piscava um olho para mim, fazendo Lizzie revirar os olhos.

— Acho que talvez eu possa ser algo assim pra eles. — Eu falei, me referindo às pessoas que nos observavam, retomando o assunto anterior com Lizzie quando Melissa desapareceu em meio à multidão para se entrosar com alguns outros pais que lá estavam, sua sociabilidade me assustando cada vez mais. — Mas o que talvez os deixe ainda mais surpresos... — Continuei, enquanto a observava tomar seu refrigerante pelo canudinho. — É você. — Ela levantou os olhos, surpresa, ao me ouvir.
"Será mesmo que ela não tinha ideia da impressão que causava nas pessoas?" Eu me perguntei ao notar a curiosidade e a dúvida em seus olhos, pedindo por uma explicação. — Bom, eu admito que me ver durante as férias já é algo um tanto incomum, como eu lhe expliquei... Some com isso uma garota linda que não sai do meu lado e você terá reações como estas. — Eu concluí com um movimento de cabeça em direção à um pequeno grupo próximo. Ela se virou lentamente para o tal grupo de garotos da oitava série que a olhavam admirados e pareceu compreender o que eu queria dizer.

— Ah... — Foi tudo o que ela conseguiu falar antes de voltar sua atenção ao copo de plástico e seu canudo, suas bochechas salpicadas por sardas ficando levemente coradas.

***

O show foi incrível. Até mesmo para os meus padrões um tanto exigentes à época. Eu já tinha ouvido falar que a banda de Elisa (broken little princess, ou BLP para os íntimos) era boa, mas eu percebi que não fazia ideia alguma do quanto.
Ainda assim, o ponto alto da noite não havia sido o show e os clássicos cantados por Elisa, pelo menos não para mim.

A melhor parte veio após o show...

— Só eu estou um pouco decepcionada por Elisa não ter nos dado atenção? — Perguntou Melissa enquanto saíamos do bar, caminhando à nossa frente.

— O que esperava? Que ela te dedicasse uma música? — Perguntou Lizzie, revirando os olhos mais uma vez. Ela estava com uma aparência bem menos apresentável do que quando havia chegado, vários fios vermelhos haviam se soltado das amarras de seu rabo de cavalo e agora flutuavam ao redor de sua cabeça com a brisa fria do começo da noite. Seus rosto estava afogueado após ter pulado, dançado e cantado ao som de cada música no show.

— Não seria uma má ideia. — Respondeu a mulher mais velha. — Eu sou tia dela, não sou? — Completou ela, sorrindo. Outra diferença que pude notar entre mãe e filha tão parecidas: o sorriso. O de Lizzie era mais discreto, reservado; o que dava uma sensação de conquista sempre que eu conseguia arrancar algum dela. O de Melissa era mais solto, as marcas ao redor de sua boca sinalizavam uma predisposição ao riso, alguém sem nenhum receio de achar graça do mundo. Talvez fosse isso que a deixava com a aparência tão jovem, eu pensei.

— Ei! Vocês dois! — Uma voz soou de algum lugar às nossas costas. Era Elisa, que vinha correndo em nossa direção com seus cabelos repicados balançando ao vento e sua maquiagem escura carregada e um tanto borrada. Lembrava vagamente a moça estampada na camisa de Lizzie.

— Olha, alguém arrumou jeans novos! — Comentou Lizzie, quando sua prima nos alcançou, recebendo um olhar frio em resposta.

— Já não era sem tempo... — Eu comentei, recebendo um soco no peito ao invés do olhar frio.

— Onde vocês pensam que vão? — Perguntou a garota com jeans novos, ignorando os comentários anteriores. — Vai ter festa na casa do Matt, de encerramento das férias. Vocês vêm, né? — Troquei um olhar com Lizzie, sem saber o que responder. Eu não estava afim de ir, mas não me importaria se ela quisesse.

— Vai ter álcool lá? — Perguntou Melissa, fazendo notar que Lizzie precisava de sua permissão para ir. Elisa se virou para ela, surpresa, notando-a pela primeira vez.

— Ah, oi tia! — As duas se abraçaram por alguns instantes. — Não sabia que viria! — disse Elisa.

—Percebi — Respondeu Melissa, se fingindo contrariada. — Então, sobre essa tal festa... —Começou ela, pedindo explicações.

— Não terá álcool e eu prometo deixá-la em casa meia-noite em ponto. — Falou Elisa, sorrindo. Melissa olhou de Lizzie para Elisa, pensativa.

— Quero ela em casa às dez. — Falou ela, se decidindo. Lizzie trocou um olhar com Elisa, que ainda estava sorrindo, antes de questionar sua mãe.

— Mãe, se for pra voltar às dez não tem o menor sentido eu ir. — Dessa vez a troca de olhares aconteceu entre as duas ruivas e levou um tempo muito maior, como se estivessem em uma conversa telepática. Por fim, Melissa se virou para mim com seus olhos cansados, admitindo a derrota.

— Cuide dela, rapaz. — Disse enquanto colocava uma mão em meu ombro esquerdo.

Eu confirmei com um breve aceno de cabeça, mal sabendo o que a noite reservava.

Com amor, Lizzie [Pausado]Where stories live. Discover now