40. Saudades - Emily

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O semestre se arrastou. Durante algumas tardes eu conversava com Giovanni. Sentia-me feliz quando nos falávamos, apesar de me magoar toda vez que ele comentava bem de seu doutorado. Minha esperança infantil de que ele desistisse e voltasse para mim se desmantelou após duas semanas.

Eu estava sozinha e desamparada, meu coração reclamava vinte e quatro horas por dia. Sentia muita falta de seus abraços, seus beijos, seu corpo e a segurança que me confortava ao estar ao seu lado.

A faculdade teria se tornado insuportável se não houvesse as brincadeiras de Rodrigo e a empolgação de Alice. Eu evitava o máximo que podia o nosso jardim, fazia voltas homéricas por dentro dos outros prédios.

Durante as noites, eu suava de ciúmes ao imaginar o que ele poderia estar fazendo, ou se ele poderia se apaixonar por outra e me esquecer. Afinal, havíamos combinado que namoro à distância não era realmente positivo e acertamos que quando ele voltasse conversaríamos e resolveríamos o que faríamos. Eu havia preferido assim, mas já começava a acreditar que havia sido uma estupidez de minha parte.

A situação possibilitou que eu me aproximasse mais de Alice, já que Rodrigo e Gustavo iniciaram um romance, e Drigo praticamente se mudou para o meu apartamento. O primeiro beijo ocorreu na noite em que Giovanni me contou de sua partida, mas só me colocaram a par do ocorrido uma semana depois, uma vez que eu estava inteiramente atenta à partida de meu namorado.

Gustavo se encontrava confuso por ainda pairar em sua mente o fantasma de que fazia algo vergonhoso. Então os dois só se encontravam em lugares muito reservados e no meu apartamento, que agora era dele também. Rodrigo por outro lado se demonstrava plenamente à vontade e só não agarrava Gustavo na faculdade porque este não deixava. Alegrava-me por eles, pois apesar da angústia, Gustavo também estava radiante com seu primeiro amor.

Alice era uma menina agradável de ter como companhia, ela era de fácil distração e se divertia com pequenas coisas animando quem estivesse ao lado. Ela me carregava para mais festas do que realmente eu desejava ir.

Eu aceitava seus convites, afinal quanto mais ocupada eu me mantivesse menos eu me lamentava por não ter mais Giovanni ao meu lado.

Também vi Nina umas seis vezes durante o semestre, pois ela me ligava para nos encontrarmos e eu curtia sua companhia. Estava sendo tão difícil para ela como era para eu ficar longe de seu pai.

****

Ao final do semestre, quando saí de uma loja no shopping avistei Nina e Rebeca. Desejei sair sem ser vista. Não tinha nenhum problema com Nina, contudo não me sentia à vontade com Rebeca.

Nina me avistou e veio correndo. Rebeca retorceu a boca em desaprovação e seguiu-a. A menina me abraçou alegremente e eu retribuí.

— Oi, Eli. — Rebeca cumprimentou com cara de limão azedo.

— Emily! É Emily, mãe. — Nina corrigiu a mãe e a mulher incomodada repetiu meu nome.

Cumprimentei-a com a cabeça, tentando ser o mais amigável possível. Mas só pensava em desaparecer. Ela me olhou e sorriu maliciosamente.

— É uma pena que não tenha dado certo. Mas apesar de Giovanni ser completamente imaturo, era de se esperar que ele cansasse de brincar de ser adolescente. — ela me encarou com maldade. Eu engoli a raiva. — Finalmente ele cresceu e foi fazer o tal doutorado.

Tive vontade de socá-la até que todos os seus dentes caíssem. Percebi meu rosto avermelhar em ira, eu ia respondê-la. Nina se voltou para mim sorridente: queria saber se podia ir para meu apartamento. Eu estava muito transtornada e prometi que a levaria em outro dia e saí com passos rápidos, enquanto Rebeca mantinha um sorriso maldoso estampado no rosto.

Eu sabia que Rebeca havia falado com a intenção de me chatear e que eu não deveria me importar. Talvez não me incomodasse se fosse no passado, contudo no momento eu estava repleta de angústias por Giovanni estar distante. Ainda mais quando, por uma razão que eu desconhecia, ele passou uma semana inteira sem se conectar no computador.

As palavras maldosas de Rebeca entraram no meu coração e o envenenaram. E se ele houvesse comentado alguma coisa com ela? Afinal ele ligava a cada dois dias para falar com a filha. Talvez ela estivesse atualizada sobre os verdadeiros sentimentos de Giovanni sobre mim e por isso parecia tão feliz. Quem sabe haviam combinado de retomarem o casamento? Fiquei desesperada e passei o dia sem conseguir me aquietar.

Gustavo e Rodrigo haviam chegado em casa tarde e retiraram-se para o quarto, eu me mantive colada no computador à espera de Giovanni, só desejava que ele entrasse online para conversarmos e que tudo voltasse ao normal entre nós.

Desequilibrei-me da cadeira e quase derrubei Lucky ao chão quando vi o nome de Giovanni piscar verde em meus contatos.

— Giovanni! Tem algo errado? — apressei-me em pedir explicações. Ele me mirou o olhar desviado. — Você sumiu por uma semana. Se não sente mais nada por mim e não quer mais conversar diga logo! Não me faça perder tempo. — soltei com raiva.

— Claro que ainda te amo! — ele se ajeitou na cadeira. Sua fala devia me tranquilizar, contudo eu só conseguia pensar naqueles diálogos de rompimentos de filmes e romances: "Ainda de amo, mas é melhor não nos falarmos mais." Meu coração quase sufocou. Senti meus olhos umedecerem, em espera do resto de sua fala. — Tenho uma surpresa.

— Surpresa? — confusa ergui as sobrancelhas e puxei o ar com força. — Positiva, eu espero.

— Eu sei que você só vem para Inglaterra nas férias de verão para visitar seu pai, — ele sorriu animado e mostrou um recibo. De repente eu sorri largo e abandonei todas as minhas suspeitas. — mas não aguento mais de saudade e comprei uma passagem para você e outra para Nina. — Giovanni atropelava as palavras por sua empolgação. — Espero vocês no sábado, para passar a semana toda. Vou te mandar por e-mail a hora do voo. — ele pareceu pensativo. — Não se importa de vir junto com Nina, importa-se?

— Claro que não. — ri mais apaixonada do que antes já previa como nossa semana seria ainda melhor do que o nosso segundo curso de mergulho.

— Estou com muitas saudades. — ele disse meigo ao me assoprar um beijo.

— Eu também. — confirmei já com as bochechas doloridas por tamanho era o sorriso contente estampado em meu rosto.

Giovanni ainda me amava e me queria ao seu lado, Rebeca estava errada. Eu sabia que seríamos felizes, pois desta vez eu não cometeria o mesmo erro do semestre passado em deixá-lo se afastar.

Jovem AmorWhere stories live. Discover now