Capítulo 20 - A complicação da confiança

Start from the beginning
                                    

— Tudo bem, só estava tentando ajudar.

— Nós sabemos, mas é que é realmente complicado. — Camile disse, com uma voz visivelmente embargada em emoções.

— Tudo bem, eu já entendi. Não vou mais tentar ser cupido, mas ainda tenho uma pergunta. — Wanda falou, olhando diretamente na direção de Elise. — Como foi que vocês encontraram ela? Jamais imaginei que iria encontrar minha ex na casa do meu irmão.

— Essa é uma longa história. — Ele respondeu rápido, antes que Elise falasse algo indevido.

— E quando foi que você teve curtas histórias, Adryan? — Retrucou.

— Wanda. — Respirou fundo, fazendo uma pausa em sua voz por alguns segundos, como alguém que está criando coragem para falar alguma coisa. —  Acho que está na hora de você saber a verdade.

— E qual seria essa verdade? — Perguntou confusa, olhando naquele instante para os três que ficaram em silêncio a lhe encarar.

— Primeiro você vai ter que entender que nada é realmente o que parece ser. — Adryan disse, iniciando sua história, era sua única chance de falar tudo que sabia e descobrir o que estava acontecendo de fato com Wanda, já que havia visto a mesma presa no setor trabalhista.

E assim como noutros tempos o dono dos olhos castanhos fôra tomado por um déjà vu, sentiu algo queimar o seu peito por inteiro e notou que em sua cabeça as memórias lhe levaram para um passado já tão distante, no qual lembrou da primeira vez em que se viu obrigado a contar uma história para sua pequena irmã, a história de Vênus e Júpiter.

Enquanto Adryan começava a falar tudo que sabia dentro daquela casa, o sol do lado de fora fazia seus raios iluminarem todo o céu daquela cidade, Bellmon era mesmo linda e com seus arranhas-céus gigantescos havia se tornado uma grande metrópole do mundo, o barulho da cidade era intenso e as milhares de vozes que ecoavam pelo céu acima era ensurdecedor, todavia não muito longe dali existia uma cidade, era Hilik, uma cidade pequena e pacata, tão calma quanto a floresta que lhe cercava, e ainda mais calma do que o abrigo que existia naquele lugar, era naquela pequena cidade a poucas horas de Bellmon que Lívia e todos seus planos se concentravam, e era ali que Anne ainda estava.


•••••


— Essa é a mulher, filha. Ela enfim acordou, talvez possa nos ajudar.

— Como você está se sentindo? — Falou tímida, ainda observando a tal mulher deitada numa maca, se recuperando aos poucos de todas suas fraquezas. — Meu nome é Anne Pasquin, e essa é minha mãe Lívia.

— Eu sei quem você é, Anne. Sei o que fez, e por isso vou responder a qualquer pergunta sua, mas sobre sua mãe eu nada sei, então não posso dizer nada, sinto muito. — Se esforçou para concluir tudo que precisava dizer, e então uma forte tosse se alojou em sua garganta.

— Tudo bem, eu já entendi. — Lívia disse, ao notar como a ruiva tinha olhado na sua direção, e assim ela saiu daquele quarto, deixando para trás as duas a conversarem a sós.

— Como você me conhece?

— Qualquer um dentro do setor trabalhista sabe de sua história, sua e do Adryan.

— Então você veio de lá?

— Sim, todos que trabalham naquele setor sabem de tudo que aconteceu. Infelizmente eles tiraram nossas memórias e por muitos anos colocaram a idéia de que não existe nada além daqueles muros, mas sempre tem um ou outro que resiste aos efeitos.

— Tome, beba um pouco. — Anne lhe oferecendo um copo de água fôra segurada pelo punho, a voz daquela estranha mulher saíra ainda mais baixa do que antes, e com esforço ela disse.

— Não confie nela... Não confie em Wanda!

A rouquidão se fazia presente na sua voz, e seu tom baixo dava o claro sinal do esforço que ela fizera para dizer tais coisas, no entanto o que mais era visível em suas palavras era o medo que elas continham.

— Do que você está falando? — A voz de Anne saíra confusa e a mesma não entendia aquela frase, nada lhe fazia sentido, e então um apito sonoro tirou sua concentração, o sinal vital da desconhecida mulher começava a ir embora.

Logo duas enfermeiras entraram as pressas dentro do quarto, a ruiva se afastando para perto da porta ainda via nos olhos daquela estranha um certo pavor, algo em suas palavras eram de puro medo.

A porta ainda fechava em sua frente quando ao longe escutou uma das enfermeiras dizer — Afastem-se! — Era a tentativa de reanimar o coração que começava a parar, o agito dentro daquele quarto fôra intenso, os esforços para salvar alguém que acabava de despertar para realidade uma outra vez durou alguns poucos minutos, até que por fim o último suspiro se deu, a mulher desconhecida havia ido embora.

Com mais perguntas do que respostas, Anne saiu daquele quarto, cambaleante entre as pernas não conseguia ficar de pé por si só, e encostando seu corpo na parede lisa daquele corredor ela se jogou, todavia as últimas palavras daquela mulher ainda replicavam várias vezes em sua mente.
Outra vez, nada fazia o menor dos sentidos.

Alianças De Sangue 2 - TranscendênciaWhere stories live. Discover now