Ele me empurrou e foi para o lado, cruzando os braços e fazendo cara feia. Aquilo me fez rir. Era tão bom irritá-lo.

Depois de aproximadamente quinze minutos, chegamos à minúscula avenida em que estava a praça com as árvores sem folhas e o mercadinho em que eu havia conhecido Dona Emy.

Fui até o centro da praça e parei ali, varrendo o local com o olhar a procura de uma casinha de tijolos.

Dona Emy parecia ser aquele tipo de senhora que entope os netos de doces, cultiva cenouras e faz crochê, aparentemente eu me daria bem com ela.

– Qual era o número mesmo? – Murmurei para mim mesma, estreitando os olhos para enxergar melhor. Estava ficando míope, sem dúvida alguma. – Era... 1852...

– 1882 – disse uma voz atrás de mim, assustando-me levemente. Eu disse levemente.

Virei para trás, encontrando belos olhos verdes escondidos sob um par de lentes de óculos de grau, o que o deixava ainda mais bonito e fofo. Era Henri, o neto de Emy. Sorri para ele e quis sumir quando lembrei do sonho que tivera.

Eu sempre tinha sonhos desse tipo, mas eu havia acabado de conhecê-lo e, sinceramente, que porcaria de sonho havia sido aquele? Asas de borboleta? É sério isso, Lis?

– Oi Marie Ann – ele disse com um sorriso simpático e murmurei um "oi" extremamente sem graça.

Senti minhas bochechas corando e desejei a todo instante que ele não pudesse ler mentes como a minha mãe. Sim, de fato era engraçado, mas talvez ele pensasse que eu era uma louca que fugiu do hospício se soubesse o que se passava pela minha mente.

– Minha avó não parou de falar de você, estava muito ansiosa para te receber em casa – disse alegremente, de certa forma o modo como ele falava fazia eu me sentir menos tímida e me dava menos vontade de sumir. – Ela me fez te esperar na frente de casa desde as dez da manhã, até que começou a gritar sobre eu ter que comprar algo para o almoço, então fui ao mercado e te encontrei aqui quando estava saindo.

Assenti, só então reparando que ele estava cheio de sacolas descartáveis penduradas nos braços, aparentemente o que sua avó havia pedido para ele comprar.

Henri começou a andar à minha frente, pedindo para eu segui-lo. Puxei Eliel pela mão e comecei a andar ao seu lado.

– Então, quantos anos você tem Marie Ann? Faz tempo que se mudou para cá? – Perguntou e dei um sorriso tímido, retorcendo os dedos das mãos.

– Quinze e, na verdade, meu nome é Marliss mas é um nome horrível e sem noção então me chame de Lis – respondi e passei os dedos por entre os cabelos. Eu olhava em todas as direções possíveis, menos em seus olhos. Apesar de serem lindos, tenho que admitir. – E não, moro aqui há somente três dias.

– Ah... Bem, me desculpe por te chamar de Marie Ann, é que a minha avó...

– Não, tudo bem, eu não me importo – eu disse dando uma risadinha e levantando o rosto para encará-lo pela primeira vez no dia.

– É aqui - ele disse parando de repente em frente à uma casinha com muro baixo, o portão pequeno de ferro pintado de branco e tijolinhos laranja compondo a fachada.

No quintal, haviam brinquedos de cachorro espalhados pelo chão e um pequeno jardim no canto, de onde saiam enormes roseiras com suas flores parecendo um pouco acabadas, provavelmente por conta de insetos.

Era uma casa tão bonitinha e tão simples, como a maioria das casas daquela cidade. Talvez por isso eu não tivesse reparado nela antes.

Um cachorro grande com pelos fofos e dourados veio correndo de dentro da casa, latindo e abanando o rabo para Henri. Recuei alguns passos, me segurando para não soltar gritinhos ou grunhidos estranhos.

A Casa de BonecasKde žijí příběhy. Začni objevovat