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Há coisas que correm em nossas vidas que eu não sei se é pra nos testarmos ou simplesmente pra lembrarmos que a vida realmente não é sempre uma maravilha. Até alguns dias atrás o mundo era lindo e eu estava bem e agora, parecia que tudo estava virando de ponta cabeça.

Após almoçarmos como combinado Murilo lavou a louça, eu arrumei nossas coisas e tomei um banho e fiquei esperando por Murilo para voltarmos pra casa assistindo TV, ouço meu telefone tocando na mesa do outro lado da sala e levanto para buscá-lo, temo para que não seja meu padrinho e vejo que é Luciano.

- Luuuuuciano, que saudades! -disse indo em direção ao quintal, não queria conversar com Luciano com Murilo ouvindo. - O que aconteceu com você?
- Primeiro de tudo, que história é essa que você vai pra São Paulo? - Disse ele quase que gritando comigo - E o pior de tudo, você não me falou absolutamente nada.
- Ai cara, nem fala. Eu to péssimo com isso, mas tenho que ir. Já vou amanhã mesmo. - disse olhando pra Murilo na cozinha mexendo em toda sua papelada.
- Imagino, mas quem deve estar pior do que você é o Murilo, não é?
- Entããããão... Ele não ainda não sabe, Luciano. Você não contou nada para Thiago, contou? - Perguntei com medo.
- Não, estamos brigados. -disse ele. - Mas não importa agora. Quero saber como vai ser sua vida lá.
- Bom, pelo que sei, eu devo ficar em um hotel nos próximos três dias e depois vou ficar em um dos apartamentos do meu padrinho. A loja já inaugura amanhã e tem um gerente lá. Meu vôo sai amanhã às 6:00 e devo chegar em São Paulo até 10:00 no máximo e vou passar no hotel pra deixar minhas coisas e ir correndo para loja.
- Ai amigo, espero que tudo dê certo com você, mas me faz um favor? Conte logo pra Murilo. Ele tem que saber. - disse ele.
- É, eu sei, estou me sentindo péssimo. Pode não parecer, mas não consigo me imaginar longe de tudo daqui, principalmente dele.

- AMOR, VOU TOMAR BANHO PRA GENTE IR. - gritou Murilo da janela.
- OK, NÃO DEMORE! - Respondi

- Você está com ele agora? - perguntou Luciano.
- Sim, viemos para uma das casas de veraneio da familia dele passar o final de semana. - Respondi. - Vamos embora daqui a pouco e a culpa e está me consumindo.
- Relaxa Di, você precisa ter calma e contar. - disse ele - Vou conversar com Thiago, ele sempre sabe o que tem que se fazer em relação ao Murilo.
- Obrigado... Seria ótimo se você pudesse ir pra São Paulo comigo. Não sei o que vai ser de mim longe de você me enchendo o saco todos os dias.
- Por favor, né? Eu nunca encho o saco. - disse ele rindo - Seria ótimo mesmo. Eu iria de boas se não tivesse passando por algumas coisas aqui em casa. Mas enfim, vou desligar, assim que você chegar lá, me liga passa o endereço do hotel, quero relatório de tudo que está acontecendo e o que precisar, pode me ligar. - disse ele com o tom de Luciano de ser.
- Obrigado Lu, te amo cara. - disse eu segurando o choro.
- Também te amo, amigo e boa sorte pra você lá em São Paulo. - disse ele desligando.

