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Havia dois dias que eu estava internado e não aguentava mais aquilo. Murilo continuava com ar de preocupado e aumentou depois que os médicos chamaram ele e meus pais não que saiam do meu lado por nada, para conversar.
Tentei descobrir o que eu tinha, mas eles não diziam por nada. Eu já podia me sentar na cama, mas isso não durava por muito tempo, pois eu ficava muito cansado.
Basicamente eu não fiquei tão mal por causa do acidente, só tive algumas fraturas leves, mas o sinto de segurança impediu que fosse algo maior.

- Cadê meus pais? - perguntei assim que acordei e não os vi em meu quarto.
- Eles desceram pra tomar café, daqui a pouco estão de volta.
- Aproveitando que estamos sozinhos, você pode finalmente me dizer o que eu tenho? - perguntei sério.
- Diego, você vai ficar perguntando isso até quando? Olha, seu café está aqui, está na hora de você comer. - falou ele tentando desconversar e puxando a comida pra perto de mim.
- Eu não quero comer nada, Murilo. A única coisa que eu quero é que você me responda. - falei sério - Ou eu vou ter que procurar os sintomas no Google e acreditar no primeiro link que eu abrir?
- Diego - falou ele segurando o nervosismo. Uma lágrima escorreu por sua bochecha e ele fungou. - Acho que você merece saber.

- Oláaaaa, bom dia! - entrou meus pais no quarto.
- MAS QUE INFERNO! - gritei.
- O que aconteceu, meu filho? - perguntou meu pai nervoso.
- Nada não... Esquece! - falei ainda aborrecido.
- Temos uma surpresa pra você. - disse minha mãe sorridente. - Pode entrar, surpresa.
Em seguida Luciano atravessa a porta segurando uma caixa embrulhada e com um sorriso no rosto.
- Alguém anuncia que o melhor enfermeiro do recinto chegou? - disse ele e eu não me contive e acabei rindo.
- Luciano, você era tudo o que eu estava precisando agora. - falei - Vocês podem por favor me deixar sozinho com ele. Tô precisando conversar muito sério com ele.
Murilo ficou tenso e olhou para Luciano e eu entendi o que ele queria dizer com o olhar.
- Murilo, pode ficar tranquilo. Nossa conversa ainda não acabou e eu espero que você pense sobre isso. - falei é todos saíram do quarto exceto Luciano.

- Nossa Di, que climão foi esse?
- Lu, eu não estou aguentando mais ficar nesse quarto de hospital. Eu quero ver o sol, eu quero voltar a trabalhar, eu simplesmente sair daqui. Eu não aguento mais. Eu precisava mesmo de você aqui.
- O que tem acontecido? - perguntou ele - Pelo menos entre você e o Muri?
- Ele e esse jeito super protetor dele. Evitando falar as coisas, desconversando, fingindo que não está se sentindo mal com isso. Isso tudo está me irritando.
- Nesse ponto eu também nem posso te ajudar, amigo. Pois eu não sei o que você tem, seus pais não disseram nada concreto. Apenas disseram o que eu já sabia sobre o acidente.
- Tá vendo? Eu acho que eu tenho direito em saber. Até mesmo pra ajudar o Murilo, coitado. Ele está muito mal, ele não está sabendo lidar com toda essa situação e me fode, eu fico puto.
- Calma, amigo. Uma hora eles vão ter que te contar.
- Quando? - falei - Quando eu receber alta ou quando eu morrer?
- Aí que horror, Diego! - falou Luciano. - Toma eu trouxe chocolate pra você.
- Ai, pelo menos uma notícia boa. Chocolate! - falei.

O resto da minha conversa com Luciano foi basicamente sobre ele e como está a vida dele. Faculdade, crushes, provas, futuro e etc... Fomos interrompidos com uma enfermeira vindo trazer meus remédios e meu almoço.

- Posso entrar? - perguntou Murilo agora vestindo uma roupa diferente da hora que eu praticamente o expulsei do meu quarto.
- Claro! - respondeu Luciano.

- Diego, você tomou o remédio? - perguntou ele segurando minha mão.
- Tomei. - respondi seco
- Ótimo! Sua tia está aí com o filho e o marido. Vieram te visitar, mas estão lá embaixo com seus pais.
- Pode pedir pra subirem. - respondi.
- Ok - disse ele beijando minha testa e saindo do quarto.

