II

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— Mark, você não vai trabalhar hoje? — A voz da minha mãe me alcançou no meio de um sonho estranho sobre garotas de cabelos vermelhos, me trazendo de volta ao inexorável mundo real.
Logo depois ouvi uma leve batida na porta:

— Mark, está na hora.

— Já estou acordado mãe! — Eu respondi em meio a um bocejo. — Vou descer em alguns instantes. — Me virei para o lado na cama, pegando o celular em cima do criado mudo para saber as horas

09:32...

— Fiz panquecas, estão em cima da mesa. —Disse ela após abrir a porta e me mandar um beijo com uma das mãos. — Cuide-se, te vejo no jantar. — Se despediu antes de sair apressada descendo as escadas.

Eu esperei até não ouvir mais o barulho de seu carro, que se afastava pela vizinhança em direção à escola em que ela trabalhava como professora, e me levantei com algum custo.
Fui até o banheiro e enfrentei um rosto lamentável me encarando no espelho, o rosto de um adolescente cheio de espinhas com barba rala e um cabelo que implorava por um corte descente.

O rosto de um garoto pelo qual nenhuma deusa ruiva iria se interessar.

Tomei um banho rápido, escovei os dentes, coloquei as panquecas no microondas e sai correndo pela porta, voltando instantes depois para tranca-la.

Eu não precisava realmente chegar as dez em ponto ou antes disso na lanchonete, não é como se Lucy fosse me repreender por pequenos atrasos.

Ainda mais após as horas extras cumpridas nos dia anterior.

Mas, por alguma razão, eu queria sair do quarto e respirar um pouco. Talvez para tentar parar de pensar em garotas de cabelos vermelhos e olhos incômodos.

Assim, saí e comecei a me dirigir lentamente em direção a lanchonete enquanto refletia sobre todas essas coisas quando o inesperado aconteceu.
Algo massivo bateu com força contra o meu corpo e me arremessou imediatamente para trás, fazendo com que eu caísse desprevenidamente com as costas na calçada, batendo a cabeça em seguida. O mundo ficou momentaneamente escuro enquanto eu tentava desesperadamente respirar, meu cérebro parecia balançar, solto dentro do meu crânio enquanto sentia algo pesado em cima de mim.
Quando finalmente me lembrei de abrir os olhos, não consegui enxergar coisa alguma. Aparentemente havia algo logo acima do meu rosto impedindo a passagem de luz.

Algo que cheirava incrivelmente bem.

— Me desculpe, não sei onde estava com a cabeça. — A coisa - que aparentemente falava - saiu de cima de mim e eu senti de imediato o alívio do ar entrando em meus pulmões novamente, realizando a troca eficiente de gases com meu coração, que batia acelerado.

Percebi uma vasta cabeleira vermelha que era a responsável por eu não ter conseguido enxergar anteriormente.

E também era a coisa que cheirava bem.

Ao abrir os olhos naquele momento enxerguei um par de olhos azuis intensos me olhando de volta, arregalados.
Ficamos olhando um para o outro por algum tempo, sem dizer nada. Notei que ela ainda se encontrava parcialmente em cima de mim, apoiada nos braços esticados aos lados da minha cabeça, me olhando fixamente.
Meu coração continuava a bater acelerado enquanto eu olhava para aquele rosto com o qual havia sonhado a noite inteira.

Quando meus pensamentos começaram a entrar em ordem, tudo se perdeu novamente...

A garota me beijou.

Com amor, Lizzie [Pausado]Where stories live. Discover now