O caminho de volta pra foi meio silencioso, eu com meus fones de ouvido, Murilo dirigindo calado também e tudo o que eu pensava era em como contar. Olhei o celular e já ia dar três horas da tarde... Com um suspiro longo tirei os fones de ouvido, coloquei o telefone no painel do carro, olhei pra Murilo e disse:
- Bom, não estou aguentando mais e vou falar.
- Finalmente.- disse ele virando a esquerda.
- Então Murilo, devido algumas coisas que aconteceram, eu vou pra São Paulo amanhã e devo passar no mínimo um mês por lá por conta do trabalho.
- O que? Como assim? - disse ele parando o carro no acostamento. - E como você não me contou isso?
- Eu não conseguia, você mesmo viu como eu estava estranho esses dias. - respondi nervoso.
- E você sabe disso desde quando? - perguntou ele.
- Desde o dia seguinte do meu aniversário. Meu padrinho me disse que eu teria que ir no lugar dele e que não tinha como mandar outra pessoa no meu lugar. - Respondi ainda nervoso - Eu estou me sentindo mal por ter que ir, mas tenho que ir e você pode me visitar quando quiser.
- Sinceramente Diego, eu achei que você confiava em mim. - disse ele voltando a dirigir.
- E quando eu disse que eu não confiava em você? Qual foi o momento em que essas palavras saíram da minha boca, Murilo? - perguntei ficando aborrecido.
- Com suas atitudes dos últimos dias, nem precisa dizer nada. - rebateu ele - Você preferiu se martirizar internamente à ter que me contar .
- Acontece Murilo eu sempre fui assim, há anos sou assim... Antes mesmo de você aparecer na minha vida. - respondi observando-o enquanto dirigia.
- Mas agora eu estou na sua vida, agora eu sou seu namorado. - respondeu ele estacionando na frente da minha casa.
- Murilo, você apareceu há três meses na minha vida. tecnicamente quem é você na minha vida? Eu não vou mudar de um dia para o outro como se o mundo fosse um mar de coisas boas.
- Aaaaaah agora eu também não sou ninguém pra você. - Perguntou ele irritado.
- Eu não disse isso, você sabe que eu te amo e não há necessidade de fazer esse drama todo. Eu já disse que você pode ir me visitar quando você quiser. - respondi com o nível da voz elevado. Meus olhos ardiam e eu estava prendendo o choro. Eu nunca havia brigado sério com Murilo, nas as poucas vezes em que discutimos, eu sempre ficava mau.
- Eu não estou fazendo drama nenhum, só que simplesmente acabei de descobrir que eu não sou nada para uma pessoa que nos últimos três meses venho fazendo de tudo pra ser a pessoa mais feliz do mundo. - despejou ele irritado e ficando vermelho que eu não sabia definir se era de raiva ou de vontade de chorar ou dos dois - E por um acaso você acha que é fácil sair daqui pra São Paulo quando eu bem entender?
- Murilo, me poupe. Você sai até do planeta quando bem entende. Isso não é desculpa. - Disse eu ficando cada vez mais revoltado. - E é até engraçado você me perguntar isso.
- Você sabe que não é assim tão fácil. - respondeu tentando se controlar.
- Não é fácil pra mim Murilo. Que trabalho há anos, que tenho tudo o que tenho por causa do meu trabalho, ao contrario de você, que está aqui na minha frente agora dando uma crise de criança mimada. Aliás, você nunca deixou de ser uma.
- Olha quem está falando. Acorda Diego, você também é. - respondeu ele com deboche.
- Sou mimado, sim. Principalmente pela minha avó, mas sou um mimado com pé no chão que sei que a qualquer momento posso perder o que eu tenho e isso algo pro meu futuro. Eu vou viajar, mas não é pra gritar enquanto estiver na montanha-russa do Hopi Hari, não. Eu vou viajar, porque é meu trabalho. - Disse eu despejando coisas no Murilo que eu nunca havia pensado em fazer. Eu tinha perdido completamente noção das que coisas que eu estava dizendo e elas apenas saíram sem freio.
- É, você tem razão. Eu sou mesmo uma criança mimada. Aliás, nunca deixei de ser. - disse ele derramando suas primeiras lágrimas. - Sabe Diego, quando eu te conheci achei que você simplesmente seria diferente de todas as pessoas com quem já saí e na verdade você é. É a mais egoísta de todas elas.
- Eu que estou sendo egoísta, Murilo? - perguntei começando a tremer. - Estou sendo egoísta, porque eu não estou fazendo as suas vontades? Por eu não estar cedendo à sua crise infantil? Purfa, né?
- E os adjetivos só aumentam - continuou ele com o deboche. - Vamos lá, diga mais adjetivos.
- Ai Murilo, por favor. Você está sendo ridículo - disse eu começando a manter o controle. - Eu vou só te falar uma coisa, ok? - Ele levantou o olhar marejado pra mim - Eu realmente posso por algum momento estar sendo egoísta, mas o maior de todos aqui é você. Acorde e perceba que o mundo gira em torno do Sol e não de você. Tenho certeza que nenhum dos seus próximos namorados, serão totalmente seu. Aliás, cada tem uma vida e eu não quero viver pra você.
Saí do carro derramando as primeiras lágrimas, peguei minha bolsa bati com a porta e corri pra casa. Entrei indo direto pro quarto e ali fiquei por horas chorando até pegar no sono.

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