- Diego, você está pegando muito pesado com o Murilo, ele não tem culpa. Lembre-se disso.
- Eu sei, mas ainda estou um pouco irritado com tudo isso, sabe?
- O que eu sei, é que você está acostumado com ele fazendo tudo o que você quer. Você é tão dependente dele como ele é de você, então leve isso em consideração, porque é horrível até pra mim, vê-lo desse jeito.

No mesmo instante entrou meus pais com meus tios e o meu primo Guto que agora estava com 16 anos. Lembro de quando nós éramos mais novos, nós éramos muito agarrados, mas depois que comecei a trabalhar com meu padrinho, perdemos o contato.

- Meu Deus, meu sobrinho como você está? - perguntou minha tia. Ela era irmã da minha mãe e as duas só tinham a cor dos olhos iguais, fora isso, nem pareciam irmãs, minha mãe era mais simples ao contrário da minha tia que sempre foi muito perua e gosta de coisas chamativas.

- Melhorando aos poucos e a senhora como está? - perguntei.
- Estou ótima e ansiosa tbm, vamos nos mudar daqui a alguns dias para um apartamento em Ipanema e quero que você vá passar uns dias com a gente.
- Olha que beleza! Aquilo lá é outro nível. Um lugar ótimo! - falei - Vamos marcar um dia pra gente fazer compras naquelas lojas de lá, que são maravilhosas.
- Com certeza! - respondeu ela.
- E aí, garotão! - cumprimentou meu tio. - Que loucura isso tudo que aconteceu, hein?
- Nossa, nem fala, Tio. Não vejo a hora disso tudo acabar. Só quero voltar pra casa e esquecer que isso tudo aconteceu. Não aguento mais ficar nesse lugar.
- Vai com calma, garoto. As coisas ainda estão recentes, mas vai dar tudo certo.
- Oi, Guto... Quanto tempo! - falei
- Oi primo. - respondeu ele me dando um abraço tímido - Melhoras, viu?
- Obrigado, primo. - respondi - Saudade de você, a última vez que eu te vi, você não estava tão alto.

Todos no quarto riram.

Ficamos todos conversando até entrar pra informar que o horário de visita tinha acabado. Chorei quando Luciano teve que ir embora, meus pais levaram ele e foram pra casa ver minha irmã que estava cuidando da minha avó que passou mal com a notícia do meu acidente, e pra descansarem um pouco.

Murilo ficou comigo, ele estava lendo um livro que tinha trazido pra mim, mas que eu não consegui ler por está impaciente. As vezes ele levantava o olhar pra mim e eu podia sentir que ele estava implorando pra que eu não tocasse naquele assunto novamente e então, ficamos em silêncio.

- Está com fome? - perguntou ele.
- Sim!
- Vou pedir pra trazerem sua janta.
- Não. Eu quero pão de queijo. - falei - Será que posso comer.
- Pode sim. Vou na cantina buscar alguns pra você. - respondeu ele sério e saiu do quarto me deixando sozinho.

Minutos depois ele entra pelo quarto com um saco de papel cheio de pão de queijo e um suco de laranja.

- Estão uma delícia - falei mordendo um dos pãezinhos. - Quer um?

Ele fez um sinal de negativo com a cabeca.

"merda agora Murilo estava puto comigo e com uma fucking razão" - pensei

- Murilo? - chamei e ele levantou o olhar novamente pra mim. - Vem cá!
Ele se levantou e veio até mim - está sentindo alguma coisa?
- Não, eu queria te pedir desculpas. - falei segurando sua mão. - Desculpas por ter sido tão babaca com você. Eu estava e acabei descontando em você, quando no fundo você é o que menos tem culpa nisso tudo.
- Tudo bem, Di. Eu não tô chateado com você. - respondeu ele.
- Eu só estou ficando maluco com toda essa situação de não saber o que eu realmente tenho. - falei enquanto comia mais um pão de queijo.
- Bom, você tem razão. Você precisa saber e tem todo o direito de saber. - falou Murilo. - No dia que o médico chamou seis pais e eu para conversamos, ele disse o que você realmente tem.
- E o que eu tenho? - perguntei

Murilo estava paralisado, com a respiração presa, não falava, não mexia, apenas chorava. Aquilo estava me deixando nervoso, comecei achar que ele é quem estava passando mal.

- Fala Murilo!

Ele soltou a respiração, mas ainda continuava chorando.

- O médico nos disse que você tem um caso de aneurisma cerebral.

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