16. Segredos - Emily

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No primeiro dia de retorno as aulas, o calor do verão já começara a amainar e uma gostosa brisa se intensificava. Soube que não teria aula com Giovanni neste semestre assim que recebi a grade curricular, todavia haveria de encontrá-lo em algum momento no campus. E eu estava ansiosa por isso.

Tentei esquecê-lo, mas quanto mais eu tentava mais eu pensava nele. Eu começava a aceitar que nossa relação não passaria de algo platônico, mesmo assim eu preferia ficar perto dele ao invés de longe. Queria ao menos a chance de revê-lo e quem sabe recomeçar nossas leituras no Jardim.

Fiquei na porta da sala à sua procura sem obter sucesso. Alice chegou animada, ao abraçar-me sussurrou ao meu ouvido.

— O Rodrigo já chegou?

Neguei ao balançar a cabeça. Ela arregalou os olhos e me puxou para uma cadeira ao fundo da sala. Tentei sentar de modo a continuar olhando ao longe o corredor, no entanto não foi possível. Impacientei-me ao encará-la, ela aproximou-se para poder segredar.

— Eu e Rodrigo passamos um longo tempo na praia e fomos a festas juntos. — ela calou ao tomar ar e com olhos rápidos mirou ao redor melindrada certificando-se que mais nenhum colega nos ouvia. Alice segurou minha mão com força e encarou-me novamente. — O Rodrigo...

De repente senti-me uma péssima colega. Não ligara nenhuma vez, nas férias, para demonstrar meu interesse em sua amizade. Ajeitei-me na cadeira ao forçar o meu cérebro a focar a atenção em Alice.

— Vocês ficaram? Estão namorando? — era isso seu segredo?

— Não! — sua resposta foi abafada. Olhei-a confusa, esperava que não tivessem brigado, pois seria ruim ter nosso pequeno grupo de amigos rachado. — Eu encontrei-o num canto escondido na festa ficando com um ca-ra!

Era evidente a expressão de espanto que ela fizera ao pronunciar vagarosamente a palavra. Por um tempo analisei a feição de Alice tentava adivinhar o que ela pensava sobre isso.

— Emily! Você entendeu o que eu disse? — Alice elevou a voz, como se tentasse me tirar de uma espécie de torpor. E voltou a cochichar — O Rodrigo gosta de garotos.

— Eu já desconfiava. — comentei tranquila, afinal Rodrigo parecia bastante encantado em Pedro toda a vez que ele se aproximava de nós na pesquisa. Então a olhei com atenção. — Isso é um problema?

— Não, mas achei que você não soubesse. — ela me olhou com desapontamento, frustrada por sua novidade não ser tão novidade assim para mim. — Não sei como você já sabia. Eu não tinha percebido nada, ele não dava sinais: não fala se desmanchando e não parece afeminado. Não me perecia um gay.

Sorri compreensiva. Alice ficava engraçada quando confusa: gesticulava com as mãos e arregalava os olhos como se isso a ajudasse a compreender melhor.

Sempre achei estranho o fato das pessoas criarem um estereótipo de que o homossexual deve agir de maneira feminina. Ela não aparentava ser preconceituosa, mas sim confusa ao descobrir um segredo. Ela fitou-me desanimada quando percebeu meu desinteresse no assunto.

— Só quis me antecipar, pois conversei com o Rodrigo e ele disse que ia te contar, fiquei com medo que não reagisse muito bem.

Sua pré-concepção de que eu fosse homofóbica magoou-me, pois mostrava como ela não me conhecia em nada. Mas acho que a culpa era minha, pois não dei abertura em nossa amizade para que ela soubesse quem sou verdadeiramente.

Rodrigo chegou quando a aula já começara e sentou-se as nossas costas nos cumprimentando ao longe. Era evidente a insegurança estampada em seu meio-sorriso. Eu tinha uma ideia de como ele sentia-se ao ter seu segredo descoberto e isso fez com que eu desejasse resolver o não dito o mais rápido possível.

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