Capítulo 38 - A guardiã de segredos (Parte 1)

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(Revisado)

Da última vez desde que se recordava, Adryan havia brigado com eles, antes de irem embora para um novo local de trabalho. Pelo telefone disse tantas coisas que provavelmente não diria se estivesse cara a cara com seus pais. Reclamou do último ano. Reclamou de tudo. Como eles haviam lhes deixado de lado, algo que nunca foi da natureza de nenhum deles, porém, no último ano, ambos estavam mais distantes dos filhos, como se já soubessem que ele e a pequena Wanda fossem precisar ficar sozinhos no mundo, como se tal distanciamento fosse uma preparação para um adeus. O que como ele ainda se lembrava tinha ocorrido.

Exatamente no dia dezesseis de outubro, de dois mil e dezoito. Era sua data mais odiada. Era a data da morte de seus pais. O exato dia em que o policial bateu a altas horas da madrugada em sua casa e lhe deu a notícia — “Seus pais morreram em um acidente de avião. Eu sinto muito.” — Se recordou de como havia ficado com seus pés presos ao chão, e logo em seguida sendo questionado por sua pequena irmã, que, segurando um ursinho de pelúcia veio até ele, vendo o mesmo estacionado na porta, feito um zumbi.

Tudo aquilo correu como um flash em seus pensamentos. A história de Vênus e Júpiter. A história de seu cachorro Ruffs que havia ido embora alguns meses atrás. E por último se viu olhando para o céu, querendo crer que realmente seus pais estavam lá de cima, olhando pra ele. E agora, ali, naquele mesmo momento, Adryan viu tudo ser desfeito, sua vida que já não era fácil, havia ficado no mínimo um pouco mais confusa. Sua mãe estava bem ali diante dele, na porta ao lado do padre Bruno.

Como num déjà vu, o homem de olhos cor de mel havia ficado parado com seus pés criando raízes ao chão daquele lugar. Não disse nada. Não que ele não quisesse sair correndo e abraça-la depois de todos esses anos, mas algo lhe prendia. Uma força ainda maior do que seu desejo de ter a chance de ver sua mãe outra vez. Era naquele momento sua própria existência. Adryan estava deslocado no mundo. Nada mais lhe fazia sentido e logo, o que talvez teria sido a melhor notícia à alguns anos atrás ou até mesmo alguns meses atrás, naquele exato momento não era. Àquilo tudo era apenas outra parte complicada de sua desconhecida vida. Ele estava afundado na sua própria crise de existência.

— Meu filho. —  Ele estava tão desnorteado, que sequer percebeu quando sua mãe saiu de perto de Bruno e veio em sua direção, querendo assim quebrar o silêncio que reinou naquele lugar. — Você deve estar confuso agora. Nós temos muito o que conversar. — Ela disse.

Ah! Com toda a certeza desse mundo nós temos, mãe!”

Conversou sozinho com sua inquietante mente, respondendo a mesma sem nem ao menos abrir a boca. Apenas deixando seus olhos acompanharem ela.

— Não esperava te ver aqui, Rebecca. — Sorriu com o canto da boca, olhando a mulher ao lado de Adryan, que assim como ele, estava inerte de movimentos.

— Acho que nenhum de nós esperávamos por você. — Ela respondeu, sendo um pouco mais corajosa do que Adryan, que ao seu lado nada dizia.

— Filha... — Seus olhos que eram de uma tonalidade azul cinzenta foi ao encontro de Tália, que, em pé e de frente a todos se encontrava. — Estou tão feliz que esteja conosco. Sei que não foi fácil esses anos todos, mas..

A pele ficou rosada, a pele de ambas ficaram num tom avermelhada. Leslie apenas falava tal coisa, querendo assim se desculpar por tudo que havia feito com ela. Em seus olhos apenas as lágrimas ficaram e com isso e suas emoções a flor da pele, deixou que sua voz não encontrasse as palavras certas para prosseguir com seu pedido de perdão. Fechou os olhos e somente sentiu as gotas escorrerem, tocando seu rosto e indo até o chão, molhando o piso daquele lugar.

Tália que a pouco passos estava em sua frente apenas fez algo inesperado, talvez o mais inesperado de todos.

O amor de mãe sempre cura todas as mágoas, não importa o quão forte ela seja, ele sempre se supera.

Alianças De Sangue 2 - TranscendênciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora