Capítulo 22 - Aos ventos noturnos

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(Revisado)

A noite era densamente fria, o céu acima da cidade brilhava e as estrelas eram tão nítidas como a claridade da luz do dia. As poucas nuvens deixavam que a constelação fosse quase palpável.
O silêncio da cidade que agora dormia fazia o barulho dos sons diurnos serem bem vindos naquele instante, o vazio de vozes era como a paz fria de um cemitério, onde apenas os ventos gélidos dão o som, tornando tudo ao seu redor nulo e sem vida, e naquelas altas horas da noite assim era Bellmon.

O sono que noutros momentos viera tão facilmente para Adryan, naquela madrugada não quisera vir, deixando o dono dos olhos castanhos preso dentro de sua fértil imaginação. Seu olhar era intenso e sentado aos fundos da casa com seu corpo beijando o chão amadeirado ele ficara, olhando assim todo o céu acima de si e apenas sentindo os pêlos de seus braços se arrepiarem com o vento que se fazia.

A cada segundo que se passava do lado de fora era como se o mesmo fugisse cada vez mais para longe, tentando de alguma maneira desesperada abandonar tudo àquilo, já não conseguia decifrar mais nada em sua vida.

Enquanto seus olhos vagavam entre as estrelas que lindamente habitavam o céu naquele momento, sua mente aos poucos ia se desprendendo de seu corpo, tentando assim fugir de tudo e de todos, até que por sentir um toque vindo na sua direção, despertou daquele sonho no qual viajava acordado.

— Achei que era a única que não estava conseguindo dormir. — A voz de Camile entrou em seus ouvidos, vindo por trás e logo sentando ao seu lado, no mesmo chão amadeirado.

— Eu que ficaria surpreso se você fosse a única. — Respondeu, olhando-a no fundo de seus olhos negros tão penetrantes. — O que está tirando seu sono essa noite?

— Por onde eu começo? — Sorriu ao dizer tais coisas. — Acho que nós dois sabemos que seria mais fácil perguntar o que não está tirando nosso sono nessa noite, não é verdade?

— É, acho que você tem razão. — Disse, olhando outra vez para o céu estrelado. — Eu me sinto perdido, achei que com o passar dos anos e depois de tudo que já vivi eu iria mudar, mas não, lá no fundo ainda me sinto perdido, é como se eu estivesse revivendo todo meu passado outra vez, esta acontecendo de novo, esses segredos, essas mentiras, tudo isso, já estou cansado.

Fizera um breve desabafo, deixando esvair de sua boca tudo que sentia tão amargamente perdurar no seu peito, e de uma só vez disse tudo que queria falar.

— Eu te entendo. — O respondeu. — É sério, eu te entendo. Também já estou cansada de tudo isso, quando Anne e eu fugimos naquela noite, pensei que logo tudo voltaria ao normal, que o bem venceria o mal, mas depois de cinco anos fugindo, olha só onde eu estou? Numa varanda, com você outra vez. Isso não parece familiar?

— Você está congelando, sabe disso não é? — Notando que a mesma não conseguia parar de bater seus dentes questionou. — Espera um pouco.

O mesmo levantou e saiu de onde estava, indo em direção para dentro da casa, seus passos largos logo chegaram na sala e pegando um cobertor de fios grossos e uma estampa com letras de músicas antigas ele voltara para a varanda ao fundo.

— Pronto, se cobre com isso. Deve te ajudar a aquecer.

— Achei que você iria ligar o aquecedor da varanda. — Retrucou enquanto ainda se cobria por inteira.

— As vezes eu me esqueço que existem tantas opções nessa casa, mas se você acha melhor, eu ligo. — Disse, já fazendo o movimento para se levantar outra vez.

— Não, não, o cobertor está ótimo, já nem sinto mais frio. — Brincou, apontando seu dedo para a boca e mostrando que a mesma já não batia os dentes. — E além do mais, eu gosto de algumas coisas do passado, de métodos antigo.

Alianças De Sangue 2 - TranscendênciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora